Cabral perdeu quase metade da propina paga por Eike
Ações que valiam US$ 11,8 milhões desvalorizaram 80% em quatro anos, segundo delatores
Juliana Castro - O Globo
Empresário Eike Batista e o ex-governador Sérgio Cabra, presos pela Operação Eficiência - Rio, 27/03/2012, - Marcos Ramos / Agência Globo
O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) perdeu quase metade da
propina de US$ 16,5 milhões paga pelo empresário Eike Batista. Os irmãos
Marcelo e Renato Chebar fizeram acordo de delação premiada,
destrinchando a ocultação de recursos da organização no exterior, e
contaram à força-tarefa da Lava-Jato no Rio que, do total acertado entre
Eike e Cabral, US$ 11,8 milhões foram usados para adquirir ações da
Petrobras, Vale e Ambev, nos Estados Unidos, em setembro de 2011. Mas,
exatamente quatro anos depois, quando foram vendidas, as ações já
estavam desvalorizadas em cerca de 80%. Com isso, Cabral resgatou US$
4,3 milhões, amargando um prejuízo de US$ 7,5 milhões (aproximadamente
R$ 23 milhões, na cotação atual).
Foram
os irmãos Chebar quem procuraram o Ministério Público Federal (MPF)
para contar sobre a ocultação de recursos da organização no exterior.
Eles disseram que US$ 4,7 milhões da propina foram creditados em
dinheiro e o restante foi usado para a compra das ações. Hoje, esses
recursos já foram repatriados e estão à disposição da Justiça.
Os delatores disseram que, para realizar a transação da
propina, Cabral ordenou a criação de uma offshore que veio a ser
batizada de Arcadia Associados. Foi na conta dessa empresa que a parte
da propina paga em dinheiro foi parar, vinda da Golden Rock Foundation,
uma conta de Eike no Panamá. Foi também a offshore quem assinou o
contrato fictício de “aconselhamento e assistência” com uma holding de
Eike Batista para a possível aquisição de uma mina de ouro. Esse falso
negócio de consultoria foi usado para justificar o recebimento do
dinheiro pela offshore, segundo contaram os irmãos aos procuradores.
Ainda não está claro para os investigadores o motivo de
Cabral para resolver se desfazer das ações mesmo com a forte queda que
representou prejuízo. No entanto, suspeita-se que a venda tenha sido
motivada por uma operação da força-tarefa da Lava-Jato, em Curitiba, em
2015, quando extratos bancários que poderiam revelar a transação entre a
conta de Eike e a da offshore dos doleiros foram encontrados em um
imóvel vinculado ao empresário. Os doleiros contaram que isso alertou o
ex-governador.
Cabral, Eike e outras sete pessoas viraram réus em processo
que corre na 7ª Vara Federal por corrupção e lavagem de dinheiro. Os
fatos apresentados na denúncia resultaram da Operação Eficiência,
deflagrada em janeiro, na qual foi preso Eike Batista, que está em Bangu
9. Cabral foi preso na Operação Calicute, em novembro do ano passado, e
está em Bangu 8 porque tem ensino superior. Os irmãos Chebar também são
réus e respondem por lavagem e evasão de divisas, por manterem recursos
não declarados no exterior.
PROPINA POR EMPREENDIMENTOS
De
acordo com o MPF, o pagamento das propinas teria ocorrido em função dos
interesses de Eike em empreendimentos no estado do Rio sobre os quais
Cabral, como governador, possuía grande influência e poder decisório. Em
e-mail direcionado a Cabral, em julho de 2009, Paulo Fernando Magalhães
Pinto, apontado como laranja do peemedebista, afirma que Eike vê o
ex-governador como “verdadeiro amigo.”
Os procuradores apontam a concessão do estádio do Maracanã, a
construção do superporto do Açu, em São João da Barra, e do porto
Sudeste, em Itaguaí, como projetos de interesse das empresas do Grupo X.
Segundo a denúncia, Cabral solicitou e aceitou vantagem indevida para
exercer o seu cargo com especial atenção para os interesses privados de
Eike Batista. Em depoimento, o empresário permaneceu calado e não
admitiu o pagamento de propina ao ex-governador.
Além do pagamento no exterior, as investigações apontam que o
escritório da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo foi usado para o
recebimento de propina de R$ 1 milhão em 2013. Para isso, foi feita a
simulação da prestação de serviços advocatícios à empresa EBX, de acordo
com os procuradores. Durante a deflagração da Operação Calicute, os
policiais federais fizeram buscas no escritório de Adriana e não foi
encontrado nenhum documento que pudesse indicar uma prestação de
serviços à EBX.
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