O produto foi declarado pela ONU como uma arma de destruição em massa
VEJA
Autoridades da Malásia afirmaram nesta sexta-feira que uma arma química, chamada agente VX, foi utilizada no assassinado de Kim Jong-nam, meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un. A presença da substância, um produto altamente tóxico, e considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma arma de destruição em massa, foi detectada nos olhos e no rosto de Kim Jong-nam, que morreu ao ser atacado por duas mulheres no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, em 13 de fevereiro.
A substância é um neurotóxico, ou
seja, age diretamente no sistema nervoso, e fez parte do arsenal
militar de diversos países por décadas, até que foi banida pela Convenção Internacional de Armas Químicas
da ONU, em 1993. Depois disso, a maioria dos países destruiu seus
estoques do produto, incluindo os Estados Unidos. Confira mais detalhes
sobre a substância que levou Kim Jong-nam à morte:
O que é um agente nervoso?
São substâncias que agem diretamente no sistema nervoso, paralisando os músculos. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês)
dos Estados Unidos, de todas as armas de guerra conhecidas, o agente
nervoso VX é o mais tóxico e o que atua de maneira mais rápida no
organismo – uma gota do produto na pele pode provocar sudorese e
contrações musculares no local quase imediatamente. Desenvolvido no
Reino Unido na década de 1950, é um óleo com cor de âmbar, sem cheiro e
sem gosto, que evapora lentamente e não é encontrado na natureza.
Como ocorre a exposição?
A contaminação pode ocorrer tanto por
contato com a pele ou com os olhos, sendo inalado ou ingerido. O produto
pode ser lançado no ar ou na água, já que a maioria dos agentes
nervosos não se mistura facilmente à água, explica o portal da CDC.
Também é possível contaminar alimentos com a substância, ou aquecê-la a
temperaturas elevadas e transformá-la em gás. Além disso, o VX tem
efeito cumulativo no corpo, o que significa que pequenas exposições
podem, a longo prazo, resultar em impactos maiores para o organismo.
Como o agente tem evaporação lenta, pode
permanecer por dias em um objeto com o qual entrou em contato. Em
condições mais específicas, com temperaturas muito baixas, pode durar
até meses. Por isso, a CDC afirma que ele deve ser considerado uma
ameaça a longo prazo.
O que acontece durante a contaminação?
As moléculas presentes no agente VX
bloqueiam uma enzima responsável por permitir que glândulas e músculos
relaxem, fazendo com que sejam constantemente estimulados e, no caso dos
músculos, que se contraiam de maneira descontrolada. Às vezes, o efeito
é tão forte que a vítima não consegue respirar.
Segundo o CDC, a exposição a doses
pequenas ou moderadas do produto pode provocar visão borrada, pupilas
reduzidas, sufocamento, confusão, dor nos olhos e na cabeça, vômitos,
entre outros. Doses maiores do agente podem levar a convulsões, perda de
consciência, paralisia, parada respiratória e morte.
Quando expostas a doses mais baixas de
VX, normalmente as pessoas conseguem se recuperar completamente – em
casos de exposição intensa, no entanto, é pouco provável que a vítima
sobreviva, de acordo com o CDC.
Existem antídotos?
Segundo um documento divulgado pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, injeções de atropina – uma substância alcalina encontrada na planta Atropa belladonna
e outras de sua família – podem barrar os efeitos tóxicos do agente VX
no organismo, se administradas rapidamente. Esse antídoto impede que as
moléculas do produto atuem sobre as enzimas, permitindo que as células
do organismo funcionem normalmente. Além das injeções,
anticonvulsivantes também podem ser administrados. No entanto, como o VX
tem uma ação muito rápida no organismo, na maioria dos casos não é
possível aplicar as medicações necessárias a tempo.
Já foi utilizado anteriormente?
Os militares projetaram o agente para ser
espalhado em uma grande área, utilizando aviões ou bombas, com o
objetivo de matar as forças inimigas e fazer com que elas não pudessem
avançar em segurança por aquela área. No entanto, não há evidências
concretas de que esse produto tenha sido utilizado em combate.
Em 1995, membros do culto Aum Shinrikyo – “Verdade Suprema”, em português – realizaram um ataque liberando um agente nervoso, provavelmente sarin, no metrô de Tóquio,
no Japão. Dezenas de pessoas ficaram feridas e doze foram mortas
durante o episódio. Os autores do ataque também são suspeitos de aplicar
uma forma caseira de agente VX em ao menos outras três pessoas, sendo
que uma delas, que eles acreditavam ser um informante da polícia, morreu
após entrar em contato com o produto.
Apenas os Estados Unidos e a Rússia
admitiram ter armazenado VX anteriormente, embora outros países, sejam
suspeitos de possuir estoques. Em 2013, a Síria foi acusada por
autoridades francesas de utilizar a arma química contra civis durante a
guerra no país.
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