Câmara barra denúncia de corrupção contra Temer na Câmara
DANIEL CARVALHO, ANGELA BOLDRINI, RANIER BRAGON, MARINA DIAS, LAÍS ALEGRETTI, BRUNO BOGHOSSIAN, JOSÉ MARQUES, TALITA FERNANDES - FSP
A Câmara dos Deputados barrou nesta quarta-feira (2) a denúncia em que a
Procuradoria-Geral da República acusa o presidente Michel Temer de ter
cometido crime de corrupção.
Votaram com Temer 263 deputados, que foram contrários à autorização para
o Supremo Tribunal Federal analisar o caso. Outros 227 foram favoráveis
ao aval a essa acusação do Ministério Público, que tem como base a
delação de executivos da JBS. Estiveram ausentes 19 deputados (na
prática, votando com o presidente), e houve duas abstenções.
Temer nega todas as acusações e diz que a peça assinada por Rodrigo
Janot é uma "ficção" baseada em um ato criminoso patrocinado por um
"cafajeste" e "bandido" –em referência à gravação feita por Joesley
Batista, da JBS, de uma conversa que o empresário teve com o presidente
no porão do Palácio do Jaburu. Com a decisão da Câmara, a denúncia fica
congelada até o fim do mandato de Temer, em dezembro do ano que vem.
Após o fim da votação, Temer fez um pronunciamento em que apelou pela conciliação nacional
e disse que a decisão de barrar denúncia contra ele por corrupção
passiva é "uma conquista do estado de direito". "O nosso destino
inexorável é ser uma grande nação. É preciso acabar com os muros que nos
separam e nos tornam menores", disse.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
Com um dos menores índices de popularidade da história, na casa dos 7%,
Temer é o primeiro presidente da história do país denunciado no
exercício do cargo.
Desde que ficou com o mandato sob risco, ele promoveu uma série de ações com o intuito de angariar votos na Câmara, principalmente de partidos do chamado "centrão", grupo de legenda médias e grandes, como PP, PR e PTB, que reúne cerca de 200 deputados.
Ele recebeu individualmente
mais de uma centena de deputados –só nesta terça (1º) se encontrou com
ao menos 35, incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP),
almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados
100 integrantes do baixo clero.
Vários pleitos foram atendidos, como cargos na máquina federal e
dinheiro para as emendas que os parlamentares fazem ao Orçamento. Nesta
quarta, por exemplo, o deputado Carlos Gaguim (Podemos-TO) foi à tribuna
conclamar os ministros de Temer –vários deles no plenário da Câmara– a
continuar a liberar verbas para as emendas.
O ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), que reassumiu o
mandato de deputado para a votação desta quarta, conferia a todo momento
com o deputado Beto Mansur (PRB-SP), no meio do plenário, lista com
liberação de emendas aos deputados. Blairo Maggi (Agricultura) despachou
de uma das cadeiras do plenário, com auxílio de assessores da pasta.
Deputados chegaram a entregar aos ministros listas por escrito com seus
pleitos na administração federal.
Até o fim da tarde de terça, véspera da sessão, aliados de Temer
perceberam um clima de insatisfação entre deputados, principalmente do
PP e do PR, que reclamavam de ter apenas a promessa do Planalto sobre a
liberação de emendas. O cumprimento, porém, diziam eles, ainda não
estava garantido.
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