Começou o embate pela nova diplomacia do Brasil na Ásia
Matias Spektor - FSP
Os embaixadores brasileiros em Nova Déli, Pequim e Tóquio assinaram um
papel conjunto sobre a necessidade de o Brasil elaborar uma política
integrada para a Ásia.
Motivos não faltam. Além de ser a região mais dinâmica do planeta, ela
se transformou no centro de gravidade de nossa dependência: sozinha, a
China compra um quarto de nossas exportações e possui conosco um fluxo
comercial superior ao que temos com todo o Mercosul. Seu investimento em
setores estratégicos, como o de energia, e seu domínio sobre aquisições
e fusões são a nova regra da economia brasileira.
Cingapura já virou o hub central para a fatia do setor privado
brasileiro que vive de trocas internacionais naquela parte do planeta, e
as dificuldades enfrentadas pelo capital japonês em obras afetadas pela
Lava Jato abrem um capítulo difícil sobre segurança do investimento no
país. De quebra, qualquer conflito regional na Ásia, hoje, teria impacto
direto (e nefasto) sobre emprego e renda dos brasileiros.
Não à toa, Aloysio Nunes encontrará os chanceleres da Asean (Associação
de Nações do Sudeste Asiático) e, em seguida, fará um périplo por cinco
capitais asiáticas. Caberá a ele decidir se essa milhagem servirá para
estabelecer os parâmetros de uma nova política para a Ásia.
Qualquer iniciativa dessa natureza enfrentará interesses já
estabelecidos. O agronegócio, por exemplo, prioriza acordos com a Ásia
e, só depois, com Europa e as Américas, mas a indústria tem prioridades
inversas. Para avançar, o governo terá de mostrar a ambos os setores que
nada daria mais impulso ao Brasil junto aos asiáticos que êxito junto à
União Europeia.
Além disso, estão os vizinhos do Mercosul. Macri quer um acordo com a
Coreia, país com o qual será muito difícil fazer qualquer progresso
imediato porque é um dos raros casos onde os interesses brasileiros são
quase todos defensivos. A nova política para a Ásia terá de priorizar
uns países em detrimento de outros.
Uma política dessas ainda terá de alinhar ministérios e autarquias de Brasília, esforço gigantesco de resultado incerto.
Para fazer esse projeto decolar, o governo ainda terá de promover o
diálogo com a sociedade brasileira, coisa quase impossível devido à
nossa ignorância sobre o mundo asiático. Não há um único programa
educacional dedicado a treinar jovens brasileiros que queiram trabalhar
naquele ambiente.
Por isso, vozes influentes sugerem postergar o esforço, deixando a
batalha para conceber essa nova política para o próximo governo. Se elas
vencerem o embate, porém, descobriremos, mais uma vez, que empurrar
problemas de política externa com a barriga raramente é uma boa solução.
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