Peneira do Galeão deixa passar mais de mil fuzis e expõe luta perdida
Marco Aurélio Canônico - FSP
Entre 2014 e 2017, uma única quadrilha mandou de Miami para o Rio, em
75 viagens que passaram pelo aeroporto do Galeão, ao menos 1.043 fuzis,
com igual quantidade de carregadores e 297 mil munições.
Exportados ilegalmente, vinham escondidos dentro de aquecedores de
piscina e bombas d'água. Cada fuzil era comprado por valores entre US$
2.500 e US$ 3.500 e revendido aqui a traficantes por até R$ 53 mil. Uma
remessa dessas rendia até R$ 1,5 milhão para os operadores.
Esses dados constam da denúncia que o Ministério Público Federal
apresentou, nesta quarta (2), contra os 16 envolvidos no esquema. Ele só
foi descoberto
porque uma das cargas (60 fuzis, 60 carregadores, 140 munições) foi
interceptada no Galeão em junho passado, após investigação da Polícia
Civil. Todo o resto do armamento entrou sem problemas.
Isso tudo, repita-se, diz respeito a uma única quadrilha, agindo num
aeroporto, apenas nos últimos três anos. É sabido que as armas ilegais
chegam por terra, mar e ar —isso quando não são os próprios policiais ou
militares que abastecem o tráfico, como já foi demonstrado.
Os governos federal e estadual devem considerar essa apreensão uma
vitória na guerra que declararam ao tráfico no Rio. Mas essa luta contra
um negócio bilionário, que envolve milhares de pessoas direta e
indiretamente, é impossível de vencer. Não importa quantos fuzis sejam
apreendidos, quantos criminosos sejam presos ou mortos, sempre haverá
mais.
É verdade que, se esse trabalho de enxugar gelo não fosse feito, "o Rio viraria o Polo Norte", como me disse o coronel Paulo Amêndola,
criador do Bope e atual secretário municipal de Ordem Pública. Mas mais
importante é reconhecer que ele é pouco eficaz a longo prazo.
Precisamos falar sobre legalização.
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