Lava-Jato: Ex-secretário de obras de Paes é preso na operação 'Rio, 40 graus'
Ação da força-tarefa, com 10 mandados de prisão, mira também esquema do PMDB no Rio
Chico Otavio e Daniel Biasetto - O Globo
Depois do Governo Cabral e do TCE-RJ, a Operação Calicute
desembarca na Prefeitura do Rio, e mira pela primeira vez a gestão
Eduardo Paes (PMDB). Autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, a operação
"Rio, 40 Graus" cumpre nesta quinta-feira 10 mandados de prisão, entre
preventivas e temporárias, em Pernambuco e São Paulo. A ação tem como
base as delações de Luciana Salles Parente e Rodolfo Mantuano, ambos
ex-executivos da Carioca Christiani-Nielsen Engenharia. Um dos alvos, o
ex-secretário de obras de Paes Alexandre Pinto, foi preso em casa, em
Jacarepaguá.
Os suspeitos são acusados de receber um total de R$ 35,51 milhões em
propina decorrente das obras de um dos trechos do BRT Transcarioca, que
liga o Aeroporto Galeão à Penha. Além da Carioca, fizeram parte do
consórcio responsável pelas obras as empreiteiras OAS e Contern.
A operação de hoje tem como desdobramentos investigações da Calicute
que levantam suspeitas de que o esquema faz parte da mesma organização
criminosa liderada por políticos do PMDB no estado do Rio, ligados a
Cabral. Outra obra suspeita de desvios é a da despoluição de córregos na
Bacia de Jacarepaguá. Os investigados serão levados para a
Superintendência da Polícia Federal, no centro do Rio.
Fazem parte da lista de presos o ex-secretário municipal de Obras
Alexandre Pinto, que ocupou o cargo de março de 2012 a dezembro de 2016;
a advogada Vanuza Vidal Sampaio, o lobista Laudo Aparecido Ziani, e os
fiscais de obras municipais Eduardo Fagundes, Ricardo Falcão e Azalmir
Araújo. Ziani é casado com a deputado Aline CorrêaM (PP-SP), filha do
também ex-parlamentar Pedro Corrêa, envolvido no mensalão e na
Lava-Jato. Até o momento não há nenhuma prova que implique diretamente
Eduardo Paes.
Alexandre
Pinto é acusado de ter cobrado uma "taxa de oxigênio", termo também
utilizado pelo ex-secretário de Obras de Cabral para definir o pagamento
de propina ao esquema do ex-governador, no valor de 1% do contrato das
obras. Segundo os delatores, os fiscais cobraram 3%, enquanto a advogada
foi denunciada por ter assinado um contrato fictício, no valor de R$ 5
milhões, intermediado pelo lobista Laudo Aparecido, para justificar a
movimentação da propina.
O nome de Pinto aparece na delação premiada de Luciana Salles
Parente, ex-integrante do conselho do consórcio formado pela OAS,
Carioca Engenharia e Contern, homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça (STJ). De acordo com a ex-executiva, o ex-secretário era
beneficiário de 1% do contrato de R$ 500 milhões. O mesmo percentual era
pago, segundo Luciana, a conselheiros do TCM, e outros 3% seriam pagos a
fiscais do Ministério das Cidades. No total, diz Luciana, foram pagos,
R$ 2 milhões em dinheiro vivo.
Luciana afirmou que recursos superfaturados do consórcio na obra da
Transcarioca geraram Caixa 2, a partir do segundo semestre de 2013, de
maneira que as empresas faziam suas contribuições individualmente, e não
mais pelos contratos superfaturados do consórcio, conforme divulgado
pelo jornal "O Dia" e "RJTV, no último mês de abril.
A exigência de pagamento, diz ela em sua delação, foi citada pelo
líder da consttrutora OAS, Antonio Cid Campelo, que mencionou o nome de
uma pessoa do TCM, porém, não se recordava do nome.
A colaboração de Luciana, que também trouxe informações sobre
pagamento de propina aos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do
Rio (TCE-RJ), norteou os investigadores no êxito das operações "Ponto
final" e "Quinto do Ouro", que levou à prisão neste ano a cúpula dos
transportes no Rio e cinco conselheiros do TCE-RJ, respectivamente.
DOAÇÕES AO PMDB DO RIO
A empresa Nielsen
Engenharia foi uma das principais doadoras da campanha eleitoral do
prefeito Eduardo Paes (PMDB) em 2008. Ela doou R$ 300 mil para a
campanha do candidato peemedebista. A doação da empresa correspondeu à
época a 12,5% do total de 2,4 milhões que o prefeito recebeu de
empresas. Além da Nielsen, também contribuíram a Construtora OAS (R$ 350
mil) e a Multiplan Empreendimentos Imobiliários (R$ 300 mil).
A Nielsen Engenharia não fez doações em 2008 apenas para a campanha
eleitoral de Paes. A empresa também colaborou com a campanha do vereador
Luiz Antônio Guaraná (PMDB) com R$ 15 mil. Guaraná foi chefe de
gabinete de Eduardo Paes e também comandou a secretaria de Obras durante
a maior parte da gestão do peemedebista. O levantamento é do vereador
Paulo Pinheiro (Psol), que desconfiou do apoio na época por entender que
a empresa havia sido beneficiada em contratos com a prefeitura com a
dispensa de licitação.
Pinto assumiu a secretaria de obras no lugar de Guaraná, quem o
indicou para o cargo, em 2012, para substituir Pedro Paulo na chefia da
Casa Civil. Pinto deixou o posto no final da gestão de Paes, em 28 de
dezembro de 2016. Ele não é filiado a nenhum partido.
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