Não param as ações contra a Lava-Jato
Depois da escaramuça do projeto contra ‘abuso
de autoridade’, o combate à corrupção enfrenta ameaças na revisão do
Código de Processo Penal
O Globo
Por ter na mira políticos, entre os quais muitos parlamentares com
assento no Congresso, a Lava-Jato se tornou alvo de várias operações de
ataque por meio de projetos de leis e emendas a propostas já em
tramitação. A ação mais recente e de ampla repercussão, com este
objetivo, foi o projeto do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), contra
“abuso de autoridade”. Assunto relevante, diante da exorbitância com que
agentes públicos agem contra o cidadão comum, o projeto, no entanto,
foi usado para criminalizar juízes, procuradores e policiais no
exercício de suas atividades.
O projeto terminou atenuado, mas visava, por exemplo, a permitir que
réu processasse criminalmente o juiz que o condenasse, o procurador que o
acusasse, o policial que o prendesse. A lei não deveria ter vida longa
caso viesse a ser contestada no Supremo. Restou, porém, muito claro qual
o objetivo de parlamentares: desidratar os organismos de Estado que
atuam no enfrentamento da corrupção.
À medida que inquéritos tramitam em Varas federais e processos
envolvendo autoridades com foro especial são abertos no Supremo,
manobras contra a Lava-Jato se ampliam. A delação premiada de Joesley
Batista e irmão, Wesley, do grupo JBS, que implica o presidente Temer
num esquema de corrupção, aumentou a pressão.
No plano administrativo, o procurador Deltan Dallagnol, da Lava-Jato,
reclama de cortes no orçamento da Polícia Federal — subordinada ao
ministro da Justiça Torquato Jardim, próximo a Temer — que afetam o
andamento da operação. Jardim nega.
Mas há uma outra escaramuça em curso no Congresso, agora na revisão
do Código de Processo Penal (CPP), enviada pelo Senado à Câmara. Recente
reportagem de “O Estado de S.Paulo” relaciona intenções de mudanças,
todas defendidas por conhecidos inimigos da Lava-Jato no meio político.
Não por coincidência, tem-se a ideia de dificultar acordos de delação
premiada, com o veto a que pessoas presas possam assiná-los. A proposta
tem o apoio do presidente da comissão especial em que tramita o projeto
do novo CPP, Danilo Forte (PSB-CE), aliado de Temer e crítico do
benefício do perdão judicial oferecido pelo procurador-geral Rodrigo
Janot aos irmãos Batista, em troca das delações.
Forte também defende a atenuação das regras da condução coercitiva —
que passaria a ser executada só em caso de recusa da pessoa a prestar
depoimento. Além disso, concorda com demandas petistas de que a prisão
preventiva tenha prazo. E para completar o pacote de redução de poderes
do Estado na luta contra a corrupção, o CPP poderá estabelecer que pena
só deverá ser cumprida depois do julgamento do último recurso, revendo
entendimento do Supremo de que a sentença pode vigorar na confirmação da
pena em segunda instância. Parece promissora esta nova frente de
contenção do combate à corrupção.
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