Prioridade errada
FSP
Dada a divisão de tarefas administrativas na Federação brasileira,
espalhou-se nos meios políticos a queixa de que os governadores se
converteram em meros gestores da folha de pessoal.
Afinal, cabe aos Estados, prioritariamente, cuidar do ensino básico, da
saúde e da segurança pública. Daí despesas concentradas em salários de
professores, médicos e policiais, afora os numerosos servidores do
Judiciário.
Pouco sobra, nos orçamentos engessados, para obras mais vistosas de
infraestrutura ou qualquer outra iniciativa capaz de distinguir um
mandatário dos demais.
Tal diagnóstico, comum desde a Constituição de 1988, precisa ser
atualizado. Fatias crescentes das receitas destinam-se não mais a
salários —mas sim a aposentadorias.
Conforme noticiou esta Folha, a previdência de servidores já surge como o principal gasto de 16 dos 26 Estados, superando a educação, à qual devem ser destinados 25% da arrecadação de impostos.
Não se trata de escolhas descabidas desta ou daquela gestão, mas de
tendência que, se não alteradas as regras em vigor, produzirá efeitos
generalizados e permanentes.
Funcionários públicos são custosos no Brasil. Na ativa, dispõem de
estabilidade e poder político para obter rendimentos superiores aos do
setor privado. Aposentados, contam com privilégios que, a despeito de
alterações recentes, ainda beneficiam a grande maioria.
Ferozes defensoras de tais prerrogativas, as corporações já deveriam ter
notado que a expansão inexorável do número de inativos estrangulará,
com o tempo, a capacidade de prestação de serviços.
O fenômeno se verifica com nitidez nos Estados e no Distrito Federal.
Estudo do Ipea aponta que, de 2006 a 2015, o quadro de pessoal nessas
unidades da Federação manteve-se estável, oscilando entre 2,6 milhões e
2,7 milhões; já o contingente de inativos elevou-se em 38%, para 1,4
milhão.
Em exemplos dramáticos, como o do Rio, o gasto previdenciário supera o
dobro do educacional, enquanto nem sequer se conseguem pagar os
servidores em dia.
Em tal cenário, os governadores deveriam empenhar-se em mobilização mais
efetiva pela reforma da Previdência, que definha no Congresso. Omissos
ou acovardados, eles parecem conformar-se com a perspectiva de serem
reduzidos a gestores de fundos de pensão.
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