Muitos já se manifestaram a respeito disso, muitos já apontaram o engodo; no entanto, outros tantos insistem em acreditar no contrário e, conquanto convencidos da desgraça que o Partido dos Trabalhadores representou para o Brasil, querem dar uma chance a um mal muito parecido. Constatar isso me persuadiu a somar forças e repetir o mesmo discurso. A ânsia por transformações, associada aos típicos e intensos arroubos de passionalidade e à exploração quase beatífica da ligação com o falecido Eduardo Campos, quase levou uma boa parcela do povo brasileiro a eleger uma falsa messias salvadora, que em pouco ou nada modificaria as matrizes norteadoras da condução da nossa política atual. Hoje, ela volta a ser vista como uma alternativa válida. No desespero por expulsar o péssimo conhecido, alguns podem ingenuamente substituí-lo pelo péssimo menos conhecido, com a afobação de quem, na realidade, tudo desconhece. Estamos falando, naturalmente, de Marina Silva, e de seu novo partido, oficialmente registrado pelo TSE, o Rede Sustentabilidade.
De “nova política”, como seus simpatizantes gostaram de alardear na
eleição passada, a fundadora da Rede, famosa por sua ênfase nas ideias
ambientalistas, nada tem. Ela é um notório exemplo de desertor do PT,
convertido em rival da poderosa legenda da estrela vermelha, mas de quem
a alma petista jamais saiu. Marina é cria da CUT, saiu das abas da
trupe de Genoíno, apoia o MST, apoiou o decreto 8.243 (que criava os
“conselhos populares”) e, em nome de sua verborragia verde, faz jus ao
apelido pejorativo de “melancia”: verde por fora, vermelha por dentro.
Ou nem tão por dentro, tão óbvias são suas inclinações! Não se vêem
grandes diferenças entre petismo e “marinismo” – exceto talvez por um
radicalismo ainda maior do segundo no bombardeio ao agronegócio, setor
fundamental em nossa economia. Há outro detalhe: sua identificação com
parte do eleitorado evangélico, apesar de, em 2010, ela ter ficado em
cima do muro a respeito da descriminalização do aborto, defendendo um
plebiscito para definir a questão – o que rendeu críticas pesadas do
pastor Silas Malafaia. A imagem política de Marina procura unir uma
esquerda bastante intransigente com um falso viés religioso “moralista”,
numa síntese pouco palatável.
Reclamando um “novidadismo” que, a bem da verdade, termina por ser mais velho que minha bisavó, alguns caem no conto do vigário de que é preciso escolher uma terceira opção, para além da polaridade nacional entre PT e PSDB, e Marina seria essa terceira opção. Longe estaremos de identificar nos dois maiores partidos brasileiros algo de muito próximo do ideal para os defensores da liberdade. Muito mais longe ainda, porém, ficamos de ver uma porta de saída na primeira autoproclamada ruptura que apareça sem sustentar em que, afinal, suas ideias trazem ares novos. O fenômeno nos dá oportunidade de rever como a retórica de uma via “inédita, diferente de tudo que aí está, em oposição aos velhos e carcomidos sistemas em disputa” já representou um engodo fabuloso nos tempos modernos por diversas vezes. Esse apelo ao “diferente” é o mesmo do discurso dos socialistas nanicos de partidos como PSTU (cujo candidato, Cyro Garcia, usou o horário eleitoral em 2014 para esbravejar estupidamente contra o Estado de Israel), PSOL ou PCO, que não conseguem justificar minimamente em que aspecto suas repetições de conceitos alienantes do século XIX são “renovadoras”.
Notemos, a propósito, o perfil dos primeiros filiados ao novo partido. A Rede, além da mística de sua fundadora, conta com desertores do PT (Alessandro Molon), do PSOL (Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues, conhecidas figuras do partido de extrema esquerda) e do PCdoB (encontramos, por exemplo, o deputado federal ponta-grossense Aliel Machado). São figuras provenientes de todas as esferas da esquerda, que aceitam a roupagem aparentemente modernizada e novidadeira que a Rede oferece, estejam fugindo do estigma do regime lulopetista, que entendem (provavelmente, e espero que sim, com razão) esteja nos seus estertores e do qual desejam, portanto, se afastar, estejam apenas considerando interessante abandonar seus partidos de origem por questões políticas ou eleitoreiras. A Rede tem tudo para ser um grande guarda-chuva de esquerdismo e atraso, adaptado em linguagem para seduzir as massas incautas.
Quando a esquerda sofre um duro golpe e uma estratégia ou processo de poder se deteriora, os que fogem do barco se esforçam por fazer algo que os desvincule desse desastre e, sobretudo, permita a manutenção da narrativa. “Eles mandaram mal, mas na verdade eles traíram a esquerda.” “A culpa é do neoliberalismo da Dilma e do Joaquim Levy.” “A saída é ir mais para a esquerda.” Marina Silva, como Aécio (e Fernando Henrique, na verdade), foi profundamente atacada por Dilma e pelo PT na campanha eleitoral. Depois daquele confronto cruento, hibernando por meses – como é característico dela, sabe-se lá em qual dimensão ela permaneça durante esse tempo -, Marina não é capaz de endossar um discurso forte de oposição a esse governo e ao modelo por ele adotado, ao espectro ideológico ao qual ele pertence. Ela nem sequer é capaz de endossar o clamor pelo impeachment.
Marina é um filhote do PT, da mesma espécie. Não é uma alternativa aceitável para enfrentá-lo, ao menos para os defensores legítimos da liberdade – ela, sim, a grande “novidade” de que o Brasil precisa. A história já provou que, se a “nova opção” não faz eco aos pilares mais fundamentais da sã política, ela tem potencial para ser pior que o mal de que já se padece. Não troquemos um tiro na cabeça por um tiro no peito; o resultado é sempre a morte. Busquemos alternativas que nos permitam, pelo menos, continuar respirando.
Reclamando um “novidadismo” que, a bem da verdade, termina por ser mais velho que minha bisavó, alguns caem no conto do vigário de que é preciso escolher uma terceira opção, para além da polaridade nacional entre PT e PSDB, e Marina seria essa terceira opção. Longe estaremos de identificar nos dois maiores partidos brasileiros algo de muito próximo do ideal para os defensores da liberdade. Muito mais longe ainda, porém, ficamos de ver uma porta de saída na primeira autoproclamada ruptura que apareça sem sustentar em que, afinal, suas ideias trazem ares novos. O fenômeno nos dá oportunidade de rever como a retórica de uma via “inédita, diferente de tudo que aí está, em oposição aos velhos e carcomidos sistemas em disputa” já representou um engodo fabuloso nos tempos modernos por diversas vezes. Esse apelo ao “diferente” é o mesmo do discurso dos socialistas nanicos de partidos como PSTU (cujo candidato, Cyro Garcia, usou o horário eleitoral em 2014 para esbravejar estupidamente contra o Estado de Israel), PSOL ou PCO, que não conseguem justificar minimamente em que aspecto suas repetições de conceitos alienantes do século XIX são “renovadoras”.
Notemos, a propósito, o perfil dos primeiros filiados ao novo partido. A Rede, além da mística de sua fundadora, conta com desertores do PT (Alessandro Molon), do PSOL (Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues, conhecidas figuras do partido de extrema esquerda) e do PCdoB (encontramos, por exemplo, o deputado federal ponta-grossense Aliel Machado). São figuras provenientes de todas as esferas da esquerda, que aceitam a roupagem aparentemente modernizada e novidadeira que a Rede oferece, estejam fugindo do estigma do regime lulopetista, que entendem (provavelmente, e espero que sim, com razão) esteja nos seus estertores e do qual desejam, portanto, se afastar, estejam apenas considerando interessante abandonar seus partidos de origem por questões políticas ou eleitoreiras. A Rede tem tudo para ser um grande guarda-chuva de esquerdismo e atraso, adaptado em linguagem para seduzir as massas incautas.
Quando a esquerda sofre um duro golpe e uma estratégia ou processo de poder se deteriora, os que fogem do barco se esforçam por fazer algo que os desvincule desse desastre e, sobretudo, permita a manutenção da narrativa. “Eles mandaram mal, mas na verdade eles traíram a esquerda.” “A culpa é do neoliberalismo da Dilma e do Joaquim Levy.” “A saída é ir mais para a esquerda.” Marina Silva, como Aécio (e Fernando Henrique, na verdade), foi profundamente atacada por Dilma e pelo PT na campanha eleitoral. Depois daquele confronto cruento, hibernando por meses – como é característico dela, sabe-se lá em qual dimensão ela permaneça durante esse tempo -, Marina não é capaz de endossar um discurso forte de oposição a esse governo e ao modelo por ele adotado, ao espectro ideológico ao qual ele pertence. Ela nem sequer é capaz de endossar o clamor pelo impeachment.
Marina é um filhote do PT, da mesma espécie. Não é uma alternativa aceitável para enfrentá-lo, ao menos para os defensores legítimos da liberdade – ela, sim, a grande “novidade” de que o Brasil precisa. A história já provou que, se a “nova opção” não faz eco aos pilares mais fundamentais da sã política, ela tem potencial para ser pior que o mal de que já se padece. Não troquemos um tiro na cabeça por um tiro no peito; o resultado é sempre a morte. Busquemos alternativas que nos permitam, pelo menos, continuar respirando.
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