Guerra síria abre crise entre EUA e Rússia
Russos boicotam conferência de Obama sobre Estado Islâmico e criticam propostas americanas sobre regime sírio
Moscou convoca evento paralelo nesta quarta; Washington anuncia sanções contra membros de milícia
THAIS BILENKY/MARCELO NINIO - FSP
EUA e Rússia protagonizaram mais um capítulo da queda de braço no
combate à facção terrorista Estado Islâmico (EI) nesta terça-feira (29).
O presidente russo, Vladimir Putin, não compareceu a uma reunião sobre
terrorismo convocada na ONU pelo colega americano, Barack Obama. Em seu
lugar, enviou o terceiro diplomata na hierarquia da embaixada russa nas
Nações Unidas.
E manteve a convocação de um encontro sobre o mesmo tema no Conselho de Segurança, nesta quarta (30).
O esvaziamento é sinal de que Putin e Obama, em encontro na véspera,
pouco avançaram no debate sobre a Síria, país onde o EI tem ampliado seu
domínio e onde a guerra civil já matou mais de 250 mil pessoas e levou
mais de 4 milhões a fugirem.
Putin é o principal aliado do ditador Bashar al-Assad, inclusive
militarmente, com o envio de armas e treinamento. O país também estaria
construindo uma base área.
Na segunda (28), os dois líderes dominaram a sessão de abertura da
Assembleia-Geral da ONU, com trocas de farpas sobre a crise na Síria.
Obama, de um lado, acenou para Putin ao cogitar uma aliança com a Rússia e o Irã para derrotar o EI.
Mas, de outro, mostrou-se irredutível quanto a Assad –o americano
afirmou que a guerra civil na Síria só acabará com a saída do ditador,
embora tenha admitido que essa solução fosse negociada.
Putin, por sua vez, dissera que é um erro não apoiar Assad, pois seu regime é a principal força a deter o EI.
Em entrevista à imprensa russa, o embaixador do país na ONU, Vitaly
Churkin, expressou contrariedade com a atitude de Obama, que teria, em
sua visão, quebrado o protocolo ao convocar o encontro de terça –a
Rússia preside o Conselho de Segurança neste mês.
"Os Estados Unidos não deveriam levar água para o seu moinho e
incorporar funções na ONU. Mas eles deixariam de ser quem são se não
tentassem demonstrar sua liderança. É lamentável", declarou Churkin.
O diplomata que o representou, Evgeniy Zagaynov, ainda reclamou da
presença do representante de Kosovo, que não é reconhecido como país
pela Rússia e, por isso, não pode ser oficialmente considerado membro da
ONU, apesar da posição favorável de 110 países.
A disputa entre Moscou e Washington na Síria dura quatro anos, o mesmo
tempo da guerra civil, com boicotes da Rússia às iniciativas americanas
para derrubar Assad.
Temendo que a divergência leve a um choque militar, o Pentágono anunciou
a criação de um canal de comunicação com o Kremlin "para evitar um
conflito no ar".
A falta de consenso vai além de Rússia e EUA.
O chanceler da França, Laurent Fabius, disse que seu país propõe o
estabelecimento de uma zona de exclusão aérea na Síria a fim de proteger
os civis de ofensivas do regime. Seria uma forma de conter a onda de
refugiados que chega à Europa. EUA e Rússia rejeitam a ideia.
SANÇÕES
Obama abriu a conferência definindo a luta contra o terrorismo com
palavras que usara em julho. Para o americano, trata-se de uma campanha
não apenas militar e de longo prazo, mas ideológica. "Ideologia não se
combate com armas. Combate-se com melhores ideias", disse.
No mesmo dia, o governo dos EUA anunciou sanções a 25 líderes do EI e a cinco organizações ligadas à facção.
Os alvos provêm de países como Indonésia, Paquistão, França e
Inglaterra, mostrando a dispersão da organização e a ameaça global que
impõe, segundo os americanos.
Os EUA afirmaram que o EI arrecada cerca de US$ 500 milhões (cerca de R$
2,1 bilhões) por ano com contrabando de petróleo e impostos taxados em
áreas sob seu controle –que incluem regiões importantes no Iraque.
A Rússia e o Irã acusaram os Estados Unidos de não conseguirem interromper o financiamento do grupo.
Com as sanções, ficam proibidas transações entre pessoas nos EUA e os alvos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário