Crítica desmemoriada à política econômica
Fundação Perseu Abramo, braço do PT, culpa
ajuste por uma recessão que já havia sido contratada, e propõe mudanças
suicidas na condução da economia
O Globo
Em matéria de política econômica, o PT costuma criticar o segundo
governo Dilma pelos seus méritos, sem qualquer referência aos equívocos.
A mais recente prova deste cacoete é o primeiro volume do documento
“Por um Brasil justo e democrático”, divulgado segunda-feira pela
Fundação Perseu Abramo, braço do partido, com declarações no mínimo
polêmicas do presidente da fundação, Márcio Pochmann, ex-presidente do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Luiz Gonzaga
Belluzzo, interlocutor constante de Dilma — pelo menos foi.
O documento tem como alvo óbvio a política “neoliberal” de ajuste da
economia. Quanto ao erro de Dilma querer insistir na ressurreição da
CPMF, nenhuma palavra. O texto-manifesto da Perseu Abramo reproduz a
ideia de que a política monetária (juros) apertada e a intenção de se
fazer cortes em gastos são uma “irresponsabilidade”, porque desconstroem
o modelo “socialmente inclusivo implantado nos últimos anos” (leia-se,
Lula), ao aprofundar a queda do nível de atividade econômica.
Em
sentido diametralmente oposto ao da política de ajuste, o texto prega o
corte dos juros na base da canetada e a desmontagem da meta de
superávit primário — pela retirada dos investimentos do seu cálculo. O
resultado seria infalível: descontrole da inflação, explosão do dólar, o
que realimentará a inflação numa espiral rumo ao descontrole. E mais
recessão. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o inimigo a ser abatido,
não se referiu diretamente ao documento. Apenas repetiu o que tem dito: o
ajuste fiscal é imprescindível porque abre espaço para a queda natural
dos juros. O que ele chama de “plano do 1, 2, 3”.
Mas como as críticas lulopetistas estão embebidas em ideologia, ramo
religioso da política, o argumento mais bem fundamentado é incapaz de
convencer os sacerdotes do “desenvolvimentismo”. Não importa sequer que a
recessão em andamento tenha sido plantada no primeiro governo Dilma,
quando políticas heterodoxas ao gosto da Perseu Abramo foram executadas.
É falso culpar o ajuste pela recessão. Ela já estava contratada pelos
equívocos cometidos em Dilma 1. Eis a evolução do PIB em cada um dos
quatro trimestres do ano passado: - 0,7%, -1,9%, 0,1% e zero.
Os redatores do texto de crítica ao governo não se recordam desses
números. Eles mostram a economia já em desaceleração, apesar de toda a
expansão de despesas — maquiadas pela contabilidade criativa —,
incentivos creditícios a empresas escolhidas pelo Planalto etc. Foi
assim que as contas públicas explodiram — 8% do PIB de déficit,
disparada da dívida pública rumo a 70% do PIB —, e daí a necessidade do
ajuste. Sem ele, não se restaura a confiança na estabilidade, os
investimentos não voltam, tampouco o crescimento.
O sentido da proposta de se retomar a política do novo “marco
macroeconômico", que levou à crise, é resumido na imagem surrada: apagar
a fogueira com gasolina.
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