Chame o ladrão
Economistas vinculados ao PT sugerem, hoje, políticas que colocaram o país numa situação insustentável
Alexandre Schwartsman - FSP
Flagrado, o larápio esperto apela para o tradicional berro de "Pega
ladrão!", na esperança de se safar no meio da confusão, deixando que
outro pague pelo seu crime.
A mesma ética exemplar pode ser encontrada na tentativa recente de
economistas vinculados ao PT de atribuir as atuais dificuldades
enfrentadas pelo país à suposta austeridade fiscal, deixando de lado sua
responsabilidade pelas políticas que, ao final das contas, jogaram o
país na crise.
Segundo esse pessoal, nada justificaria a reversão da política econômica
adotada a partir deste ano. A que eles propõem, portanto, é
essencialmente a mesma que guiou o país no primeiro governo Dilma:
expansão do gasto, redução na marra da taxa de juros e intervenção
pesada do governo no domínio econômico.
Não por acaso, muitos dos autores da atual proposta são os mesmos que
manifestaram apoio à reeleição da presidente no ano passado, embora
tenham tentado se passar por críticos da política econômica quando a
coisa ficou feia.
Aparentemente, inflação superior a 6% ao ano, mesmo com preços
reprimidos, não seria motivo de preocupação. Nem, é claro, um deficit
externo que superou US$ 100 bilhões no ano passado, e muito menos o
virtual desparecimento do superavit primário do setor público, que por
muitos anos havia se mantido na casa de 3% do PIB, mas que em 2014 se
transformou num deficit (oficial) de 0,6% do PIB –enquanto estimativas
de especialistas sugerem que, descontadas as "pedaladas", o número
verdadeiro teria se aproximado de 1,5% do PIB.
Da mesma forma o crescimento da dívida pública de quase 10 pontos percentuais entre 2010 e 2014 não mereceria qualquer reparo.
Deixa-se convenientemente de lado o fracasso do crescimento no período,
quando o PIB se expandiu a pouco mais de 2% ao ano, atribuído à "crise
internacional", muito embora o crescimento mundial tenha se mantido
praticamente inalterado (3,6% ao ano) e a relação entre os preços das
exportações e importações brasileiras tenha sido simplesmente o mais
favorável desde 1978, pelo menos.
A verdade que os punguistas econômicos querem esquecer é que as
políticas que defenderam então, e que agora pedem de volta, colocaram o
país numa situação insustentável.
Sua manutenção poderia até adiar o encontro com a realidade por mais um
ano ou dois, mas apenas à custa do aprofundamento das distorções que se
acumularam nos últimos anos: inflação mais alta, dívida em crescimento e
déficits externos ainda maiores.
Note-se que isso provavelmente não conseguiria impedir a recessão. De
fato, como notado pelos economistas que fazem parte do Comitê de Datação
de Ciclos Econômicos, a recessão se iniciou em meados do ano passado,
muito antes de qualquer discussão sobre a possibilidade de alteração da
tal Nova Matriz Macroeconômica.
Em particular, o investimento, variável-chave para o crescimento
sustentável, vem em queda desde 2013, e acumulava retração de quase 8,5%
quando os punguistas louvavam a política em vigor.
O que eles hoje recomendam é exatamente o que nos trouxe à situação
lastimável em que estamos. Confesso que, apesar disso, meu lado cruel
adoraria tê-los de volta no comando da política econômica. Seria péssimo
para o país, mas divertidíssimo vê-los chamando o ladrão quando o caos
se instalasse de vez.
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