Reinaldo Azevedo - VEJA
Ah, leitor
amigo, como esquecer? Lula carimbou as mãos sujas nas costas de Dilma e,
ao fazê-lo, transmitiu-lhe também uma herança e um jeito de ver o
mundo.
A que me
refiro? Pois é… No dia 21 de abril de 2006, durante a inauguração da
Plataforma P 50, em Campos, no Rio, o Babalorixá de Banânia repetiu o
gesto de Getúlio Vargas, em 1952, e sujou as mãos de petróleo. O
presidente do passado remoto marcava o início da extração no Brasil; o
Apedeuta comemorava a nossa suposta autossuficiência — ou seja:
produziríamos tudo o que gastávamos aqui dessa matriz energética. Ah, tá
bom… Já chego lá.
Nesta terça,
a Petrobras anunciou o reajuste de 6% da gasolina e de 4% do diesel —
isso na refinaria. Como informa comunicado da empresa, “os preços da
gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não
incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual
ICMS”. Para o consumidor, certamente será mais do que isso.
Já nem se
trata de abordar o estelionato dessa turma. Peço que vocês se fixem nas
fotos algo fantasmagóricas que vão acima. No dia 4 de outubro de 2013,
escrevi um post sobre
o aniversário de 60 anos da Petrobras e já tratava aquelas imagens de
2006, as das mãos sujas, vamos dizer, como metáforas. Título daquele meu
texto: “O aniversário da Petrobras e as mãos sujas de Lula, carimbadas
nas costas de Dilma. Ou: Eu e Petrobras, 60 anos: endividada e
rebaixada”.
Por que eu
me coloquei no título? Leiam o texto. Eu não me conformava com a gestão
da empresa. Hoje, descascar a gigante, quando existe uma Operação
Lava-Jato, é fácil, mas, em outubro de 2013, não era, não. A operação só
seria deflagrada cinco meses depois.
Voltemos aos
dias atuais. Por que em tempos de pressão inflacionária renitente, com a
popularidade da presidente beijando a lona e com insatisfações
múltiplas nas ruas, a Petrobras reajusta gasolina e diesel? RESPOSTA:
PORQUE IMPORTAMOS COMBUSTÍVEL. COMO O DÓLAR SUPERA HOJE. A CASA DOS R$
4, a estatal — na verdade, empresa de economia mista — voltou a amargar
prejuízos. O combustível que se vende aqui em reais é mais barato do
que aquele que se compra de fora, em dólar. Quem arca com o prejuízo? A
Petrobras.
Durante uma
boa parte do governo Dilma, os preços dos combustíveis ficaram
congelados para ajudar a diminuir a pressão inflacionária. O rombo na
empresa só com essa brincadeira chegou a R$ 80 bilhões em quatro anos.
Os números
da Petrobras, a petroleira mais endividada do mundo, são
estratosféricos. Quando o dólar estava a R$ 3,10, a dívida era de R$
415,5 bilhões. Arredondemos, com boa vontade, a cotação atual para R$ 4.
A cada R$ 0,10 de valorização do real, estima-se que o passivo
financeiro da companhia cresça R$ 10 bilhões. Assim, o buraco hoje
estaria em R$ 505,5 bilhões.
Mas sigamos:
se o Brasil é autossuficiente, como Lula anunciou em 2006, por que é
preciso aumentar o preço dos combustíveis em razão do câmbio? Seria por
causa dos insumos para se produzir petróleo por aqui? Não, leitores! É
que Lula estava contando uma de suas mentirinhas. O nosso país nunca
chegou à autossuficiência.
Pode até ser
que as ações da Petrobras se valorizem um pouquinho porque o mercado
pode entender que a empresa passou a ter alguma autonomia na relação com
o governo. O preço dos combustíveis é apenas uma das fragilidades da
companhia. Uma outra, que contribui para o seu descrédito, é a
obrigatoriedade de participar de pelo menos 30% da exploração do
pré-sal, o que impõe à empresa o desembolso de um dinheiro que ela não
tem.
O reajuste
dos combustíveis, que acaba incidindo em toda a economia, tem, sim,
impacto inflacionário. Por essa razão se fez tanta bobagem no passado. A
Petrobras dá, sim, um sinal de autonomia. E mais uma mentira do petismo
é exposta em praça pública.
É certo que Lula sujou as mãos e que as carimbou nas costas de Dilma, como uma herança. E a herança está aí.
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