Félix Ribeiro - Público
Moscovo boicotou a cimeira de líderes nas Nações Unidas que discutiu o combate ao Estado Islâmico. Putin e Obama não anunciaram passos concretos depois do primeiro encontro em mais de um ano
Obama saiu do encontro com Putin convencido de que Moscovo quer atacar o Estado Islâmico na Síria Kevin Lamarque/Reuters
Barack Obama e Vladimir Putin conversaram durante mais de uma hora na noite de segunda-feira. Foi o primeiro encontro formal entre os dois desde que a Rússia anexou a Crimeia, em 2014, mas no final não surgiu o princípio de uma estratégia concertada para a Síria, nem sinais de avanços importantes, nem sequer um fim para a luta sobre quem lidera o diálogo internacional para travar a guerra. A rivalidade diplomática mantém-se, apesar de Obama ter afirmado que está disposto a cooperar com Moscovo e Teerão para resolver a crise na Síria, e de Putin ter proposto uma coligação abrangente para o combate ao terrorismo.
Há ainda suspeitas de parte a parte sobre quais são as verdadeiras intenções de um e de outro para a Síria. As delegações russa e iraniana não estiveram presentes na Cimeira de Líderes desta terça-feira sobre o combate ao autoproclamado Estado Islâmico e grupos extremistas na Síria. Teerão não foi convidado por fazer parte da lista norte-americana de Estados patrocinadores do terrorismo e Moscovo recusou ostensivamente o convite para integrar um encontro liderado por Washington. Quando Obama disse novamente que estava disposto a falar com o Irão e Rússia, desta vez para combater o extremismo islâmico na Síria, tinha na sala apenas um diplomata de Moscovo que, segundo o Kremlin, lá estava para "cobrir o evento".
O embaixador russo para as Nações Unidas afirmou nesta terça-feira
que a cimeira era uma tentativa de fugir às regras da organização e que
se tratava de um "desrespeito grosseiro" para o secretário-geral, Ban
Ki-moon. "A ONU tem a sua própria estratégia de combate ao terrorismo e
tudo isto poderia ser tranquilamente debatido. Mas os americanos não são
americanos se não procurarem mostrar a sua liderança, mesmo que só no
papel", afirmou Vitali Tchourkine, citado pela agência russa Ria.
A cimeira desta terça serviu para reafirmar publicamente a estratégia do Ocidente para o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Mesmo que um ano de ataques aéreos tenha feito pouco para atingir o objectivo inicial declarado por Obama: "Degradar, derrotar e por fim destruir" os jihadistas. Os bombardeamentos contiveram os avanços galopantes do grupo extremista, mas não conseguiram proteger cidades importantes, como Palmira. Os seus grandes sucessos, no Norte da Síria, não teriam sido possíveis sem as milícias curdas, e mesmo os 8000 jihadistas eliminados pelas bombas do Ocidente custaram a morte de centenas de civis.
À ineficácia dos bombardeamentos soma-se o fracasso do programa norte-americano para treinar rebeldes moderados, actualmente irrelevantes no terreno. "Vai demorar tempo", disse nesta terça-feira Barack Obama. "É uma campanha de longo prazo, não apenas contra esta rede específica mas contra esta ideologia", afirmou. O Presidente dos Estados Unidos abriu novamente espaço para que Bashar al-Assad integre provisoriamente uma possível transição governamental mas, como na véspera, negou-lhe um papel para o futuro do país. "Vencer o Estado Islâmico requere um novo líder para a Síria e um Governo inclusivo."
Interrogação russa
Nada de tangível saiu do encontro de segunda-feira entre Obama e Putin. O líder russo lamentou que as relações diplomáticas entre os dois países estivessem "num nível tão francamente baixo", mas admitiu que as duas posições se aproximaram. "Entendemos agora que a nossa cooperação deve ser fortalecida, pelo menos num modelo bilateral. Estamos agora a pensar na criação de mecanismos apropriados."
Estes mecanismos, segundo canais não oficiais, podem ser por enquanto apenas vias de contacto entre os dois exércitos. O Wall Street Journal avança que os dois líderes discutiram de que maneira é que as suas forças no terreno podem evitar confrontos não intencionais, agora que a Rússia tem dezenas de caças, veículos e centenas de militares na costa síria do Mediterrâneo.
O secretário de Estado norte-americano disse que Estados Unidos e Rússia estão ainda a tentar compreender por que via é que um e outro podem avançar. O encontro entre os líderes, assegura John Kerry, foi "genuinamente construtivo". Kerry encontrou-se nesta terça-feira com o seu homólogo russo e vai fazê-lo novamente na quarta. Ao contrário de Obama e Putin, que passaram mais de um ano isolados, Kerry e Sergei Lavrov mantiveram contactos frequentes, sobretudo no âmbito do acordo nuclear iraniano, o último grande exemplo de cooperação diplomática entre russos e norte-americanos.
Segundo um membro da Administração norte-americana, Obama saiu do encontro com Putin acreditando no objectivo de Moscovo em atacar o Estado Islâmico. É algo que é ainda visto com desconfiança em Paris. "A comunidade internacional bombardeou o Daesh [Estado Islâmico], a França atacou o Daesh, o Bashar al-Assad fê-lo muito pouco, e os russos, de todo", disse o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius.
A cimeira desta terça serviu para reafirmar publicamente a estratégia do Ocidente para o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Mesmo que um ano de ataques aéreos tenha feito pouco para atingir o objectivo inicial declarado por Obama: "Degradar, derrotar e por fim destruir" os jihadistas. Os bombardeamentos contiveram os avanços galopantes do grupo extremista, mas não conseguiram proteger cidades importantes, como Palmira. Os seus grandes sucessos, no Norte da Síria, não teriam sido possíveis sem as milícias curdas, e mesmo os 8000 jihadistas eliminados pelas bombas do Ocidente custaram a morte de centenas de civis.
À ineficácia dos bombardeamentos soma-se o fracasso do programa norte-americano para treinar rebeldes moderados, actualmente irrelevantes no terreno. "Vai demorar tempo", disse nesta terça-feira Barack Obama. "É uma campanha de longo prazo, não apenas contra esta rede específica mas contra esta ideologia", afirmou. O Presidente dos Estados Unidos abriu novamente espaço para que Bashar al-Assad integre provisoriamente uma possível transição governamental mas, como na véspera, negou-lhe um papel para o futuro do país. "Vencer o Estado Islâmico requere um novo líder para a Síria e um Governo inclusivo."
Interrogação russa
Nada de tangível saiu do encontro de segunda-feira entre Obama e Putin. O líder russo lamentou que as relações diplomáticas entre os dois países estivessem "num nível tão francamente baixo", mas admitiu que as duas posições se aproximaram. "Entendemos agora que a nossa cooperação deve ser fortalecida, pelo menos num modelo bilateral. Estamos agora a pensar na criação de mecanismos apropriados."
Estes mecanismos, segundo canais não oficiais, podem ser por enquanto apenas vias de contacto entre os dois exércitos. O Wall Street Journal avança que os dois líderes discutiram de que maneira é que as suas forças no terreno podem evitar confrontos não intencionais, agora que a Rússia tem dezenas de caças, veículos e centenas de militares na costa síria do Mediterrâneo.
O secretário de Estado norte-americano disse que Estados Unidos e Rússia estão ainda a tentar compreender por que via é que um e outro podem avançar. O encontro entre os líderes, assegura John Kerry, foi "genuinamente construtivo". Kerry encontrou-se nesta terça-feira com o seu homólogo russo e vai fazê-lo novamente na quarta. Ao contrário de Obama e Putin, que passaram mais de um ano isolados, Kerry e Sergei Lavrov mantiveram contactos frequentes, sobretudo no âmbito do acordo nuclear iraniano, o último grande exemplo de cooperação diplomática entre russos e norte-americanos.
Segundo um membro da Administração norte-americana, Obama saiu do encontro com Putin acreditando no objectivo de Moscovo em atacar o Estado Islâmico. É algo que é ainda visto com desconfiança em Paris. "A comunidade internacional bombardeou o Daesh [Estado Islâmico], a França atacou o Daesh, o Bashar al-Assad fê-lo muito pouco, e os russos, de todo", disse o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius.
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