sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Com a inflação alta, os preços relativos confundem qualquer pessoa
Samir Dana - FSP
A inflação alta não tem somente o revés de ser uma pedra no sapato para manter o orçamento sob controle, ela também é responsável por deixar os preços relativos completamente malucos. Isso gera uma certa confusão na hora de fazer comparações de custos.
E não falo aqui somente da diferença entre comprar uma camisa em uma loja popular ou em uma marca de grife. A alta dos preços também dificulta a tarefa de comparar preços de produtos com relevância diferente.
Na hora de planejar uma viagem, por exemplo, o primeiro pensamento é comparar quais destinos parecem mais viáveis financeiramente. Com o dólar alto —que também atua pressionando a inflação para cima—, os gastos em uma viagem internacional aumentam e é preciso colocar na ponta do lápis se é possível manter os planos feitos em outro contexto econômico.
Mas essa não é a única comparação que pode ser feita. Veja bem, um bolo de chocolate inteiro em uma confeitaria de São Paulo pode chegar a R$ 130. Em outra ponta, é possível encontrar passagens de ida e volta da capital paulista para Miami, para fevereiro, por cerca de R$ 1.160. Ou seja, os custos de translado de ida e volta para uma viagem internacional representam o valor de nove bolos de chocolate.
Se você não consegue se imaginar comendo nove bolos e acha essa comparação estranha demais, vamos fazer uma substituição simples. Em uma padaria, o custo de um cento de docinhos de festa pode chegar a R$ 120. O valor que você gasta comprando nove bandejas e meia de docinhos para uma comemoração é o mesmo que gastaria com ida e volta de Miami.
É claro que o planejamento de uma viagem envolve muito mais do que simplesmente considerar o preço da passagem, mas essa despesa pode representar de 25% a 30% do custo total de uma viagem. Quando pensamos em preços relativos no atual contexto, o cuidado para avaliar aquilo que compensa e o que não vale a pena é uma tarefa mais delicada e que precisa de mais atenção.
Alguns produtos mais fortemente impactados com a alta do dólar, como pacotes de turismo e passagens aéreas, são alvos de promoções constantes para o incentivo do consumo. Por outro lado, alguns produtos, como importados em supermercados, não conseguirão escapar do reajuste para cima.
Vale a pena levar em conta essa reflexão na hora de considerar os gastos. Simule o que você gastaria hoje para fazer uma viagem de férias, seja dentro ou fora do país. Quantos jantares naquele restaurante pagariam o passeio? Qual a fatia do 13º salário conseguiria colocar em uma aplicação financeira ou guardar para as contas de janeiro, se deixasse de comprar alguns presentes neste Natal?
Colocar gastos diferentes na mesma perspectiva pode ajudar a usar seu dinheiro de forma mais sábia em tempos difíceis como os de agora. 

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