sábado, 25 de junho de 2016

Boris Johnson, o grande vencedor do Brexit, quer o emprego de Cameron
Em 2015, quando enfrentou o trabalhista Ed Miliband nas eleições, Cameron talvez não pudesse imaginar que seu mais perigoso rival seria alguém de seu próprio partido
VEJA
O prefeito de Londres, Boris Johnson, no topo da torre Orbit, no Parque OlímpicoO prefeito de Londres, Boris Johnson, no topo da torre Orbit, no Parque Olímpico(Christopher Lee/Getty Images/VEJA)
O ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, foi o principal nome da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e nesta sexta foi saudado por seus colegas e pela imprensa local como o grande vencedor político do referendo. Após a confirmação oficial do resultado, Johnson comemorou a "independência" de seu país: "Podemos encontrar nossa voz no mundo novamente, uma voz que é proporcional a da quinta maior economia da Terra". Aos 51 anos, o político é cotado como favorito dentro do Partido Conservador para substituir David Cameron como primeiro-ministro.
No ano passado, quando enfrentou o trabalhista Ed Miliband nas eleições gerais, Cameron talvez não pudesse imaginar que seu mais perigoso rival político seria alguém de seu próprio partido, e ainda que ele seria um velho colega de escola. A relação de Johnson com o atual premiê data de antes do início de suas carreiras políticas. Os dois se conheceram na escola de elite Eton College e cursaram a Universidade de Oxford juntos. Foi também durante seus anos de educação que Johnson, filho de britânicos nascido em Nova York, nos Estados Unidos, teve os primeiros contatos com a alta sociedade do Reino Unido.
Contudo, os dois amigos escolheram lados opostos após o anúncio do referendo, feito durante a campanha política de 2015. Ao longo de toda a maratona que antecedeu a consulta popular, Johnson e o atual primeiro-ministro discordaram em quase todas as suas declarações. O ex-prefeito chegou a dizer que as afirmações de Cameron sobre as consequências da saída britânica da UE eram "enganosas e mal-intencionadas" para convencer o povo a votar a favor da permanência.
A ironia é que o euroceticismo bem articulado e distante da ferocidade de Nigel Farage (líder do partido ultranacionalista Ukip) vem de um homem muito ligado às instituições europeias. O pai de Boris Johnson, Stanley, que defendia a permanência na UE, foi deputado pelo Partido Conservador e trabalhou na Comissão Europeia. Boris foi aluno da Escola Europeia de Bruxelas antes de entrar para o Eton e conheceu também a máquina burocrática da UE por dentro, atuando como jornalista.
Antes de ser eleito prefeito de Londres, em 2008, Johnson trabalhou no jornal Daily Telegraph e entre 1989 e 1994 foi correspondente em Bruxelas, favorecendo histórias que alimentavam o euroceticismo em casa. Tornou-se então o jornalista favorito da primeira-ministra Margaret Thatcher, graças a artigos que ridicularizavam as instituições europeias e caricaturavam seus regulamentos extremamente detalhados. Durante todo esse período, conseguiu construir sua reputação com críticas ácidas e piadas sobre o bloco europeu. Em 2008, ele foi eleito prefeito de Londres e seu estilo bonachão e pragmático, dosando gírias populares e citações em latim, garantiram a reeleição em 2012. Johnson deixou o comando da prefeitura no início deste ano com ótimos índices de aprovação. Com tempo livre, passou a dedicar-se exclusivamente à campanha do Brexit.
Com fama de histriônico e um senso de humor louvado até por seus críticos, Johnson é o típico conservador à moda britânica: partidário do Estado mínimo e da pouca intervenção estatal na sociedade. Ele também é um ardoroso defensor das tradições do país, inclusive das mais populares, como acompanhar um jogo de futebol em um pub bebendo litros de cerveja em caneca.
O novo premiê será escolhido num congresso dos tories em outubro, e até lá muita água ainda vai rolar na composição de forças dentro da legenda. O Partido Conservador sai do referendo rachado, com muitas disputas internas e mágoas que precisam ser aplacadas para apaziguar o ambiente antes da formação do novo governo. Apesar das incertezas, uma coisa é certa: os ex-colegas Johnson e Cameron vão continuar sentando em lados opostos da mesa de negociações.

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