Incertezas aumentam
Merval Pereira - O Globo
A incerteza induzida pelo cenário político agrava as
expectativas em torno de uma recuperação econômica e quanto à real
possibilidade de um avanço em uma agenda mínima que permita ao país
chegar, em 2018, não pior do que agora. Esta é uma das principais
constatações da segunda pesquisa sobre expectativas em torno de cenários
de sucesso do atual governo interino realizada pela consultoria
Macroplan, especializada em estratégia e cenários.
Com a corrupção no
centro do debate político no Brasil, os resultados da atual sondagem
espelham claramente o poder de influência e transformação da Operação
Lava-Jato e ações conexas ou derivadas na percepção de futuro do país.
No
primeiro levantamento, feito entre os dias 13 e 19 de maio, com amostra
de 82 empresários, executivos, economistas, cientistas políticos,
gestores públicos e jornalistas de todas as regiões, 64% indicavam
sucesso parcial ou amplo do governo Temer, contra 36% de prognósticos
pessimistas.
Na sondagem atual, realizada entre 11 e 22 de junho,
junto a 79 entrevistados, 58% apostaram em cenários de sucesso parcial
ou amplo, enquanto 42% indicaram o fracasso (parcial ou total) do
governo interino. Os novos resultados são os seguintes:
a)
Cenário de sucesso amplo – o Brasil sai da “UTI econômica”, viabiliza
ajustes econômicos e políticos essenciais e dá partida a um ciclo de
reformas, retomando um crescimento forte a partir de 2018. É um cenário
que lembra os primórdios do Plano Real - indicado por 13% dos
pesquisados, contra 16% da pesquisa anterior.
b) Cenário de
sucesso moderado –o Brasil sai da “UTI econômica”, supera a fase mais
aguda da crise, mas não o encaminhamento da solução dos maiores
obstáculos estruturais para um novo ciclo de crescimento sustentado, em
face de resistências políticas a medidas mais drásticas e/ou ao
significativo passivo de problemas econômicos herdados. A Operação
Lava-Jato e eventos correlatos continuam criando embaraços a uma atuação
mais desenvolta do Governo – cenário mais provável, apontado por 45%
dos respondentes, contra 49% na pesquisa anterior.
c)
Cenário de fracasso parcial - o Governo Temer realiza ajustes econômicos
pontuais, perde a confiança dos mercados, experimenta um progressivo
processo de “sarneyzação”, ou “reedição do Levy””, acumula derrotas no
Legislativo e enfrenta uma progressiva deterioração de expectativas dos
agentes econômicos. O núcleo do Governo e de sua base de sustentação
política sofre acentuado enfraquecimento com a operação “Lava Jato” e
ações correlatas e isso se combina com a ampliação das práticas de
fisiologismo e “varejo político”. Indicação de 42% na pesquisa atual,
contra 36% anteriormente.
d) Fracasso amplo - retorno do
governo Dilma, com imediata deterioração das expectativas econômicas e
agravamento das tensões políticas ou mesmo um quadro quase caótico e de
ingovernabilidade, com fortes movimentos especulativos no mercado em
meio a “surtos” de pânico e aguda instabilidade, no curto prazo. 9% das
indicações, contra 6% na pesquisa passada.
“A queda das
expectativas positivas não é surpreendente, mas até mesmo previsível,
face à evolução da conjuntura nos últimos 45 dias”, explica o economista
Claudio Porto, presidente da Macroplan, para quem o governo interino
ultrapassou seus primeiros 30 dias de forma ambígua: com avanços
positivos na agenda econômica de um lado, mas dificuldades expressivas
no campo político.
Correção
Na coluna de quinta-feira, por
um lapso, a falta de um verbo provocou um erro de concordância logo na
primeira linha, pelo qual peço desculpa aos leitores. “Não adiantou de
nada as palavras respeitosas que o presidente afastado da Câmara Eduardo
Cunha proferiu sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).”. O
correto seria: “Não adiantou de nada (usar) as palavras respeitosas que
o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha proferiu sobre os
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)”. Do jeito que saiu, o
correto é “Não adiantaram de nada as palavras respeitosas que o
presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha proferiu sobre os ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
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