A prisão de um ex-ministro de Lula e Dilma mostra que nada estava imune à mão invisível da corrupção nos governos do partido
A presença de policiais armados de fuzil e metralhadora vigiando a
entrada da sede do PT pareceu exagerada, mas era apenas precaução
considerada necessária pelo serviço de inteligência da PF. Era ali, na
sede nacional, que despachava o notório Delúbio Soares, o tesoureiro do
mensalão. Dali, mais tarde, saíram as primeiras ordens do igualmente
notório João Vaccari Neto, preso e condenado por gerenciar o caixa do
dinheiro arrecadado das empreiteiras em troca de contratos na Petrobras.
Na sede do PT, como demonstram as investigações até aqui, política e
corrupção conviveram em simbiose.
Ao ingressarem no prédio, os agentes estavam orientados a buscar cofres ou compartimentos secretos que pudessem ser usados para esconder documentos e guardar dinheiro. Explica-se o procedimento: em depoimento à Justiça, um dos empreiteiros confessou ter entregado pessoalmente no diretório várias malas com dinheiro - sugerindo que poderia haver cofres ocultos no prédio. Para garantirem o sigilo e evitarem surpresas, corruptos e corruptores usavam senhas e contrassenhas. Há relatos também de entregas de dinheiro em envelopes, mochilas e carros blindados. Um lobista contou ter levado à sede do PT 500.000 reais no porta-malas do carro em 2012. Na busca da semana passada, os cofres do partido estavam abarrotados apenas de papel e nenhum compartimento secreto foi achado.
Na operação, batizada de Custo Brasil, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal se debruçaram sobre um esquema de corrupção montado no interior do Ministério do Planejamento. O alvo da rapina eram funcionários públicos, pensionistas e aposentados endividados que recorriam a empréstimos consignados, cujas prestações são descontadas automaticamente em folha de pagamento. A cada parcela paga, os funcionários desembolsavam em torno de 1 real a título de taxa de administração da operadora, uma empresa chamada Consist, cuja sede fica em São Paulo. Como o custo da taxa de administração não passava de 30 centavos, segundo estimativa dos investigadores, os 70 centavos de superfaturamento irrigaram os cofres do PT.
O esquema começou em 2010 e durou até 2015, quando a polícia prendeu os primeiros envolvidos. Nesse tempo, de 70 em 70 centavos, o PT afanou cerca de 100 milhões de reais pagos pelos funcionários públicos. Uma parcela do dinheiro era destinada diretamente ao caixa dois do partido, gerido por João Vaccari. A outra era dividida entre os petistas que executaram a tramoia.
O personagem mais ilustre da operação foi o ex-ministro Paulo Bernardo, preso em Brasília no apartamento funcional em que mora com a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Petista histórico, Bernardo chefiou o Ministério do Planejamento no governo Lula. No governo Dilma, foi o titular do Ministério das Comunicações. Tinha uma participação expressiva no rateio da propina. Segundo os investigadores, dos 100 milhões arrecadados pelo esquema, ele recebeu pelo menos 7 milhões. A lista de beneficiários inclui mais figurões. Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência de Dilma, é outro envolvido. Paulo Ferreira, ex-tesoureiro nacional do PT, também recebia uma parte dos dividendos. Ele é o terceiro tesoureiro petista que cai na malha da polícia.
A propina, resultante dos 70 centavos de cada funcionário, era distribuída por meio de contratos fictícios com empresas de consultoria e escritórios de advocacia. Os investigadores suspeitam que o mesmo esquema, de subtrair dinheiro de servidores em empréstimos consignados, exista em outros governos. O caso do PT começou a ser tateado pelos investigadores da Lava-Jato, mas, como não tinha relação direta com o esquema da Petrobras, o caso foi remetido para a Justiça Federal em São Paulo. Preso, o ex-vereador petista Alexandre Romano, também conhecido por Chambinho, confessou que era o encarregado de gerenciar o golpe e entregou o nome de todos os envolvidos. Uma parte relevante do caso está em Brasília, no Supremo Tribunal Federal, por envolver parlamentares - entre eles a senadora Gleisi Hoffmann e o ex-líder do PT José Guimarães.
Há documentos comprovando que a senadora, que também foi ministra da Casa Civil de Dilma e está sob investigação da Lava-Jato, aproveitou-se do dinheiro junto com seu marido. Os investigadores descobriram que o dinheiro afanado no esquema servia para pagar o motorista particular da senadora, o aluguel de um loft em Curitiba, além do salário de funcionários e até multas eleitorais. Outro que está encrencado é o deputado Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara. Como VEJA revelou no ano passado, o parlamentar foi contemplado pela quadrilha com um belo apartamento em Miami. O imóvel, registrado até recentemente em nome de uma offshore aberta por Chambinho, foi revendido no mês passado. O esquema dos empréstimos consignados mostra que a Lava-Jato está criando filhotes pelo país afora, o que certamente assusta os envolvidos em corrupção, mas serve de alento para a população que torce por uma faxina geral.
Ao ingressarem no prédio, os agentes estavam orientados a buscar cofres ou compartimentos secretos que pudessem ser usados para esconder documentos e guardar dinheiro. Explica-se o procedimento: em depoimento à Justiça, um dos empreiteiros confessou ter entregado pessoalmente no diretório várias malas com dinheiro - sugerindo que poderia haver cofres ocultos no prédio. Para garantirem o sigilo e evitarem surpresas, corruptos e corruptores usavam senhas e contrassenhas. Há relatos também de entregas de dinheiro em envelopes, mochilas e carros blindados. Um lobista contou ter levado à sede do PT 500.000 reais no porta-malas do carro em 2012. Na busca da semana passada, os cofres do partido estavam abarrotados apenas de papel e nenhum compartimento secreto foi achado.
Na operação, batizada de Custo Brasil, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal se debruçaram sobre um esquema de corrupção montado no interior do Ministério do Planejamento. O alvo da rapina eram funcionários públicos, pensionistas e aposentados endividados que recorriam a empréstimos consignados, cujas prestações são descontadas automaticamente em folha de pagamento. A cada parcela paga, os funcionários desembolsavam em torno de 1 real a título de taxa de administração da operadora, uma empresa chamada Consist, cuja sede fica em São Paulo. Como o custo da taxa de administração não passava de 30 centavos, segundo estimativa dos investigadores, os 70 centavos de superfaturamento irrigaram os cofres do PT.
O esquema começou em 2010 e durou até 2015, quando a polícia prendeu os primeiros envolvidos. Nesse tempo, de 70 em 70 centavos, o PT afanou cerca de 100 milhões de reais pagos pelos funcionários públicos. Uma parcela do dinheiro era destinada diretamente ao caixa dois do partido, gerido por João Vaccari. A outra era dividida entre os petistas que executaram a tramoia.
O personagem mais ilustre da operação foi o ex-ministro Paulo Bernardo, preso em Brasília no apartamento funcional em que mora com a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Petista histórico, Bernardo chefiou o Ministério do Planejamento no governo Lula. No governo Dilma, foi o titular do Ministério das Comunicações. Tinha uma participação expressiva no rateio da propina. Segundo os investigadores, dos 100 milhões arrecadados pelo esquema, ele recebeu pelo menos 7 milhões. A lista de beneficiários inclui mais figurões. Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência de Dilma, é outro envolvido. Paulo Ferreira, ex-tesoureiro nacional do PT, também recebia uma parte dos dividendos. Ele é o terceiro tesoureiro petista que cai na malha da polícia.
A propina, resultante dos 70 centavos de cada funcionário, era distribuída por meio de contratos fictícios com empresas de consultoria e escritórios de advocacia. Os investigadores suspeitam que o mesmo esquema, de subtrair dinheiro de servidores em empréstimos consignados, exista em outros governos. O caso do PT começou a ser tateado pelos investigadores da Lava-Jato, mas, como não tinha relação direta com o esquema da Petrobras, o caso foi remetido para a Justiça Federal em São Paulo. Preso, o ex-vereador petista Alexandre Romano, também conhecido por Chambinho, confessou que era o encarregado de gerenciar o golpe e entregou o nome de todos os envolvidos. Uma parte relevante do caso está em Brasília, no Supremo Tribunal Federal, por envolver parlamentares - entre eles a senadora Gleisi Hoffmann e o ex-líder do PT José Guimarães.
Há documentos comprovando que a senadora, que também foi ministra da Casa Civil de Dilma e está sob investigação da Lava-Jato, aproveitou-se do dinheiro junto com seu marido. Os investigadores descobriram que o dinheiro afanado no esquema servia para pagar o motorista particular da senadora, o aluguel de um loft em Curitiba, além do salário de funcionários e até multas eleitorais. Outro que está encrencado é o deputado Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara. Como VEJA revelou no ano passado, o parlamentar foi contemplado pela quadrilha com um belo apartamento em Miami. O imóvel, registrado até recentemente em nome de uma offshore aberta por Chambinho, foi revendido no mês passado. O esquema dos empréstimos consignados mostra que a Lava-Jato está criando filhotes pelo país afora, o que certamente assusta os envolvidos em corrupção, mas serve de alento para a população que torce por uma faxina geral.
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