O risco de ruptura da União Europeia pode parecer muito limitado, neste momento, mas de nenhum modo é desprezível
OESP
A primeira e mais agourenta consequência do Brexit, a decisão britânica de abandonar a União Europeia, é o estímulo a grupos de extrema direita, xenófobos e racistas. O resultado da votação no Reino Unido foi logo aplaudido pelo pré-candidato republicano às eleições americanas, Donald Trump, e pelo político francês Florian Philippot, vice-presidente do partido Frente Nacional, da líder direitista Marine Le Pen. O lema Britain First (Grã-Bretanha em Primeiro Lugar) foi rapidamente apropriado pelo populista do momento nos Estados Unidos, ao defender, ontem, a rejeição do “governo da elite global” e a consideração dos cidadãos americanos “em primeiro lugar”. Philippot desafiou o presidente da França, François Hollande, a propor um plebiscito semelhante ao realizado no Reino Unido.
O risco de ruptura da União Europeia pode parecer muito limitado,
neste momento, mas de nenhum modo é desprezível. Líderes de outros
países lamentaram a vitória do Brexit, mas tomaram os números da votação
como confirmação de falhas importantes no funcionamento do bloco.
Segundo o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, é preciso reestruturar a União Europeia. De acordo com Hollande, é preciso reconhecer as deficiências e fortalecer a governança democrática do bloco. A chanceler alemã, Angela Merkel, prometeu trabalhar por “mudanças profundas em vez de um recuo”.
Queixas contra a governança da União Europeia acumulam-se há muitos anos, em todos os países sócios. O bloco é geralmente descrito como associação de Estados soberanos e com amplo espaço de autodeterminação e, portanto, com poder central mais limitado que o dos países federativos. Mas, segundo os críticos, a Comissão Europeia é formada por burocratas propensos à regulação excessiva e a uma interferência inaceitável em detalhes da vida de cada país.
A fixação de normas sobre a curvatura dos pepinos – da classe I e da classe II – e a proibição de grandes aspiradores de pó são apontadas, entre outras, como provas da ditadura dos eurocratas. Além do mais, argumentam os críticos, esses burocratas são selecionados sem eleição e, portanto, fora dos processos democráticos.
A discussão sobre a estrutura política do bloco pode envolver, de fato, questões mais complexas, mas as queixas mais comuns são suficientes para indicar bons motivos de descontentamento.
Com a reação dos grupos de direita à vitória do Brexit, os políticos mais favoráveis à manutenção do bloco deverão levar mais a sério as opiniões dos chamados eurocéticos. Se forem negligentes, crescerá o risco de uma fragmentação maior e até de uma desintegração. Deveria ser muito viva, na Europa, a memória dos males do nacionalismo, da xenofobia e do racismo, mas a memória pode falhar, e tem falhado tragicamente, nos momentos mais impróprios.
Mesmo sem o esfarelamento da União Europeia, o Brexit poderá ter custos econômicos muito sérios para o Reino Unido, para o resto do bloco e para muitos outros países. Segundo estimativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido poderá ser 3,3% menor do que seria sem a separação. A projeção central para 2030 indica uma perda de 5,7%.
O governo britânico terá de renegociar as condições de comércio com a União Europeia. Além disso, a mudança poderá afetar a posição de Londres como centro financeiro. Agências de classificação já apontaram a ameaça de rebaixamento da nota de risco do Reino Unido. AUnião Europeia será enfraquecida e os impactos financeiros e comerciais poderão afetar muitos outros países.
O Brasil será afetado, a curto prazo, principalmente pela mudança de fluxos financeiros e pela possível depreciação do real, com novas pressões inflacionárias. Se isso ocorrer, o Banco Central poderá, segundo se comentou no mercado, ser forçado a manter além do planejado os juros básicos de 14,25%. Isso afetará tanto a recuperação da economia quanto a administração da dívida pública. Além do mais, o Brexit poderá complicar a negociação, já atrasadíssima, de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Mas o Brasil seria certamente menos vulnerável a esses problemas se os governos petistas houvessem errado menos.
Segundo o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, é preciso reestruturar a União Europeia. De acordo com Hollande, é preciso reconhecer as deficiências e fortalecer a governança democrática do bloco. A chanceler alemã, Angela Merkel, prometeu trabalhar por “mudanças profundas em vez de um recuo”.
Queixas contra a governança da União Europeia acumulam-se há muitos anos, em todos os países sócios. O bloco é geralmente descrito como associação de Estados soberanos e com amplo espaço de autodeterminação e, portanto, com poder central mais limitado que o dos países federativos. Mas, segundo os críticos, a Comissão Europeia é formada por burocratas propensos à regulação excessiva e a uma interferência inaceitável em detalhes da vida de cada país.
A fixação de normas sobre a curvatura dos pepinos – da classe I e da classe II – e a proibição de grandes aspiradores de pó são apontadas, entre outras, como provas da ditadura dos eurocratas. Além do mais, argumentam os críticos, esses burocratas são selecionados sem eleição e, portanto, fora dos processos democráticos.
A discussão sobre a estrutura política do bloco pode envolver, de fato, questões mais complexas, mas as queixas mais comuns são suficientes para indicar bons motivos de descontentamento.
Com a reação dos grupos de direita à vitória do Brexit, os políticos mais favoráveis à manutenção do bloco deverão levar mais a sério as opiniões dos chamados eurocéticos. Se forem negligentes, crescerá o risco de uma fragmentação maior e até de uma desintegração. Deveria ser muito viva, na Europa, a memória dos males do nacionalismo, da xenofobia e do racismo, mas a memória pode falhar, e tem falhado tragicamente, nos momentos mais impróprios.
Mesmo sem o esfarelamento da União Europeia, o Brexit poderá ter custos econômicos muito sérios para o Reino Unido, para o resto do bloco e para muitos outros países. Segundo estimativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido poderá ser 3,3% menor do que seria sem a separação. A projeção central para 2030 indica uma perda de 5,7%.
O governo britânico terá de renegociar as condições de comércio com a União Europeia. Além disso, a mudança poderá afetar a posição de Londres como centro financeiro. Agências de classificação já apontaram a ameaça de rebaixamento da nota de risco do Reino Unido. AUnião Europeia será enfraquecida e os impactos financeiros e comerciais poderão afetar muitos outros países.
O Brasil será afetado, a curto prazo, principalmente pela mudança de fluxos financeiros e pela possível depreciação do real, com novas pressões inflacionárias. Se isso ocorrer, o Banco Central poderá, segundo se comentou no mercado, ser forçado a manter além do planejado os juros básicos de 14,25%. Isso afetará tanto a recuperação da economia quanto a administração da dívida pública. Além do mais, o Brexit poderá complicar a negociação, já atrasadíssima, de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Mas o Brasil seria certamente menos vulnerável a esses problemas se os governos petistas houvessem errado menos.
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