Ganância sem limites
Merval Pereira - O Globo
Duas operações policiais distintas, mas envolvendo
figuras de proa de nosso mundo político, demonstram a que ponto chegou a
corrupção no país, atingindo as camadas mais desassistidas e também a
classe média baixa da população, justamente as que o governo petista
dizia proteger com suas políticas sociais.
Já havia uma mostra
anterior com a quebradeira da cooperativa Bancoop, dirigida pelo
indigitado tesoureiro petista João Vaccari Neto. Os apartamentos da
maioria dos cooperados não ficaram prontos, mas os de Lula e sua turma,
sim.
Além do mais, Lula foi flagrado num comentário
preconceituoso sobre seus seguidores mais afetados pela crise. Disse que
o famoso triplex do Guarujá mais parecia um apartamento do programa
Minha Casa, Minha Vida. Não servia para ele.
Das operações
policiais dos ultimas dias, uma, apelidada de “Custo Brasil”, revelou
que o sistema de crédito consignado, criado para reduzir os custos dos
empréstimos aos servidores, não escapou da sanha dos que se acostumaram a
viver à custa da dilapidação do dinheiro público.
Se há um setor em que o governo Lula podia se jactar de ter cumprindo as promessas de campanha é o da expansão do microcrédito.
Houve
um "choque de crédito popular" no país, cujas conseqüências foram
contraditórias: não apenas um crescimento do consumo interno, marca da
expansão de 5,2% do PIB no ano passado, mas também a necessidade de
altas taxas de juros para conter a inflação.
Segundo os
especialistas, o crédito ao consumidor teve um aumento real de 14%,
especialmente devido ao desconto em folha de pagamentos, que permitiu
taxas mais baratas com a garantia do desconto direto.
Esse
programa de crédito consignado, aliás, já se iniciara sob a suspeita de
um beneficiamento específico ao BMG, que teve autorização para explorar
essa nova forma de crédito popular antes dos demais bancos, decisão
fruto de uma negociação no âmbito do mensalão.
Hoje se sabe que o
sucesso do programa atraiu a ganância dos corruptos, que criaram uma
instância desnecessária de intermediação nos contratos apenas para tirar
alguns centavos a mais dos milhões de necessitados, que passaram a
alimentar mais um esquema de corrupção montado a partir desta vez do
ministério do Planejamento, um dos mais importantes dentro do governo.
Outra
operação tem a ver com os fundos de pensão dos Correios, o Postalis e
da Petrobras, o Petros. Ambos fundos tradicionais que garantiam a
aposentadoria dos funcionários públicos de duas estatais que já foram de
excelência.
Foram desviados em cada um dos casos cerca de R$ 100
milhões, distribuídos por espertalhões do mercado financeiro que
encontraram em figurões do mundo político parceiros ideais para
falcatruas.
São esquemas de corrupção que não poupam os
servidores públicos, uma das bases de sustentação do esquema político
petista que ficou no poder durante 13 anos.
A distorção dos
projetos, como se vê, não se limitou ao campo político-partidário, mas
extrapolou as fronteiras morais, não deixando intocado qualquer nicho
dos programas sociais que pudesse render financiamento para o projeto de
permanência no poder.
Não será surpresa se encontrarem falcatruas semelhantes no cadastro
do Bolsa Família, programa social dos mais relevantes, mas que, desde
seu início, sofreu injunções políticas para se transformar em
instrumento eleitoral. Concebido para substituir o Fome Zero,o
Bolsa-Familia transformou-se em uma máquina eleitoral de peso para o PT e
passa por um pente fino do governo interino.
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