Éric Albert - Le Monde
Ed Sykes/Reuters - 22.jun.2016
Boris Johnson, ex-prefeito de Londres
Boris Johnson parece tratar sua relação com a União Europeia como se fosse seu casamento. Com muitas infidelidades, um filho ilegítimo, mas, no final, ele quer que o casal permaneça junto. Desde que venceu o plebiscito, o favorito para se tornar o próximo primeiro-ministro britânico tem dado a entender que ele não quer mudar nada em suas relações com Bruxelas.
Na sexta-feira (24), sua reação inicial foi dizer que não havia urgência em negociar. Na segunda-feira (27), em sua coluna semanal no "Daily Telegraph" (pela qual recebe um salário anual de 300 mil euros), ele foi além. Ele pretende manter o acesso ao mercado único. "Desnecessário dizer que ficamos bem melhor juntos, forjando uma nova e melhor relação com a UE, baseada no livre-comércio e na parceria, em vez de um sistema federal."
Boris Johnson tem
cara de pau. Ele sabe muito bem que um acesso ao mercado único anda
junto com a livre circulação das pessoas. Os britânicos votaram pela
saída da UE justamente com base em uma redução da imigração europeia. Se
o loiro descabelado fizesse um acordo com Bruxelas, estaria traindo a
vontade dos eleitores, para quem ele prometeu mundos e fundos. Além
disso, para quê provocar uma grande crise política e depois praticamente
voltar ao ponto de partida?
Mas, no final das contas, essa virada de casaca é problema seu. O problema dos europeus, em compensação, é não cair na armadilha da volta ao status quo. Porque depois de Boris Johnson, tudo o que o país comporta de lobbies organizados vai aproveitar a brecha, o centro financeiro de Londres sendo o primeiro deles.
Na segunda-feira, Mark Boleat, o presidente das políticas corporativas do centro financeiro londrino, lançou o contra-ataque. Em uma coletiva de imprensa destinada a jornalistas estrangeiros, ele também afirmou que esperava manter o acesso ao mercado único. Ele pelo menos tem a vantagem de ser coerente: ao contrário de Boris Johnson, ele fez campanha ativamente para permanecer na UE. Mas, no final, sua abordagem é a mesma.
Em particular, ele quer manter o famoso "passaporte" que permite vender produtos financeiros por toda a Europa, e através do qual muitos bancos americanos realizam suas operações europeias a partir de Londres. Perdê-lo seria ver alguns milhares de empregos indo embora das margens do Tâmisa. O HSBC fala em cerca de mil vagas, e o J.P. Morgan em 4.000.
Pela primeira vez Mark Boleat está sem argumentos diante de Bruxelas, passando para a situação de pedinte. "A Europa é mais forte com um centro financeiro de escala mundial", ele tenta ressaltar. "O que enfraquece o centro financeiro de Londres não é necessariamente bom para os outros países da UE."
A União Europeia seria louca de ceder e conceder o passaporte ao Reino Unido. Nas negociações necessariamente complicadas que vão ter início, a City de Londres é o calcanhar de Aquiles dos britânicos. Ela é uma grande exportadora líquida de produtos financeiros, registrando um enorme superávit comercial com o resto da UE. E agora eis que ela procura Bruxelas, de chapéu na mão, implorando por concessões.
Relação unidirecional
Nos demais domínios econômicos, as discussões serão mais complicadas. A
UE realiza um superávit comercial com o Reino Unido e tem interesse em
mantê-lo. "Os europeus vão continuar querendo nos vender carros alemães e
vinho francês", repetem em loop os partidários do Brexit há meses. É
verdade: é fácil imaginar que os executivos da Daimler ou os
viticultores de Bordeaux pedirão aos seus respectivos governos que
encontrem rapidamente um acordo para que as trocas comerciais continuem.
Mas, no mundo das finanças, a relação é praticamente unidirecional.
Bruxelas mantém Londres através das Bolsas, pode-se dizer...Mas, no final das contas, essa virada de casaca é problema seu. O problema dos europeus, em compensação, é não cair na armadilha da volta ao status quo. Porque depois de Boris Johnson, tudo o que o país comporta de lobbies organizados vai aproveitar a brecha, o centro financeiro de Londres sendo o primeiro deles.
Na segunda-feira, Mark Boleat, o presidente das políticas corporativas do centro financeiro londrino, lançou o contra-ataque. Em uma coletiva de imprensa destinada a jornalistas estrangeiros, ele também afirmou que esperava manter o acesso ao mercado único. Ele pelo menos tem a vantagem de ser coerente: ao contrário de Boris Johnson, ele fez campanha ativamente para permanecer na UE. Mas, no final, sua abordagem é a mesma.
Em particular, ele quer manter o famoso "passaporte" que permite vender produtos financeiros por toda a Europa, e através do qual muitos bancos americanos realizam suas operações europeias a partir de Londres. Perdê-lo seria ver alguns milhares de empregos indo embora das margens do Tâmisa. O HSBC fala em cerca de mil vagas, e o J.P. Morgan em 4.000.
Pela primeira vez Mark Boleat está sem argumentos diante de Bruxelas, passando para a situação de pedinte. "A Europa é mais forte com um centro financeiro de escala mundial", ele tenta ressaltar. "O que enfraquece o centro financeiro de Londres não é necessariamente bom para os outros países da UE."
A União Europeia seria louca de ceder e conceder o passaporte ao Reino Unido. Nas negociações necessariamente complicadas que vão ter início, a City de Londres é o calcanhar de Aquiles dos britânicos. Ela é uma grande exportadora líquida de produtos financeiros, registrando um enorme superávit comercial com o resto da UE. E agora eis que ela procura Bruxelas, de chapéu na mão, implorando por concessões.
Relação unidirecional
Mark Boleat tem ciência disso. "Serão negociações. O Reino Unido não conseguirá tudo o que deseja." Ele espera que a França seja muito dura nesse domínio, mas já percebe fissuras na Europa como um todo. O tom muito moderado de Angela Merkel após o referendo não foi esquecido. A chanceler alemã afirmou que ela não "brigaria" para que as negociações com o Reino Unido fossem rápidas, indo na contra-mão do apelo de Paris pela aceleração do processo. "Não há necessidade de ser particularmente maldoso nessas negociações", ela diz. "Angela Merkel estava longe de ser hostil", observa Mark Boleat.
As conversas entre o Reino Unido e a União Europeia não começaram. Londres, de qualquer modo, não tem mais ninguém no comando: David Cameron agora é o primeiro-ministro interino. Mas, nos próximos meses, quando a poeira baixar, os lobistas da City de Londres continuarão seu discreto trabalho de solapamento. É então que será preciso ser vigilante e evitar uma solução tecnocrática que permitiria uma volta ao ponto de partida.
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