Além de ir para o bolso de políticos graúdos do partido, desvios foram remetidos ao caixa da legenda por meio dos ex-tesoureiros Paulo Ferreira e João Vaccari Neto, alvos da Operação Custo Brasil
O dinheiro endereçado ao partido foi intermediado inicialmente pela empresa de fachada CRLS Consultoria e Eventos, depois pela PolitecTecnologia da Informação, e, por fim, pela Jamp - as três teriam sido indicadas por Vaccari. Esta última é ligada ao lobista - e agora delator - Milton Pascowitch, que já disse à Lava Jato ter entregue dinheiro em espécie na sede do PT. Diretores da Consist relataram aos investigadores que "não houve qualquer prestação de serviço" correspondente aos pagamentos. O valor recebido por essas empresas foi de pouco mais de 10 milhões de reais em prol do PT.
Segundo os autos, após deixar o cargo de tesoureiro, Paulo Ferreira teria orientado Romano a "tratar do tema Consist" com Vaccari Neto, que havia assumido o seu lugar. Um dos argumentos que baseiam o pedido de prisão de Ferreira é que ele teria tentado "interferir" no depoimento de Pascowitch, "afinando [com ele] o discurso" a ser dito às autoridades - o que caracteriza, portanto, tentativa de obstrução das investigações.
Alexandre Romano, por sua vez, teria indicado para os repasses as empresas NSG TI Solution, SWR Informática, Instituto João Baptista Romano, Logix 8 Participações, Link Consultoria Empresarial, SX Comunicação e Portanova e Advogados Associados. Segundo o inquérito, parte do dinheiro era remetido a ele "por sua atuação como lobista junto ao Partido dos Trabalhadores". Em coletiva, o procurador da República Andrey Borges afirmou que 80% da propina destinada a Romano ficava com o PT. Não é possível precisar o valor total do esquema recebido pelo partido, pois o dinheiro passava pela conta de diversas empresas até chegar ao seu destino final.
Paulo Bernardo -- Em relação aos pagamentos feitos ao ex-ministro Paulo Bernardo, as evidências colhidas pelos investigadores são mais claras. A PF identificou, por meio de cerca de 100 notas fiscais apreendidas, um repasse de 7.170.031,74 reais para o escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que prestava assessoria jurídica às campanhas da senadora Gleisi Hoffmann (PT-RR), mulher de Paulo Bernardo. Oitenta por cento desse valor seria destinado a pagar despesas do ex-ministro, como, por exemplo, a renumeração de um assessor, do motorista e do próprio advogado.
Segundo a procuradoria, o acerto inicial era de que Paulo Bernardo receberia 9,6% do total do faturamento da Consist. Quando ele deixou o Ministério do Planejamento, em 2011, para assumir o das Comunicações, a propina destinada a ele foi reduzida para 4,8%, e entre 2014 e 2015, baixou novamente para 2,9%. Quem teria assumido o seu posto como mantenedor do esquema foi o então secretário de Gestão do Planejamento, Valter Correia da Silva, também preso hoje, que no ano passado deixou o cargo para ser secretário de Gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Nesta quinta, ele pediu exoneração do cargo para se defender no caso.
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