Anistia a PMs em greve seria risco para a democracia
O Globo
No Espírito Santo, apesar da volta de alguns
policiais, maioria continua aquartelada. Número de homicídios no estado
passa de 140, segundo Sindicato de Policiais Civis
Em meio aos problemas provocados pelas greves de policiais
militares no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, é importante o recado
que foi dado pelo governo federal no fim da semana passada. O ministro
da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, responsável pela
articulação política, disse que o Palácio do Planalto mobilizará a base
aliada no Congresso para vetar qualquer projeto que proponha anistia aos
PMs amotinados. “É importante deixar isso claro, pois há movimentações
iludindo pessoas que estão em greve como se fossem escapar de uma
penalização”, afirmou Imbassahy.
De fato, a esta altura, qualquer aceno de anistia aos PMs em greve —
que afrontam o estado democrático de direito — poderia soar como
estímulo a movimentos semelhantes. O alerta torna-se ainda mais
importante quando se sabe que há precedentes no Congresso. Em 2011,
bombeiros do Rio fizeram paralisações e uma série de protestos — num
deles, 439 foram presos após invadirem o quartel-general da corporação
—, que afetaram duramente a rotina da cidade. Naquele mesmo ano, cerca
de mil PMs e bombeiros em greve ocuparam a Assembleia Legislativa do
Maranhão. Também em 2011, policiais militares e bombeiros do Ceará
paralisaram suas atividades.
Apesar dos danos à população provocados por esses movimentos, em
outubro de 2011 a então presidente Dilma Rousseff sancionou lei aprovada
pelo Congresso perdoando policiais militares e bombeiros que
participaram de greves em 13 estados — entre eles o Rio — e no Distrito
Federal. Não demorou para que, em fevereiro de 2012, policiais militares
da Bahia entrassem em greve. Movimento que se repetiu em 2014. Em ambos
os episódios, o número de assassinatos no estado disparou.
Ontem, no décimo dia de greve dos policiais do Espírito Santo, a vida
começou a voltar à rotina, após a desordem da semana passada. Escolas
retomaram o funcionamento, o comércio abriu, e os ônibus circularam.
Mas, apesar de o governo ter informado que parte dos grevistas retornou
às ruas, a maioria dos policiais continua aquartelada, e o patrulhamento
é feito principalmente pela Força Nacional, pelo Exército e pela
Marinha. O número de assassinatos no estado nesse período já passa dos
140, segundo o Sindicato dos Policiais Civis.
No Rio, onde a paralisação dos policiais é parcial, o movimento, que
entrou ontem em seu quarto dia, também preocupa. Ontem, a pedido do
governador Luiz Fernando Pezão, o presidente Michel Temer autorizou o
uso das Forças Armadas para auxiliar o policiamento nas ruas.
Hoje, vê-se o estrago causado pela anistia a policiais e bombeiros
grevistas, no passado. Não se pode transigir em qualquer afronta à lei,
tampouco à Constituição federal. Leniência diante de movimentos
grevistas de servidores públicos armados é um enorme risco para a
sociedade e a democracia.
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