Rodrigo Constantino
Marine Le Pen, candidata da extrema direita na eleição presidencial da Franca, recusou-se nesta terça-feira a usar o véu para se reunir com o mufti da República do Líbano em Beirute.
Na
chegada, na manhã desta terça-feira, da presidente da Frente Nacional
(FN) para se reunir com o xeque Abdelatif Derian em seu gabinete de
Aicha Bakkar, recebeu um véu.
“A mais
alta autoridade sunita do mundo não havia feito esta exigência,
consequentemente não tenho nenhuma razão para… Mas não importa,
transmita ao grande mufti minha consideração, mas não usarei um véu”,
disse Le Pen, que deixou o local imediatamente.
A
presidente da FN se referia a sua visita em maio de 2015 ao Egito, onde
se reuniu com Ahmed al-Tayeb, o grande imã de Al Azhar, no Cairo, a
principal instituição teológica no mundo do islã sunita.
“Ontem
indiquei que não colocaria um véu. Não cancelaram o encontro. Acreditei,
portanto, que aceitariam que não usasse um véu (…) Tentaram me impor
isso”, disse Le Pen aos jornalistas.
Dar
al-Fatwa, a maior autoridade sunita no Líbano presidida pelo mufti,
declarou nesta terça-feira em um comunicado que “seu gabinete havia
informado a candidata presidencial sobre a necessidade de cobrir a
cabeça durante sua reunião com sua eminência (o mufti), segundo o
protocolo de Dar al-Fatwa”.
A
instituição se declarou “surpresa por esta rejeição a se conformar a uma
norma bem conhecida” e lamenta este “comportamento inadequado”.
O que o leitor acha disso? Le Pen faltou
com o respeito, ou o próprio anfitrião é que não soube ser tolerante
com a diversidade? Muito se fala em “tolerância” e “diversidade” na
esquerda, e o multiculturalismo parece ser exatamente isso. Mas a
impressão que fica é a de que tal tolerância só vale para um lado, que a
diversidade é aquela que sempre obriga o lado ocidental a ceder.
Le Pen é da direita nacionalista
europeia, que cresce cada vez mais, à medida que o multiculturalismo
seletivo vai cobrando mais e mais contemporização do Ocidente e
transformando sua realidade. Em vez de imigrantes muçulmanos assimilarem
a cultura que os recebe, são os próprios ocidentais que devem se curvar
diante da cultura islâmica, mesmo em bairros e cidades da Europa.
Isso tem mudado a configuração desses
locais, com sérias consequências no estilo de vida desses povos. Já há
bairros dentro da Europa em que a sharia, a lei islâmica, é
imposta pela minoria organizada. Os mais fanáticos querem proibir bebida
alcoólica, biquínis, tudo aquilo que sempre foi uma conquista liberal
no Ocidente. Como aceitar isso calado?
É por conta desse multiculturalismo que a
direita nacionalista cresce. Qualquer um que criticar essa mudança
cultural é logo tachado de “islamofóbico”. Afinal, é preciso abraçar a
“diversidade”, o que significa deixar uma cultura estranha entrar e
mudar a nossa, já que o outro lado nunca precisa endossar a mesma
diversidade.
Atos como este de Le Pen são simbólicos,
e vão conquistar milhões de eleitores. Por que ela, uma ocidental, deve
ceder? “Ah, não custa nada colocar um véu, e seria sinal de respeito ao
outro”, alguém pode argumentar. Mas o que custa, então, aceitar que ela vem de uma cultura diferente onde mulheres não precisam cobrir o rosto para falar com homens? Que tal cobrar deles essa mesma tolerância à diversidade, esse mesmo respeito ao próximo?
Pois é. O multiculturalismo é no fundo
hipócrita. O próprio Ocidente, mais tolerante e liberal, acaba sendo
alvo dos piores ataques, como se fosse intolerante e xenófobo, enquanto
as demais culturas, claramente mais atrasadas, não são julgadas com base
nos mesmos critérios e padrões. Isso chama-se, no meu dicionário,
hipocrisia. E o povo já se deu conta disso.
Se a esquerda caviar continuar impondo
essa agenda acovardada e hipócrita, a direita nacionalista representada
por gente como Le Pen vai só crescer mais ainda. Donald Trump já venceu
nos Estados Unidos, para choque desses que vivem na bolha politicamente
correta. Talvez quando Le Pen vencer na França essa turma finalmente
acorde…
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