Realidade supera teoria
A escolha do ministro da Justiça Alexandre de Moraes
obedece a critérios técnicos requeridos de um ministro do Supremo
Tribunal Federal – é um constitucionalista reconhecidamente de valor,
não é por acaso que tem o apoio de muitos de seus futuros colegas no
STF.
Foi o primeiro nome cogitado, e sempre esteve na lista
pessoal de Temer. Como houve um impasse, tantos eram os nomes
apresentados, e tamanhas as pressões, o presidente escolheu um nome seu.
As críticas que Alexandre de Moraes vem recebendo são da área política,
onde sua atuação como Secretário de Justiça em São Paulo e ministro da
Justiça é atacada como conservadora e excessivamente rigorosa.
Suas
ambições políticas – era potencial candidato ao governo de São Paulo
pelo PSDB – teoricamente neutralizam a isenção que se exige de um
ministro do Supremo, mas não é o primeiro nem será o último ministro a
ser nomeado para o STF pelo presidente a que serve.
Temos
exemplos para todos os gostos: Nelson Jobim e Gilmar Mendes, ministros
nomeados por Fernando Henrique; Dias Toffolli, nomeado por Lula;
Francisco Rezek por Collor e Mauricio Correia por Itamar. Desses,
Correia era senador, e Nelson Jobim foi deputado federal e membro da
Constituinte, e acabou se destacando justamente por sua experiência
nesse campo. Ficou muito ligado também ao ex-presidente Lula, e sua
atuação no Supremo, até aposentar-se, não foi afetada por ligações
políticas.
Mesmo o ministro Dias Toffoli, ainda visto como ligado
ao PT, tem recebido críticas de seus antigos aliados, tanto por sua
aproximação com o ministro Gilmar Mendes, quanto por vários votos
contrários ao Planalto no governo Dilma.
O novo ministro do STF
assumirá a função de revisor das decisões da Lava Jato em plenário, isto
é, dos processos que envolvam eventualmente os presidentes da Câmara,
do Senado e o presidente Michel Temer. De acordo com o regimento interno
do Supremo, o revisor deve ser o ministro que entrou no tribunal logo
em seguida do relator, no caso Facchin.
O revisor tem três
funções: sugerir ao Relator medidas da fase inicial do processo que
tenham sido omitidas; confirmar, completar ou retificar o relatório;
pedir dia para julgamento. Quando aprovado pelo Senado, Alexandre de
Moraes vai substituir Luís Roberto Barroso, que era o revisor de Teori
Zavascki no plenário.
Pela ordem prevista no Regimento Interno
do STF, o revisor é sempre o primeiro a votar depois do relator, o que
já causou muita tensão nas sessões do mensalão, por exemplo, quando o
revisor de Joaquim Barbosa era o ministro Ricardo Lewandowski. O relator
acusou por diversas vezes o revisor de tentar prolongar o julgamento se
utilizando de suas prerrogativas.
Esse é talvez o maior
obstáculo político à indicação do ministro da Justiça, já que o
presidente Temer pode ser um dos citados pelas delações da Operação Lava
Jato. Ele, no entanto, provavelmente não terá que revisar nenhum
processo contra Temer, pois pela tese que vigora, o presidente da
República não pode nem mesmo ser investigado por fatos anteriores ao seu
mandato, muito menos processado.
O Procurador-Geral da República
já se pronunciou a esse respeito em relação à ex-presidente Dilma
Rousseff, e mesmo que ministros do atual Supremo, como o decano Celso de
Mello, considerem que a lei não impede a investigação sobre o
presidente, mas sim que ele seja processado, Rodrigo Janot não deve
mudar de posição, e é ele quem pode pedir uma investigação do
presidente.
A realidade mais uma vez se impôs à teoria, deixando
para Alexandre de Moraes a necessidade de uma explicação. Na sua tese de
doutorado, em 2000, escreveu que um ministro não deveria ser nomeado
pelo governo a que servia para que não houvesse dúvida sobre sua
independência.
Aceitando a indicação, Alexandre de Moraes
desmente parcialmente a própria tese. No exercício da função no Supremo,
terá tempo para provar que uma vez investido no cargo, a toga traz
consigo a independência.
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