Que vá ser político! Mas não o fará. Quer ser um ministro do STF e, protegido por uma quase intocabilidade dentro do aparelho de estado, atuar para miná-lo
Porque ele não se conforma com o seu
papel de magistrado. Nota-se o seu desconforto com os limites que lhe
são impostos pela Constituição. Barroso, a gente percebe, quer ser
legislador, tem aspirações a Rasputin do Executivo; vende suas
idiossincrasias e heterodoxias como se fossem um novo umbral do
pensamento. Confessadamente — basta ler o que escreveu sobre novo
constitucionalismo, entende que o papel de um magistrado é fazer justiça
com a própria toga, mandando pra tonga da milonga do cabuletê os
códigos que temos.
A sua mais recente e estupefaciente
diatribe foi conceder duas entrevistas verdadeiramente espantosas, em
que defende a legalização total da maconha — da produção ao consumo —
como etapa primeira do liberou-geral para as outras drogas. Segundo ele,
isso vai tirar força do crime organizado (mentira verificável),
diminuir a violência (mentira estimável pela lógica) e desafogar os
presídios: bem, isso aconteceria porque criminosos deixariam de sê-lo…
Barroso tem uma ideia para a superlotação das penitenciárias: soltar os
bandidos.
No dia em que sua entrevista saiu no
Globo, o jornal publicou um editorial com esse mesmo conteúdo. E com
igual profundidade, diga-se. É impressionante: a mesma elite carioca que
sonhou que as UPPs mudariam a segurança pública do Rio ao não prender
bandidos resolveu, como o médico louco, dobrar a dose do remédio errado.
Antes, tratava-se de não prender criminosos. Agora, eles querem soltar.
A tese de Barroso é bisonha, cretina.
Ele já começa com um erro de lógica elementar, tendo como referência a
história que não houve e descartando a que houve: “O combate às drogas
não deu resultado; então vamos legalizá-las”. É um raciocínio asnal. Até
porque não sabemos como seria o mundo se liberadas fossem. Mas ao erro
conceitual somam-se as tolices. O tabaco é liberado no Brasil, e o
contrabando de cigarro movimenta milhões. Mais: se e quando todas as
drogas forem liberadas, os bandidos passarão a trabalhar de carteira
assinada, é isso? Vão trocar a criminalidade pelo “fordismo”? “Pô, já
que não dá mais para ganhar a vida vendendo pó, então vou ser
trabalhador com carteira assinada…” Este senhor não sabe do que fala.
Ou, pior, só fala do pouco que sabe, mas com complexo de Deus. O Brasil
não é a Zona Sul do Rio, onde o pecado não existe…
O Brasil faz fronteira com 10 países.
Quatro deles são grandes produtores de droga: Colômbia, Peru, Bolívia e
Paraguai. Outros contam com traficantes organizados, como Venezuela,
Argentina e Uruguai. A isso se somam 7.491 quilômetros de litoral.
Imaginem se um governo decidisse seguir a proposta do sr. Barroso… De
resto, já abrigamos experiência de legalização: as cracolândias.
O senhor Roberto Barroso é, na verdade,
um militante. Repete, inclusive, as mentiras — com todas as vênias — dos
grupos favoráveis à legalização das drogas. Essa gente começou cobrando
que o simples consumo não rendesse cadeia. Assim é a lei brasileira. É
mentira que os presídios estejam apinhados de simples consumidores. Quem
está trancafiado por causa de droga estava traficando. Pois bem! Então
chegou a hora, diz Barroso, de soltar os traficantes.
Descabido
É claro que não cabe a um ministro do Supremo dar-se a essas especulações. Que renuncie à toga e vá disputar eleição, ora essa. Mas não o fará. Barroso quer precisamente isto: ser um ministro do Supremo, estar protegido por uma quase intocabilidade e, dentro do aparelho de estado, atuar para minar as suas bases.
É claro que não cabe a um ministro do Supremo dar-se a essas especulações. Que renuncie à toga e vá disputar eleição, ora essa. Mas não o fará. Barroso quer precisamente isto: ser um ministro do Supremo, estar protegido por uma quase intocabilidade e, dentro do aparelho de estado, atuar para minar as suas bases.
Ou não foi isso o que fez num simples
julgamento de habeas corpus em favor de uma mulher e seu médico, que
tiveram prisão preventiva decretada por prática de aborto? Barroso
afastou a prisão porque, disse, não via os requisitos necessários para
tanto. Compreensível. Mas também concedeu a liberdade à dupla porque,
segundo disse, o Código Penal colide com a Constituição. Seu voto está aqui.
Trata-se de um dos maiores absurdos a que aquela corte assistiu. Quando
menos porque o senhor ministro conferia ares de votação de Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental ou de Ação Direita de
Inconstitucionalidade à votação de um simples habeas corpus. Não teve
dúvida: bateu o martelo e decidiu, como um César dos Fetos, que o aborto
até o terceiro mês de gravidez crime não é.
“Impeachment porque ele quer legalizar
as drogas, Reinaldo?” Não. Essa defesa destrambelhada e burra que fez só
expõe a sua natureza. Ele tem de ser impichado é por seu solene
desprezo ao Congresso, já verificado muitas vezes. Ele tem de ser
impichado porque parece entender que seu papel no Supremo é rasgar os
diplomas legais que não estão a seu gosto.
Volto o início Quando
saúdo a possível indicação de Alexandre de Moraes para o STF, não me
interessa criar uma polarização com Barroso. Seria uma tolice. Eu
aplaudo tal escolha, caso se dê, porque, de onde enxergo as coisas,
diviso alguém que se pauta pelo respeito às normas. Nem sei o que Moraes
pensa sobre aborto. Mas de uma coisa tenho certeza: está entre aqueles
que reconhecem a obviedade de que cabe ao Congresso mudar o Código
Penal, não ao Supremo.
O nome disso nem é “ativismo judicial”,
expressão que já acho horrível porque me parece implicar o passivismo
institucional. O nome disso é crime de responsabilidade.
Impeachment já para Barroso! Dadas as suas concepções, que vá caçar votos e sapos.
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