A França cansa a Europa
Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
PARIS - A França começa a cansar a Europa. E, na Europa,
mais precisamente, os fiscais de Bruxelas encarregados de verificar se
os Estados membros respeitam as regras contidas no tratado fundador do
Pacto de Estabilidade.
Uma destas regras diz respeito à dimensão dos déficits públicos. Os
países comprometeram-se a não deixar que estes déficits ultrapassem 3%
do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, o presidente da França,
François Hollande, explicou aos "senhores" de Bruxelas que, antes de
mais nada, ele precisava saldar a herança calamitosa das contas do seu
predecessor, Nicolas Sarkozy, e que portanto merecia indulgência.
Bruxelas concordou. A França obteve o direito de registrar um déficit
igual a 3,6% do seu PIB em 2014. Por outro lado, em 2015, ela terá de
cumprir o que se espera dela, ou seja, fazer com que seus déficits
públicos voltem para 3% do PIB.
Bruxelas confiou em Paris. Todo mundo pôde dormir tranquilo.
Principalmente a França. Afinal, a palavra da França era de ouro, não havia por que se preocupar. Ela cumpriria suas promessas.
Hoje, porém, descobrimos uma verdade extraordinária: a palavra da
França não é de ouro, mas de chumbo. Não vale nada. Os fiscais de
Bruxelas pegaram suas calculadoras e revelaram a terrível verdade: em
2014, o déficit da França será de 4% do seu PIB. E em 2015, ainda será
de 3,9%.
O que exaspera os comissários de Bruxelas é a desenvoltura de Paris.
São tomadas as devidas resoluções. Fazem-se juramentos, anúncios
mirabolantes, e em seguida, tudo é esquecido. Outro exemplo dessas
promessas mentirosas. Ao chegar ao poder, dois anos atrás, Hollande
anunciou aos franceses que o desemprego começaria a baixar no fim de
2013, promessa regularmente reiterada. Mas no dia 31 de dezembro,
tivemos de constatar que o desemprego, longe de diminuir, longe mesmo de
se estabilizar, continuava aumentando. E como aumenta a um ritmo um
pouco menos rápido em relação a um ano atrás, os ministros franceses
explicaram o caso do seguinte modo: "Sem dúvida, o desemprego não
diminui, o que diminui é a velocidade do aumento do desemprego, e isto
não é tão ruim".
As pessoas se perguntam se explicações tão engenhosas, e neste caso
inclusive estúpidas, conseguirão convencer os severos "guardiões do
Templo Europeu". E particularmente a rigorosa Madame Merkel, pouco
dotada de senso de humor.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Nenhum comentário:
Postar um comentário