Paulo A. Paranagua - Le Monde
Na Europa, os 28 países-membros finalmente concordaram em um ponto: a "posição comum" da União Europeia (UE) quanto a Cuba não fez a situação avançar. Subordinar as relações com Havana ao respeito dos direitos humanos na ilha não impediu a onda repressiva de 2003, nem favoreceu as aberturas econômicas consentidas desde que Fidel Castro, 87, passou o bastão para seu irmão mais novo Raúl, 82, em 2006. Os europeus temem perder sua vantagem nas oportunidades que vêm surgindo em Cuba, em plena transição de uma economia 100% estatal para uma economia mista. Daí a decisão da UE de virar a página e de buscar uma aproximação com Havana.
O regime castrista está exultante, por achar que nessas admissões de fracasso encontrará o meio de fazer com que esqueçam seu próprio fiasco. A implosão da "ala socialista" e da União Soviética havia precipitado a crise do socialismo cubano, que dependia de ajuda. Durante os anos 1990, os cubanos tiveram grandes dificuldades para pagar suas contas. As "conquistas da revolução" --saúde e educação-- se tornaram uma lembrança distante diante das penúrias diárias.
Há cerca de quinze anos, o petróleo venezuelano, em parte revendido no mercado internacional, substituiu os subsídios soviéticos. Mas nem a produção, nem o nível de vida dos cubanos voltaram a ter o mesmo nível de antes. Além da ajuda de Caracas, as receitas em divisas se resumem ao turismo, às exportações de níquel e aos envios de fundos dos expatriados, as "remessas" (US$ 2 bilhões ao ano).
A falência do castrismo não veio com a queda do muro de Berlim. René Dumont, o pai da ecologia moderna, já havia feito uma constatação de fracasso nos anos 1960, quando Havana era uma festa para muitos visitantes estrangeiros apressados. A derrota das guerrilhas na América Latina havia levado Fidel Castro a voltar à monocultura da cana-de-açúcar, com a meta de uma "zafra" de 10 milhões de toneladas, que não foi atingida. Então os anos 1970 levaram o Líder Máximo para a sovietização ao extremo, com o resultado catastrófico que se seguiu vinte anos mais tarde. Despida de seu verniz igualitarista, a ideologia castrista se transformou em simples nacionalismo, como se a resistência por várias décadas de antagonismo contra o grande vizinho do Norte bastasse para explicar todos os sacrifícios impostos à população. O mito de Davi e Golias resiste.
Os Estados Unidos e o Vietnã fizeram as pazes há muito tempo, a China e Taiwan ensaiam uma aproximação. Evidentemente, a ausência de relações diplomáticas entre Washington e Havana é uma herança ultrapassada. Aliás, as duas capitais têm colaborado em vários assuntos espinhosos, tais como a imigração e o terrorismo. Mesmo a segurança da base americana de Guantánamo, no leste da ilha, é alvo de encontros regulares entre os militares dos dois países.
Um em cada cinco cubanos vive no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Essa diáspora constitui uma imensa reserva cujo investimento poderia compensar a falta de uma poupança interna. Os vietnamitas e os chineses, também empenhados em deixar a economia estatal, não hesitaram em usá-la. Mas para isso Cuba precisa de regras claras, que não se voltem contra os parceiros, como foi o caso de estrangeiros que investiram na ilha. Só que o Estado de direito e a liberdade de empreendimento são indissociáveis de uma justiça independente, da liberdade de associação e de comunicação, de todas as liberdades fundamentais. E Havana ainda está bem distante disso.
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