Reinaldo Azevedo - VEJA
Que preguiça!
Desde
quando, mundo afora, um chefe de governo bate boca com um órgão de
comunicação porque este emitiu uma opinião desfavorável? Aconteceu mais
uma vez com Dilma. O jornal “Financial Times” publicou nesta quarta um
editorial em que afirmou que Guido Mantega deveria ser substituído por
um ministro da Fazenda pró-mercado. Segundo o texto, diante do Brasil,
os investidores antes diziam: “Vamos lá”. Agora, “deixem pra lá”. Pois
é… Imaginem o presidente Obama mobilizando seus assessores para
responder a editoriais críticos aos EUA…
Dilma
subiu nas tamancas mais uma vez. Thomas Traumann, secretário de
Comunicação, enviou uma resposta ao jornal cheia de ironia, um atributo
das almas superiores. “Talvez [o critério utilizado seja] um crescimento
econômico de 2,3% em 2013, ou uma taxa de desemprego de 5,4% no ano
passado, ou talvez reservas internacionais de US$ 376 bilhões e taxas de
inflação abaixo de 6%”. Com isso, convidava os britânicos a comparar a
sua própria taxa de crescimento (1,8%) e de desemprego (7,1%) com as do
Brasil. Com a devida vênia, é pra enganar trouxa. Se for para falar a
sério, então é preciso começar a comparação pelo PIB per capita. Mais:
um empregado considerado “classe média” no Brasil certamente preferiria
ser um desempregado na Grã-Bretanha…
Mas a
questão relevante é outra. Não foi o governo britânico que se referiu ao
Brasil, mas um jornal. Será que a Casa Branca enviará uma carta à VEJA
ou à Folha ironizando o Brasil se esses dois veículos criticarem em
editorial decisões daquele governo? Trata-se de uma jequice calculada.
Esse tipo de coisa açula um certo nacionalismo bocó.
Não é a
primeira vez que o Planalto faz isso. Em dezembro de 2012, a revista The
Economist, também britânica, alertava que o Brasil estava se tornando
menos atraente e que Mantega já não era mais capaz de enfrentar os
desafios da economia. Criticou ainda o excesso de ingerência do estado:
“Um bom exemplo é o aparente desejo de Dilma de reduzir o retorno sobre o
investimento na ‘base do porrete’, não só para bancos, mas também para
as empresas de energia elétrica e fornecedores de infraestrutura”,
escreveu a Economist, numa referência à insistência do Palácio do
Planalto em querer convencer empresários a investir ao mesmo tempo em
que lhes negava um retorno adequado para participar dos investimentos.
Bem, tanto
a revista estava certa que o governo mudou as regras das concessões —
embora tarde. Dilma ficou brava e chegou até a evocar a soberania
nacional. Não é a primeira vez, diga-se, que o Financial Times aponta o
acabrunhamento do Brasil. Em fevereiro do ano passado, diante do baixo
crescimento de 2012, o jornal já chama o ministro da Fazenda de “Guido
Vidente”.
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