Fluxo de capitais positivo, porque é bom negócio
O Estado de S.Paulo
Os juros reais voltam a atrair capitais voláteis para o
Brasil. Até quarta-feira, o fluxo cambial foi positivo em US$ 1 bilhão,
segundo o Banco Central. Como mostrou reportagem do Estado, na quinta-feira, a volta dos recursos traz novo custo fiscal.
Desde que o banco central norte-americano (Fed) anunciou a política
de tapering, em 2013, reduzindo as compras de títulos em poder do setor
privado e retomando maior controle monetário, os mercados globais
passaram a enfrentar fases de grande volatilidade, obrigando os
emergentes a elevar juros para atrair recursos. A alta de juros dos
títulos públicos norte-americanos, na quarta-feira, reforçou essa
pressão. Foi o resultado da leitura da ata da última reunião do Fed: com
a economia americana em recuperação, a alta do juro é inevitável.
No Brasil, depois de semanas de acesso reduzido ao mercado global, as
aplicações externas voltaram. Do dia 3 ao dia 19 deste mês, entraram
US$ 2,13 bilhões pela conta financeira, onde estão investimentos
diretos, aplicações em carteira e remessas de lucros e dividendos.
Segundo especialistas, os preços dos papéis brasileiros já embutem o
risco de um rebaixamento da classificação do País pela agência de rating
Standard & Poor's.
Às oscilações dos mercados globais soma-se a volatilidade do mercado
brasileiro, agravada pelo ano eleitoral. O aperto econômico previsto
para 2015, qualquer que seja o próximo presidente da República, abre o
caminho para movimentos especulativos com os papéis do País. A perda de
valor dos títulos públicos de longo prazo, em 2013, agravou o sentimento
de desconfiança dos investidores.
Com o aumento dos juros básicos de 3,25 pontos porcentuais, nos
últimos 12 meses - e a perspectiva de que o ciclo de alta da taxa Selic
não esteja esgotado -, os papéis brasileiros passaram a oferecer juros
reais muito atraentes para os aplicadores globais. Tomar recursos
baratos no exterior para aplicar em títulos com juros elevados, no
Brasil, voltou a ser bom negócio.
É um movimento que não interessa ao País, salvo por curto período de
tempo, enquanto o governo tenta combater o desgaste provocado pelos
déficits fiscal e cambial mediante aumento do superávit primário. Mas a
demora em acordar para os riscos da deterioração fiscal levou o governo a
ter de pagar juros reais muito elevados, sem a certeza de que essa
situação seja apenas transitória.
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