Dilma empurra PMDB para o coro de “Volta, Lula”
João Bosco Rabello - OESP
A resposta do governo ao PMDB destoa pela forma, mais do que
pelo conteúdo – este também impróprio para uma parte dos negociadores
que pretende efetivamente chegar a um acordo político.
Como os atores desse processo não desconhecem o mais elementar da
arte da negociação política, deve se deduzir que a presidente Dilma
Rousseff, através de seu porta-voz, o ministro Aloísio Mercadante,
decidiu mesmo hostilizar o partido.
Entre a negativa e a rispidez está o espaço de negociação que esta
última retira do processo. A resposta de Mercadante, sugerindo que os
peemedebistas se contentem com uma foto ao lado da presidente, para além
de superestimar seu índice de aprovação, tem embutida a arrogância que
nega o espírito conciliador.
De outro lado, o PMDB reage com o bloco de retaliação ao governo
aderindo ao “Volta, Lula”, encorpando o coro contra a reeleição de
Dilma.
Tem-se aqui algo em que refletir: o ministro da Casa Civil,
representante do PT, acirra os ânimos já exaltados do partido e obtém
como retorno a adesão do rival ao movimento que pretende tirar de cena
eleitoral a presidente da República.
Das duas formas, a presidente sai derrotada. Não resgata o apoio
político do PMDB e vê estendida ao resto da base aliada o movimento pela
sua saída. Já bombardeada pelo fogo amigo, agora reduz o apoio da base
ao seu governo.
O cenário contraria a lógica política clássica. Quando em desvantagem
de um lado, busca-se apoio no outro, mas Dilma escorraça o PMDB quando
lhe falta apoio em seu próprio partido. Ao invés de fortalecer-se para
reequilibrar as relações com o PT, age aumentando a oposição a si
própria.
Produz assim o mais difícil – unir PT e PMDB, em ano eleitoral, no
único ponto em que isso seria possível: a aliança com Lula, ainda que
esteja superavaliado o papel do ex-presidente como salvador da crise
política e econômica.
O rompimento formal do PMDB com o governo, hipótese remota há alguns
meses, hoje está a um passo de ocorrer, pelo menos com o voto de parcela
expressiva da legenda na convenção prevista para março.
Nada mais propício para viabilizar a candidatura de Lula sem que a
troca possa ser atribuída ao fracasso econômico da gestão de sua
sucessora.
A crise fomentada pelo conflito com a base daria roupagem política à
troca, poupando Lula da acusação de golpe ou de ter que explicar porque
sua afilhada não deu certo. Passa a ser uma operação baseada no risco da
derrota eleitoral.
A adesão do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
ao queremismo petista tem mais sentido objetivo do que a ameaça contida
na decisão de estimular a investigação contra a Petrobrás.
E põe em xeque a condução das negociações com o PMDB que azedaram
mais depois de assumida pelo ministro da Casa Civil – que chegou ao
cargo saudado como um perfil político que melhoraria as relações do
governo com sua base.
Não há, no entanto, improviso que explique o discurso de Mercadante
aos peemedebistas, senão como uma peça deliberada de ruptura. “Se
virem”, é a síntese mais polida para a fala do ministro ao partido.
Como o efeito era previsível, o resultado surge como objetivo previamente traçado.
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