O BC parece contar com a desaceleração da economia
O Estado de S.Paulo
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de
elevar a taxa básica de juro em 0,25 ponto porcentual, de 10,5% ao ano
para 10,75% ao ano, era esperada pelos agentes econômicos, o que
facilitou a adoção dessa taxa. Mas há uma interpretação corrente no
mercado de que a elevação da Selic ficou apenas na metade da adotada nas
últimas reuniões (0,5 ponto porcentual) porque o Banco Central (BC)
parece acreditar que o desaquecimento da economia completará o trabalho
de controlar a inflação, evitando assim a necessidade de maiores
aumentos do juro básico.
O comunicado do Copom distribuído após a reunião de terça e
quarta-feira não fechou as portas para novas altas da taxa básica. O
texto repete que a decisão dá "prosseguimento ao processo de ajuste da
taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013". O Banco
Central foi prudente. A questão é saber se teria sido melhor, para a sua
credibilidade, elevar mais um vez o juro em 0,5 ponto porcentual.
Nos últimos dez meses, o juro básico subiu 3,5 pontos porcentuais -
abrindo espaço para a alta dos juros nas operações livres, ajudando a
reduzir o ritmo da oferta de crédito.
Mas a inflação caiu relativamente pouco no período. O IPCA acumulado
em 12 meses passou de 6,49% ao ano, em abril, para 5,59% ao ano, em
janeiro - ou seja, cedeu 0,9 ponto porcentual, menos do que a alta da
Selic. A inflação projetada para 2014 e 2015 continua acima das metas -
6% e 5,7%, respectivamente, segundo a pesquisa Focus.
Houve poucas críticas à deliberação do Copom, mas o ex-presidente do
BC Gustavo Loyola notou que o maior risco para a inflação vem do câmbio,
que o governo não controla. Já a economista Monica de Bolle, da Casa
das Garças, acredita que o crescimento do PIB, neste ano, poderá ser
semelhante ao de 2013 - acima, portanto, da média das projeções, de
1,67%, neste ano. Para o PIB crescer 2,3% ou mais, a demanda também terá
de crescer, com o risco de mais inflação e, assim, estimulando novas
elevações do juro.
Não há, por ora, a possibilidade de prever, com boa margem de
segurança, se o juro básico voltará a subir na próxima reunião do Copom
ou se será mantido nos 10,75% ao ano válidos desde ontem. Isso dependerá
da inflação. Que terá como pressão adicional, em relação a 2013, um
reajuste maior dos preços administrados. Com alta de 0,5 ponto, o BC
teria mostrado vontade mais firme de usar a única arma de que o governo
dispõe.
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