Ian Lovett - NYT
Em um recente dia chuvoso, Esha Moya se viu do lado de fora de uma
mercearia localizada na zona sul de Los Angeles com meia dúzia de
sacolas de papel se desmanchando na chuva e desejando ter nas mãos
alguns dos pequenos itens que durante sua vida inteira foram gratuitos e
abundantes, mas que agora estão proibidos nesta cidade: as sacolas
plásticas.
"Eu odeio isso", disse Moya, operadora de telemarketing e mãe de dois filhos. Ela começou a armazenar sacolas plásticas em casa porque as sacolas de papel "estão sempre rasgando", disse ela. "É idiota e elas dificultam muito a nossa vida".
Companheiras dos consumidores durante meio século, atualmente as sacolas plásticas estão correndo perigo de desaparecer da Califórnia, onde um número crescente de políticos passou a considerá-las como um símbolo do desperdício ambiental.
Desde 2007, as sacolas plásticas foram proibidas em quase 100 municípios do estado, incluindo a cidade de Los Angeles, que no início deste ano se tornou a maior cidade dos Estados Unidos a adotar a proibição. As sacolas de papel, que são biodegradáveis e mais fáceis de reciclar, muitas vezes são disponibilizadas após o pagamento de uma pequena taxa.
Mas agora os parlamentares de Sacramento estão tentando transformar a Califórnia no primeiro estado norte-americano a aprovar uma proibição generalizada para essa embalagem ubíqua.
"Cada vez mais, têm ficado mais claros para o público os danos ambientais causados pelas sacolas plásticas produzidas para serem utilizadas apenas uma vez", disse Alex Padilla, senador estadual que está patrocinando a legislação referente à proibição das sacolas plásticas em todo o estado da Califórnia. "Esse é o início da eliminação das sacolas plásticas de uso único – e ponto final".
A medida de Padilla proibiria as tradicionais sacolas plásticas descartáveis (ou de uso único) em supermercados, lojas de bebidas e outros locais onde elas marcaram presença durante muito tempo. Sacolas de papel e sacolas reutilizáveis mais robustas seriam disponibilizadas por uma taxa de US$ 0,10 com o objetivo de obrigar os consumidores a se lembrarem de trazer suas sacolas de lona de casa.
O argumento contra as sacolas plásticas é simples e – após mais de 150 comunidades dos Estados Unidos terem adotado algum tipo de lei contra elas – cada vez mais familiar. As sacolas plásticas são usadas uma ou duas vezes, mas podem durar até mil anos depois de descartadas.
Apenas uma pequena fração das sacolas plásticas é reciclada, em grande parte porque elas entopem as máquinas de triagem das usinas de reciclagem e, por isso, precisam ser separadas dos outros tipos de plástico. Muitas sacolas acabam presas a árvores ou em bueiros ou vão parar em aterros sanitários.
Nos últimos anos, as proibições locais ao uso de sacolas plásticas se espalharam de São Francisco e Honolulu até North Shore, em Massachusetts. Washington, capital dos EUA, impôs uma taxa de US$ 0,05 e a cidade de Nova York considerou várias vezes cobrar pelas sacolas – a última vez, no ano passado, quando a proposta foi ignorada no final do período legislativo da cidade. O novo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, manifestou apoio à proibição das sacolas plásticas.
Muitos consumidores se assustam com a ideia de ter que pagar por um produto que sempre foi gratuito. "Nós já estamos enfrentando dificuldades", disse Moya enquanto esperava na chuva por um táxi com suas sacolas de papel parcialmente desintegradas nas mãos, compradas por US$ 0,10 cada. "Os produtos que eu compro no supermercado já custam bastante dinheiro. E eu ainda tenho que pagar pelas sacolas?"
Os fabricantes de plásticos têm trabalhado arduamente para reduzir essa frustração. Até agora, o setor – que já gastou milhões de dólares para fazer lobby com os parlamentares – conseguiu derrotar os esforços destinados a aprovar proibições estaduais na Califórnia e em um punhado de outros estados norte-americanos.
A Hilex Poly, uma das maiores fabricantes de sacolas plásticas do país, gastou sozinha mais de US$ 1 milhão para fazer lobby contra um projeto de lei que tinha como objetivo proibir as sacolas plásticas na Califórnia em 2010. Esse projeto fracassou, assim como outra tentativa feita em 2013. A Hilex Poly, sediada em Hartsville, no sul da Califórnia, fez doações políticas para todos os democratas do senado da Califórnia que se uniram aos republicanos na votação contra o projeto de lei do ano passado.
Mark Daniels, vice-presidente da Hilex Poly, disse que a proibição custaria ao Estado cerca de dois mil postos de trabalho.
"Isso vai custar aos californianos milhões e milhões de dólares", disse Daniels sobre a legislação vigente. "Eles vão ter que comprar milhões de sacolas supostamente reutilizáveis da China".
Mas o apoio à proibição vem crescendo constantemente no legislativo da Califórnia. Na quinta-feira passada, o jornal Los Angeles Times endossou a adoção de uma proibição estadual, e vários senadores que votaram contra a proibição no ano passado saíram em seu apoio agora.
Alguns ambientalistas dizem acreditar que agora é o momento certo para fazer pressão pela aprovação de proibições em todo o país, a começar pela Califórnia.
"Essa proibição é muito eficaz e ela também trará um bom custo-benefício", disse Kerrie Romanow, diretora de serviços ambientais de San Jose, na Califórnia.
Desde que a proibição às sacolas entrou em vigor em San Jose, em 2012, as sacolas plásticas jogadas no lixo --e que vão parar em bueiros durante tempestades, podendo contribuir para provocar inundações --diminuíram 89%. Em algumas partes do condado de Los Angeles, grandes lojas de varejo informaram uma queda no uso de sacolas de papel desde que a adoção de uma proibição semelhante, aliada a uma taxa de US$ 0,10 cobrada pelas sacolas de papel, entrou em vigor.
"As pessoas estão se adaptando muito rapidamente", disse Romanow. "Os dias em que os consumidores compravam uma única barra de chocolate e recebiam uma sacola plástica acabaram".
Abbi Waxman, que trabalha como roteirista de TV em Los Angeles, disse que tentou durante anos parar de usar as sacolas plásticas. Mas, apesar dos olhares de enviesados dos caixas de supermercado, ela raramente se lembrava de trazer suas sacolas de pano de casa.
"A mudança real só ocorreu quando eles começaram a me cobrar pelas sacolas de plástico. Foi aí que eu realmente passei a me lembrar de trazer as minhas sacolas de casa", disse Waxman, 43, que dia desses podia ser vista com meia dúzia de sacolas reutilizáveis na mão em um supermercado.
"Sem brincadeira: eu tenho cerca de 40 sacolas reutilizáveis em casa, pois eu me sinto tão culpada quando vou fazer compras sem elas que eu compro mais uma a cada vez que vou ao mercado", disse ela.
Daniels, vice-presidente da Hilex Poly, disse que as sacolas plásticas foram tachadas injustamente de bode expiatório para uma variedade de males ambientais. Segundo ele, as sacolas plásticas finas são reutilizadas – elas são usadas como sacolas para carregar alimentos e sevem de forro para latas de lixo, além de serem muito úteis na hora de coletar as fezes dos animais de estimação.
Mas outros fabricantes de produtos plásticos começaram a abraçar as mudanças em seu setor.
"O setor será destruído se não se mostrar disposto a evoluir e mudar", disse Pete Grande, presidente da Command Packaging de Vernon, na Califórnia, que está começando a produzir sacolas mais resistentes e reutilizáveis a partir de plástico agrícola reciclado.
No ano passado, Grande se opôs ao projeto de lei para proibir as sacolas plásticas descartáveis na Califórnia. O mesmo fizeram os dois democratas que representam Vernon no senado estadual.
Este ano, todos eles apoiam o projeto de lei que permitirá que as lojas ofereçam sacolas plásticas mais duráveis, além de sacolas de papel, por uma pequena taxa quando os consumidores passarem pela fila do caixa.
"Nós vivemos durante milhares de anos sem sacolas plásticas descartáveis", disse Padilla, patrocinador do projeto. "Eu acredito que nós vamos ficar bem sem elas".
"Eu odeio isso", disse Moya, operadora de telemarketing e mãe de dois filhos. Ela começou a armazenar sacolas plásticas em casa porque as sacolas de papel "estão sempre rasgando", disse ela. "É idiota e elas dificultam muito a nossa vida".
Companheiras dos consumidores durante meio século, atualmente as sacolas plásticas estão correndo perigo de desaparecer da Califórnia, onde um número crescente de políticos passou a considerá-las como um símbolo do desperdício ambiental.
Desde 2007, as sacolas plásticas foram proibidas em quase 100 municípios do estado, incluindo a cidade de Los Angeles, que no início deste ano se tornou a maior cidade dos Estados Unidos a adotar a proibição. As sacolas de papel, que são biodegradáveis e mais fáceis de reciclar, muitas vezes são disponibilizadas após o pagamento de uma pequena taxa.
Mas agora os parlamentares de Sacramento estão tentando transformar a Califórnia no primeiro estado norte-americano a aprovar uma proibição generalizada para essa embalagem ubíqua.
"Cada vez mais, têm ficado mais claros para o público os danos ambientais causados pelas sacolas plásticas produzidas para serem utilizadas apenas uma vez", disse Alex Padilla, senador estadual que está patrocinando a legislação referente à proibição das sacolas plásticas em todo o estado da Califórnia. "Esse é o início da eliminação das sacolas plásticas de uso único – e ponto final".
A medida de Padilla proibiria as tradicionais sacolas plásticas descartáveis (ou de uso único) em supermercados, lojas de bebidas e outros locais onde elas marcaram presença durante muito tempo. Sacolas de papel e sacolas reutilizáveis mais robustas seriam disponibilizadas por uma taxa de US$ 0,10 com o objetivo de obrigar os consumidores a se lembrarem de trazer suas sacolas de lona de casa.
O argumento contra as sacolas plásticas é simples e – após mais de 150 comunidades dos Estados Unidos terem adotado algum tipo de lei contra elas – cada vez mais familiar. As sacolas plásticas são usadas uma ou duas vezes, mas podem durar até mil anos depois de descartadas.
Apenas uma pequena fração das sacolas plásticas é reciclada, em grande parte porque elas entopem as máquinas de triagem das usinas de reciclagem e, por isso, precisam ser separadas dos outros tipos de plástico. Muitas sacolas acabam presas a árvores ou em bueiros ou vão parar em aterros sanitários.
Nos últimos anos, as proibições locais ao uso de sacolas plásticas se espalharam de São Francisco e Honolulu até North Shore, em Massachusetts. Washington, capital dos EUA, impôs uma taxa de US$ 0,05 e a cidade de Nova York considerou várias vezes cobrar pelas sacolas – a última vez, no ano passado, quando a proposta foi ignorada no final do período legislativo da cidade. O novo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, manifestou apoio à proibição das sacolas plásticas.
Muitos consumidores se assustam com a ideia de ter que pagar por um produto que sempre foi gratuito. "Nós já estamos enfrentando dificuldades", disse Moya enquanto esperava na chuva por um táxi com suas sacolas de papel parcialmente desintegradas nas mãos, compradas por US$ 0,10 cada. "Os produtos que eu compro no supermercado já custam bastante dinheiro. E eu ainda tenho que pagar pelas sacolas?"
Os fabricantes de plásticos têm trabalhado arduamente para reduzir essa frustração. Até agora, o setor – que já gastou milhões de dólares para fazer lobby com os parlamentares – conseguiu derrotar os esforços destinados a aprovar proibições estaduais na Califórnia e em um punhado de outros estados norte-americanos.
A Hilex Poly, uma das maiores fabricantes de sacolas plásticas do país, gastou sozinha mais de US$ 1 milhão para fazer lobby contra um projeto de lei que tinha como objetivo proibir as sacolas plásticas na Califórnia em 2010. Esse projeto fracassou, assim como outra tentativa feita em 2013. A Hilex Poly, sediada em Hartsville, no sul da Califórnia, fez doações políticas para todos os democratas do senado da Califórnia que se uniram aos republicanos na votação contra o projeto de lei do ano passado.
Mark Daniels, vice-presidente da Hilex Poly, disse que a proibição custaria ao Estado cerca de dois mil postos de trabalho.
"Isso vai custar aos californianos milhões e milhões de dólares", disse Daniels sobre a legislação vigente. "Eles vão ter que comprar milhões de sacolas supostamente reutilizáveis da China".
Mas o apoio à proibição vem crescendo constantemente no legislativo da Califórnia. Na quinta-feira passada, o jornal Los Angeles Times endossou a adoção de uma proibição estadual, e vários senadores que votaram contra a proibição no ano passado saíram em seu apoio agora.
Alguns ambientalistas dizem acreditar que agora é o momento certo para fazer pressão pela aprovação de proibições em todo o país, a começar pela Califórnia.
"Essa proibição é muito eficaz e ela também trará um bom custo-benefício", disse Kerrie Romanow, diretora de serviços ambientais de San Jose, na Califórnia.
Desde que a proibição às sacolas entrou em vigor em San Jose, em 2012, as sacolas plásticas jogadas no lixo --e que vão parar em bueiros durante tempestades, podendo contribuir para provocar inundações --diminuíram 89%. Em algumas partes do condado de Los Angeles, grandes lojas de varejo informaram uma queda no uso de sacolas de papel desde que a adoção de uma proibição semelhante, aliada a uma taxa de US$ 0,10 cobrada pelas sacolas de papel, entrou em vigor.
"As pessoas estão se adaptando muito rapidamente", disse Romanow. "Os dias em que os consumidores compravam uma única barra de chocolate e recebiam uma sacola plástica acabaram".
Abbi Waxman, que trabalha como roteirista de TV em Los Angeles, disse que tentou durante anos parar de usar as sacolas plásticas. Mas, apesar dos olhares de enviesados dos caixas de supermercado, ela raramente se lembrava de trazer suas sacolas de pano de casa.
"A mudança real só ocorreu quando eles começaram a me cobrar pelas sacolas de plástico. Foi aí que eu realmente passei a me lembrar de trazer as minhas sacolas de casa", disse Waxman, 43, que dia desses podia ser vista com meia dúzia de sacolas reutilizáveis na mão em um supermercado.
"Sem brincadeira: eu tenho cerca de 40 sacolas reutilizáveis em casa, pois eu me sinto tão culpada quando vou fazer compras sem elas que eu compro mais uma a cada vez que vou ao mercado", disse ela.
Daniels, vice-presidente da Hilex Poly, disse que as sacolas plásticas foram tachadas injustamente de bode expiatório para uma variedade de males ambientais. Segundo ele, as sacolas plásticas finas são reutilizadas – elas são usadas como sacolas para carregar alimentos e sevem de forro para latas de lixo, além de serem muito úteis na hora de coletar as fezes dos animais de estimação.
Mas outros fabricantes de produtos plásticos começaram a abraçar as mudanças em seu setor.
"O setor será destruído se não se mostrar disposto a evoluir e mudar", disse Pete Grande, presidente da Command Packaging de Vernon, na Califórnia, que está começando a produzir sacolas mais resistentes e reutilizáveis a partir de plástico agrícola reciclado.
No ano passado, Grande se opôs ao projeto de lei para proibir as sacolas plásticas descartáveis na Califórnia. O mesmo fizeram os dois democratas que representam Vernon no senado estadual.
Este ano, todos eles apoiam o projeto de lei que permitirá que as lojas ofereçam sacolas plásticas mais duráveis, além de sacolas de papel, por uma pequena taxa quando os consumidores passarem pela fila do caixa.
"Nós vivemos durante milhares de anos sem sacolas plásticas descartáveis", disse Padilla, patrocinador do projeto. "Eu acredito que nós vamos ficar bem sem elas".
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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