Fome de poder
Se chegarmos ao cerne dos embates político-ideológicos, teremos
dois grupos claros: (I) o dos famintos pelo poder; e, (II) o dos amantes
da liberdade. No final das contas, ao que parece, essa é a divisão
fundamental. Do primeiro grupo, surgem totalitaristas, ditadores e
coletivistas de todos os matizes. Do segundo, liberais (clássicos),
libertários e conservadores. Há, também, o meio do caminho, normalmente
representado pelos socialdemocratas. Mas, aparentemente, estes últimos
vêm se aproximando de liberais nos últimos tempos, desde que seus
“welfare states” começaram a eclodir por toda a Europa. É uma esperança…
Qual seria a diferença central entre os defensores da liberdade e
aqueles, que, a todo custo, pretendem reduzi-la? Defensores das
liberdades, de um modo geral, querem um Estado mínimo, o império das
leis, condições para a livre competição no mercado e meritocracia. Eles
acreditam que esta filosofia seja capaz de expandir as oportunidades
para todos, indistintamente.
Não se trata, portanto, de ser contra pobres. Não (!), é justamente o
contrário. Em um ambiente livre – sem a influência excessiva de um
Estado agigantado e dos famosos “amigos do rei” – o cidadão terá mais
chances de alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem. Alguns podem
estar dispostos a gerar mais riquezas, outros imbuídos de alcançar uma
vida mais tranquila. A escolha é uma das facetas da liberdade. Todavia, a
liberdade para perseguir seus interesses gera consequências e
responsabilidades.
No intuito de distorcer esse pensamento, os famintos pelo poder
apresentam a seguinte lógica: os homens vão “explorar” uns aos outros,
e, assim, o Estado deve intervir de modo a tornar as relações
socialmente mais “justas”. Eles não explicam, contudo, em que
consistiria essa “exploração”; nem, tampouco, como o Estado faria essa
“justiça social”. Pior ainda. Por que razão o Estado e os governantes
seriam tão magnânimos e mais eficientes do que a colaboração individual
de cidadãos livres?
O primeiro ponto que eles escondem, avaramente, é que governantes são
pessoas que passaram a vida toda buscando ter poder sobre os demais.
Esse fato, ao menos, já os coloca em posição de dúvida. Por que essas
pessoas, após alcançarem o poder, prefeririam buscar o bem-comum ao
invés de perseguir seus próprios objetivos? Não há qualquer razão. A
rigor, prevalece a regra básica: todos buscam, intrinsecamente,
maximizar os seus interesses particulares. O segundo aspecto,
consequência do primeiro, consiste em um embate: centralizar ou
descentralizar?
A descentralização do poder é elemento fundamental para o exercício
da liberdade. Por ocasião da Revolução Americana, os “Founding Fathers”
entenderam isso muito bem, preservando a soberania dos estados membros.
Daí surgiu um Federalismo real, muito diferente do que temos por aqui.
Lá, cada Estado abriu mão de uma parcela de sua soberania em prol da
União; cá – especialmente após a Constituição Federal de 1988 (esse
texto não permite uma digressão histórica sobre o Brasil) – a União
Federal relegou uma parcela diminuta de poder para os estados e
municípios. Não é preciso conhecimento jurídico ou político para
concluir que diversas questões seriam definidas de forma mais eficaz no
âmbito estadual ou municipal.
Coletivistas, eminentemente centralizadores, precisam da concentração
do poder para alcançar seus objetivos. Para tanto, não têm pudor em
limitar as liberdades e manter as rédeas curtas. Como isso é feito? Por
que os cidadãos aceitam as restrições em suas liberdades? Não é difícil
responder.
Em grande parte isso é fruto da complacência e insegurança humanas.
Cidadãos tendem a esperar por “salvadores da pátria” que vão solucionar
os seus problemas. Além disso, é mais fácil colocar a culpa no coletivo
do que assumir sua própria responsabilidade ou inércia. Totalitaristas,
portanto, se alimentam da insegurança dos indivíduos e do “medo de
perder”.
Após conquistar certas coisas, o indivíduo é tomado por um verdadeiro
pavor de perder. Esse quadro faz com que ele se esqueça dos fundamentos
que lhe permitiram alcançar seus objetivos. Assim, ele não se incomoda
com a supressão de liberdades, desde que suas “posses” sejam
aparentemente preservadas. O raciocínio é ilusório. Nada vai garantir a
manutenção das conquistas, muito menos um Estado superpoderoso. Aliás, é
muito provável que esse ente usurpe os “cofrinhos” dos indivíduos.
Então, sem as liberdades de outrora, como reconstruir o seu “castelo”?
Defender a liberdade, portanto, é resultado do desapego, da
autoconfiança e da consciência de que as soluções não vêm “de cima para
baixo”. A colaboração individual é o elemento fundamental para uma
sociedade próspera. Todavia, ela não é criada por decreto, mas, sim, de
forma espontânea em um ambiente livre com baixos índices de
regulamentação.
O sonho de um totalitarista é uma caneta poderosa com uma pilha de
papel para ele legislar sobre tudo, conduzindo a sociedade por sua pena.
O sonho dos amigos da liberdade, ao seu turno, consiste em diversas
canetas e papéis distribuídos por todos em prol da criação e
colaboração, bastando, apenas, um conjunto de regras comum aos cidadãos,
com instituições sérias e firmes. Sejam protagonistas de seus próprios
destinos, ao invés de coadjuvantes dos famintos pelo poder.
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