quinta-feira, 3 de setembro de 2015

"Chináfrica" enfrenta a desaceleração da economia chinesa
Sébastien Le Belzic - Le Monde
Siphiwe Sibeko/Reuters
Estaria a "Chináfrica" passando por um revés? O que acontece na China não permanece mais na China, e agora uma borboleta batendo as asas em Pequim já é suficiente para provocar um tsunami nas Bolsas do resto do mundo. Em uma África que já é dependente da China, portanto, acompanha-se com bastante atenção a oscilação do mercado financeiro de Xangai.
Segundo a Fathom Consulting Group, o fim da idade de ouro está para chegar, e a maior parte dos países africanos não equilibrarão seu orçamento este ano essencialmente em razão de uma baixa na demanda chinesa por matérias-primas. Desde o pico dos anos 2011-2013, as relações comerciais entre a África e a China caíram quase pela metade, e essa tendência pode piorar. De fato, Pequim pode reduzir suas importações de cobre da Zâmbia, de petróleo de Angola e da Nigéria, ou ainda de ouro e platina da África do Sul.
"O colapso do mercado chinês não é um bom sinal para os países africanos", explica Ravi Bhatia, analista de crédito da S&P. "O crescimento da economia africana se deve em parte à demanda chinesa por matéria-prima, minérios e petróleo. Portanto, a desaceleração chinesa continuará tendo influência sobre os preços das matérias-primas e os volumes de exportação."
Os países mais vulneráveis são necessariamente os mais dependentes da demanda chinesa. É o caso principalmente de Serra Leoa, que acabou de se recuperar da epidemia do ebola e tem obtido seus magros recursos das exportações de ferro e de titânio para as usinas chinesas. O mesmo vale para Angola, cujas exportações de petróleo são vitais, uma vez que a China compra quase 40% do óleo bruto angolano.
Desde o fim da guerra civil em 2002, a China teria concedido quase US$ 14,5 bilhões em créditos para Luanda, fundos basicamente atrelados a barris de petróleo cujo preço em queda torna ainda mais problemática a situação econômica do país.

Fim do apetite

Mas é a Zâmbia que poderia ser a primeira a tropeçar, visto que os investimentos chineses no país representam 7,5% da produção nacional e 80% das exportações. Portanto, uma crise persistente na China e um recuo na demanda, somados à queda no preço das matérias-primas, evidentemente teriam consequências devastadoras.
Outra vítima colateral da crise chinesa seria a África do Sul. Afetado como os outros pela queda nos preços, o país anunciou na semana passada uma retração de 1,3% em seu PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro, reavivando o temor de uma recessão na economia mais industrializada do continente.
Em um ano, o crescimento sul-africano não passou de 1,2%, uma queda em relação ao ritmo de 2,1% do primeiro trimestre. "As perspectivas econômicas continuam relativamente fracas", segundo os analistas do Nedbank, que preveem um crescimento "provavelmente abaixo de 2% em 2015 e ainda menor em 2016."
A China é a principal parceira econômica da África do Sul, mas ela não está com o mesmo apetite de antes. As exportações de ferro sul-africano, por exemplo, caíram 36,9% em um ano, e minérios como a platina, utilizada na indústria automobilística, estão sendo diretamente atingidos pela queda nos preços e na demanda mundial.
No entanto, por enquanto a China não pretende virar as coisas para a África. Segundo as previsões da Thomson Reuters Oil Research and Forecasts, as importações chinesas de petróleo africano ainda aumentaram 41% entre os meses de junho e julho de 2015, com um pico de 3,4 milhões de toneladas sendo exportadas por Angola e 767 mil toneladas pelo Sudão do Sul em julho.
Então a "Chináfrica" certamente ainda tem bons dias pela frente. Para cada dólar que os Estados Unidos investem na África, a China investe três. A segunda maior economia do mundo continuará precisando de combustível para funcionar, ainda que em marcha lenta.

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