Alexandre Lemarié e Matthieu Goar - Le Monde
Efe
No dia 30 de maio, dia do congresso em que foi formado o partido Les
Républicains (LR), Angela Merkel enviou uma mensagem por vídeo na qual
ela comemorava "a continuidade da colaboração entre os dois partidos".
Já Nicolas Sarkozy, em off, está constantemente alardeando sua
proximidade com a chanceler alemã. Apesar desses sinais ostensivos de
amizade, os dois políticos nunca pareceram tão distantes, sobretudo
quanto à questão dos refugiados.
Do outro lado do Reno, na segunda-feira (31), Merkel exortou os europeus a respeitarem a "dignidade de cada ser humano" pleiteando uma política de cotas de refugiados. "Se não chegarmos a uma distribuição equitativa, então algumas pessoas vão querer colocar em pauta a questão do futuro da [zona de livre-circulação] Schengen. Não queremos isso", ela declarou. Essa posição é oposta à da direita francesa, que considera que a criação de cotas geraria um incentivo para os migrantes.
"A solidariedade para dividir as dezenas de milhares de migrantes para os quais não temos empregos na Europa é uma loucura", opinou Sarkozy no dia 16 de maio, alguns dias depois que a Comissão Europeia propôs distribuir os refugiados de acordo com a riqueza e o tamanho de cada país da União Europeia.
Efe
Do outro lado do Reno, na segunda-feira (31), Merkel exortou os europeus a respeitarem a "dignidade de cada ser humano" pleiteando uma política de cotas de refugiados. "Se não chegarmos a uma distribuição equitativa, então algumas pessoas vão querer colocar em pauta a questão do futuro da [zona de livre-circulação] Schengen. Não queremos isso", ela declarou. Essa posição é oposta à da direita francesa, que considera que a criação de cotas geraria um incentivo para os migrantes.
"A solidariedade para dividir as dezenas de milhares de migrantes para os quais não temos empregos na Europa é uma loucura", opinou Sarkozy no dia 16 de maio, alguns dias depois que a Comissão Europeia propôs distribuir os refugiados de acordo com a riqueza e o tamanho de cada país da União Europeia.
Reescrever Schengen
Sarkozy não é o único da direita a preconizar uma solução dura. Alain Juppé muitas vezes defendeu um tratamento humano, mas pedindo cuidado. "Se nos ativermos a essa resposta humanitária, vamos dar um forte sinal de encorajamento para todos os candidatos ao asilo", ele escreveu no dia 26 de agosto em seu blog, antes de pleitear o reforço das forças da Frontex, agência encarregada de vigiar as fronteiras da Europa.Essas diferenças de abordagem entre a direita francesa e Merkel não passaram despercebidas pela direção do partido. Na terça-feira (1º), durante uma reunião na sede, o círculo de Sarkozy as mencionou para relativizá-las. "O percurso é diferente, mas a conclusão entre Nicolas Sarkozy e Angela Merkel é a mesma: um dia será preciso reescrever o Schengen", acredita um conselheiro do ex-chefe do Estado. Essa seria uma análise distorcida, pois a chanceler teme essa possibilidade e acredita que o fim dos acordos de Schengen seria um fracasso. Já Sarkozy desejaria seu fim, pensando em criar um "Schengen 2", onde todos os países-membros adotariam critérios comuns de admissão.
"Administrar um estoque"
O ex-chefe do Estado francês deverá se manifestar em breve sobre o assunto. Seus colaboradores chegam a pensar em acrescentar a esse projeto ainda nebuloso de "Schengen 2" a possibilidade de fechar as fronteiras nacionais "durante uma crise migratória". Essas ideias deverão ser debatidas durante a jornada de trabalho do partido dedicada à imigração, prevista para o dia 16 de setembro.Fora o conteúdo das propostas, a maneira de abordar esse assunto difere totalmente entre Nicolas Sarkozy e Angela Merkel. Enquanto a chanceler considera necessário acolher os refugiados para preservar "os direitos civis universais na condição de princípio fundador da União Europeia", o ex-chefe de Estado causou certo alvoroço quando foi irônico ao comparar a crise dos migrantes a "um vazamento de água".
A chanceler acredita que a economia alemã é "sólida" o bastante para superar esse desafio da integração. E defende um discurso de tolerância e de abertura em relação ao islamismo. "Se as pessoas começam a dizer que não querem muçulmanos (...), isso não pode ser algo bom", ela alertou a respeito do perfil dos refugiados acolhidos, lembrando seus compatriotas de que "o islamismo certamente faz parte da Alemanha", algo bem longe da linha estressante adotada por Sarkozy. "Aquele que vem para nosso país precisa se assimilar, adotar nosso modo de vida, nossa cultura. (...) Por acaso você fica de sapatos quando visita uma mesquita em outro país?", declarou no dia 20 de março.
Para explicar essas divergências de visão, os sarkozystas apontam como argumento as diferentes situações dos dois países. Eles ressaltam que a Alemanha tem uma economia dinâmica e uma população em declínio, o que segundo eles explicaria a maior liberdade política de Merkel para conseguir a aceitação da chegada de mais de 800 mil refugiados prevista para este ano. Contudo, esse número não tem nem comparação com os 65 mil pedidos de asilo previstos para a França em 2015.
Outro argumento invocado pelo lado de Sarkozy é que a França já teria acolhido muitos nas últimas décadas e não teria mais capacidade de integrar os que estão chegando agora. "Na Alemanha eles estão administrando um fluxo. Já nós precisamos administrar um estoque", observou um nome próximo do ex-chefe de Estado. O contexto político também conta. No poder desde 2005, Merkel vem liderando há dois anos um governo de coalizão com os socialdemocratas. Já os dirigentes da direita francesa, na oposição, estão mais preocupados com a pressão da Frente Nacional que continua a se expandir.
4.set.2015 - Centenas de refugiados se acomodam dentro da estação de trem de Keleti, a principal de Budapeste (Hungria). Apesar de reaberta, nenhum trem está deixando a estação em direção ao exterior. O objetivo dos migrantes (muitos deles há dias na estação) é seguir para países da Europa Ocidental, principalmente a Alemanha. Segundo o governo húngaro, mais de 150 mil pessoas já entraram no país este ano, a maioria vinda da fronteira com a Sérvia, com a intenção de buscar asilo em países da União Europeia - Frank Augstein/AP
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