Reinaldo Azevedo - VEJA
Já não era sem tempo! O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25%. Era o esperado. Agora, é aguardar para ver quando chega Godot, né?, vale dizer: quando a inflação começa a cair de forma consistente. A cada elevação de um ponto — e façam aí a proporção — da taxa, R$ 15 bilhões se somam à dívida pública.
É evidente
que o aperto monetário, em regra, é bom remédio para combater a
inflação. Quando esta nasce, no entanto, do desrepresamento de preços
administrados e dos gastos públicos, o seu efeito é limitado. Até
determinado ponto — dada a disseminação da elevação desses preços
administrados em quase toda a economia —, pode ter uma eficácia para
impedir que a taxa de inflação dispare. A partir de um limite, e acho
que este chegou já faz algum tempo, o único efeito da elevação dos juros
é mesmo o indesejável crescimento da dívida pública.
Mesmo com os
juros nas alturas, o Boletim Focus prevê que o ano de 2015 feche com
uma inflação de 9,28%, mais do que o dobro do centro da meta, que é de
4,5%.
É claro que
as medidas recessivas tomadas pelo governo não são a causa da melancolia
econômica que vivemos, mas a consequência de uma cadeia de
irresponsabilidades. O problema é que os remédios, independentemente dos
culpados pelos males, podem ou não ter eficácia.
Uma eventual
nova elevação dos juros seria absolutamente irrelevante para baixar a
inflação e tornaria tudo mais difícil. Aliás, tenho as minhas dúvidas se
as duas ou três últimas surtiram algum efeito, que não o negativo.
Pareceram-me um caso típico de tentar inculcar confiança no mercado:
“Olhem, aqui não brincamos em serviço; sabemos ser duros”.
O problema é
quando esse esforço, que é imposto a toda a sociedade — e acarreta,
entre outras coisas, desemprego —, pode ser anulado pela mais explícita
incompetência e irresponsabilidade políticas, a exemplo do que temos
visto nos últimos dias.
É claro que a
forte desvalorização do real também é um fator de pressão
inflacionária. Vamos ver em que patamar se estabiliza e por quanto
tempo. Eis outro elemento que incide no aumento de preços, sem que a
elevação da taxa de juros se mostre um remédio eficaz.
A crise, já escrevi aqui dezenas de vezes, é de confiança, filha dileta da crise econômica e da crise política.
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