terça-feira, 29 de setembro de 2015

Modelo que fez a economia crescer se esgotou, diz Dilma
Em discurso na ONU, presidente reconhece dificuldades e defende ajuste
Pronunciamento tenta combater desconfiança de estrangeiros ao dar ênfase à estabilidade das instituições políticas
THAIS BILENKY/MARCELO NINIO/MARINA DIAS - FSP
A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (28) que o modelo que ajudou a economia brasileira a crescer nos últimos anos se esgotou e reconheceu que problemas internos contribuíram para as dificuldades atuais.
Em discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), a presidente voltou a defender as medidas adotadas para estimular a economia desde a crise internacional de 2008, mas disse que não há mais como mantê-las.
"Esse esforço chegou a um limite, tanto por razões fiscais internas como por aquelas relacionadas ao quadro externo", afirmou Dilma na ONU.
Em pronunciamento divulgado na internet no 7 de Setembro, a presidente já havia reconhecido que as políticas adotadas durante o seu primeiro mandato podem ter servido para alimentar a crise.
Mas Dilma justificou essas medidas dizendo que seu objetivo era proteger a economia do país, preservando empregos e investimentos, argumento que ela voltou a usar nesta segunda na ONU.
Da mesma forma, a presidente continuou atribuindo as dificuldades atuais a mudanças ocorridas na conjuntura internacional, como a queda nos preços das matérias-primas e a lenta recuperação da economia mundial.
"A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas", afirmou Dilma na ONU.
A presidente defendeu o novo pacote fiscal apresentado pelo governo ao Congresso, que prevê corte de R$ 26 bilhões em despesas e aumento de impostos, inclusive com a recriação de um imposto sobre operações financeiras como a antiga CPMF.
Dilma voltou a dizer que o país vive "um momento de transição para outro ciclo de expansão" e que o pacote vai "reorganizar o quadro fiscal" e "reduzir a inflação", permitindo retomar o crescimento.
ESTABILIDADE
A popularidade de Dilma despencou desde o início de seu segundo mandato, em janeiro, quando a presidente se viu obrigada a adotar medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas e se afastou do discurso da campanha eleitoral de 2014.
Suas dificuldades aumentaram neste mês, quando o governo começou a negociar com o Congresso o Orçamento do próximo ano e o país perdeu o selo de bom pagador conferido pela agência internacional de classificação de risco Standard & Poor's.
Num discurso mais conciso do que os feitos por ela na ONU em anos anteriores, Dilma deu ênfase à estabilidade política do Brasil, na tentativa de combater a desconfiança crescente que o país desperta no público estrangeiro.
A presidente afirmou que os avanços dos últimos anos no país foram obtidos "em um ambiente de consolidação e de aprofundamento da democracia" e disse que o Brasil "vai continuar trilhando o caminho democrático".
A frase, que não constava da versão do discurso distribuída pelo Palácio do Planalto aos jornalistas antes que ela começasse a falar, foi interpretada por aliados como um recado indireto aos políticos que defendem a abertura de um processo de impeachment contra Dilma.
A presidente também defendeu o combate à corrupção no discurso na ONU, afirmando que o Estado brasileiro "tem sido escrutinado de forma firme e imparcial pela Justiça e por todos os Poderes e organismos públicos encarregados de fiscalizar, investigar e punir desvios e crimes".
"O governo e a sociedade brasileiros não toleram e não tolerarão a corrupção", afirmou Dilma.

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