sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Matando mosquito a tapa
Sandro Vaia - Blog do Noblat
Matando mosquito a tapa (Foto: Arquivo Google)
Mais uma vez o mundo se curva aos pés do Brasil.
Quem não se lembra desse slogan ufanista com o qual o Brasil festejava glórias verdadeiras ou imaginárias, principalmente nos campos esportivos, quando ainda gozávamos dessa primazia? (principalmente antes do histórico 7 a 1).
Estrelas solitárias como Pelé, Eder Jofre, Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Adhemar Ferreira da Silva, Maria Esther Bueno, Nelson Prudêncio, Oscar e outros heróis contados nos dedos das duas mãos nos davam ilusões esparsas de grande potência e alimentavam o nosso ego de povo juvenil.
Crescemos um pouco, as estrelas fugazes perderam seu brilho e hoje em vez de exportar glórias contaminamos o mundo com o vírus da zika.
Os EUA querem acelerar uma vacina e a Alemanha, a França e o Reino Unido pedem às suas grávidas que evitem o Brasil.
“Evitem o Brasil”. Soa feio isso, não? Uma espécie de rejeição desconfortável, como quando comunidades da Idade Média eram atingidas por epidemias de peste negra. Evite, fuja, não passe perto: um golpe na nossa autoestima. Quer coisa mais humilhante?
Como todo mundo sabe (de certa maneira até a presidente Dilma sabe, embora ela tenha feito uma certa confusão entre insetos, vírus e ovos na forma de transmissão), o vírus da zika é responsável pela microcefalia, e é transmitido pelo mosquito aedes aegypti, contra o qual Oswaldo Cruz travou guerra mortal no início do século XX.
O mosquito transmite dengue, chikungunya e zika, que se tornaram doenças epidêmicas no Brasil. A descoberta de que a zika, quando infecta mulheres grávidas pode provocar a microcefalia, que diminui o tamanho do cérebro de recém nascidos e provoca problemas de desenvolvimento, deu à doença relevância internacional.
Vários casos começaram a ser notificados no mundo, e todas as mulheres infectadas tinham passado pelo Brasil.
Aqui, a guerra contra o mosquito ganhou o inevitável e característico toque “local" da comédia pastelão, do desentendimento, da confusão, do jogo de empurra que costuma caracterizar ações onde o poder público deveria ter laço firme e braço forte, mas só consegue tropeçar em suas próprias pernas.
O ministro da Saúde, um certo Marcelo Castro, misterioso coelho tirado da cartola pelo PMDB em um daqueles arranjos do “é dando cargos que se recebe votos”, num acesso de sinceridade que a presidente da República chamaria de “estarrecedor”, disse que o Brasil “está perdendo feio a batalha contra o mosquito aedes aegypti.
Verdade absoluta. Mas isso é coisa que se diga? Políticos geralmente têm licença para mentir, mas só quando a mentira convém ao governo a que servem. Nesse caso, não convinha.
A presidente Dilma, que entre as suas extraordinárias habilidades reúne também a de ler a mente de seus comandados, ficou com ganas de demitir o ministro falastrão, mas em nome da “governabilidade” - essa musa do Parnaso - resolveu reinterpretá-lo à sua (dela) imagem e semelhança.
E resolveu ler e traduzir o pensamento mais íntimo de seu ministro e falar por ele:
“Não, a batalha não está perdida, não. Isso não é o que ele está pensando nem o que ele disse. O que ele disse é, se nós todos não nos unirmos e se a população não participar, nós perdemos essa guerra”
Então ficamos assim: o mosquito continua firme e forte, mas ele que se cuide, porque a nossa presidente pretende exterminá-lo. Nem que seja a tapa.

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