Que as relações de ex-governador do Rio com empresas do ramo não fossem ortodoxas, isso é demonstrado pelo fatos
A Folha
informou ontem que Marcelo Odebrecht deve dizer que controlou
pessoalmente as dações legais e ilegais para as campanhas de Dilma de
2010 e 2014. Mais: num encontro no México com a presidente, agora
afastada, alerto-a de que a Lava-Jato estava chegando perto do pagamento
ilegal que havia sido feito a João Santana. A “autômata” teria dado de
ombros e feito de conta de que não era com ela. Nesta quarta, outra
bomba.
Segundo
informam Marina Dias e Bela Megale, na Folha, Benedito Barbosa da Silva
Júnior, ex-diretor presidente da construtora Odebrecht, disse, nas
tratativas de seu acordo de delação premiada, que Sérgio Cabral,
ex-governador do Rio, cobrava imodestos 5% sobre obras que eram feitas
no Estado, sob responsabilidade do governo.
Cabral
teria obtido vantagens em obras como Maracanã, Comperj (Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro) e linha 4 do metrô — só nesse caso,
teria sido um capilé de R$ 2,5 milhões. Não custa lembrar: o estádio,
orçado em R$ 720 milhões, saiu por R$ 1,2 bilhão.
O possível
relato da Odebrecht coincide com a delação de Rogério Nora de Sá e
Clóvis Peixoto Primo, da Andrade Gutierrez, que afirmaram à Força-Tarefa
que Cabral exigiu 5% do valor total do contrato para permitir que a
empresa se associasse à Odebrecht e à Delta no consórcio para a reforma
do Maracanã.
Ouvido
pela reportagem, Cabral deu a resposta que os acusados costumam dar
nesses casos: manteve relações apenas institucionais com as
empreiteiras.
Pois é…
Considerando que a informação divulgada pela Folha vá coincidir mesmo
com o depoimento de Benedito Barbosa, fico cá me perguntando o que
levaria o presidente de uma empreiteira e dois altos diretores de outra a
mentir — especialmente quando tal mentira também os incrimina, ainda
que os prêmios pelas delações pagos pelo Ministério Público sejam
altíssimos.
Dizer o
quê? Que se investigue tudo, não é mesmo? Cabral e as empreiteiras nunca
tiveram uma relação que primasse, digamos assim, pela ortodoxia.
Até o
concreto armado sabe que o agora ex-governador não era do tipo que
mantinha relações convencionais com empreiteiros. Lembram-se da CPI do
Cachoeira? O PT a instalou porque julgava que poderia, com ela, atingir a
oposição e a imprensa.
Eis que a
investigação foi bater na construtora Delta, de Fernando Cavendish, uma
das gigantes do Minha Casa Minha Vida e empresa preferencial de Cabral
para obras sem licitação. Vejam estas fotos.
Foram
divulgadas por Anthony Garotinho, hoje desafeto de Cabral, é verdade,
mas ele não as inventou. São de 2009. Cabral e sua turma estão em
Paris. Na primeira, ao centro, o então governador em um momento de
descontração — parece uma coreografia de funk. À direita, de gravata
bordô, está Cavendish, o dono da Delta.
Na segunda
foto, veem-se os secretários de Cabral Sérgio Côrtes (Saúde), e Carlos
Wilson (de Governo). Todos ali fazem papel ridículo no luxuoso hotel
Ritz, em Paris. Aquele já com a fralda (a da camisa) fora da calça é
Cavendish. Segundo se noticiou, estavam em Paris para comemorar o
aniversário da então primeira-dama, Adriana Anselmo.
Paris era
uma festa. O Rio era uma festa. Um ano depois, Cabral se reelegeu sem
grande dificuldade e passou a ser considerado um promissor candidato a
vice de Dilma em 2014. Foi tragado pelos protestos de 2013 e do ano
seguinte. Não se candidatou nem a senador. Sete anos depois daqueles
dias loucos de Paris, o Rio de Cabral decretou estado de calamidade.
Vamos ver
se o ex-presidente da construtora Odebrecht vai mesmo confirmar o que
agora se informa. Que a coisa parece fazer sentido, vamos convir, isso
parece…
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