sábado, 4 de junho de 2016

Temer limita voos de Dilma com avião da FAB a Porto Alegre; petista reclama
Pedro Ladeira - 30.mai.16/Folhapress
A petista Dilma Rousseff discursa durante lançamento de livro em Brasília
O documento feito pela Casa Civil, que tem como objetivo orientar a partir desta sexta-feira (3) todas as áreas do governo sobre os benefícios a que Dilma terá direito, limita o deslocamento aéreo de Brasília a Porto Alegre (RS), onde vivem os familiares dela.
Na capital gaúcha, onde participou na tarde desta sexta do lançamento do livro "A Resistência ao Golpe de 2016", a petista definiu como "grave" a restrição de seus voos.
"Hoje teve uma decisão da Casa Civil, ilegítima e interina, cujo objetivo é proibir que eu viaje. Vejam bem, vocês têm que ficar alegres. Meu direito de viagem parece que é só de Brasília para Porto Alegre. Mas não podem ficar alegres porque é um escândalo que eu não possa viajar pro Rio, pro Pará, pro Ceará. Isso é grave", disse Dilma.
"Não sei se vocês sabem mas eu não posso, como qualquer outra pessoa, pegar um avião [normal]. Tem que ter toda a segurança atrás de mim, garantindo minha segurança. É a Constituição que manda", argumentou.
"Estamos diante de uma situação que tem que ser resolvida. Eu vou viajar. Vamos ver como vai ser minha viagem", disse.
Mais tarde, Dilma participou de protesto contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB), na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre. O local é ponto tradicional para atos de movimentos sociais, desde a ditadura militar.
Lá, ela voltou a falar do assunto: "eles têm medo de vocês, por isso não querem que eu viaje". "Eu não tenho contas na Suíça. Eu não tenho dinheiro da corrupção nas minhas mãos. Elas não estão sujas por esse dinheiro", disse Dilma.
A organização estimou um público de 10 mil pessoas –a PM não divulgou números.
Em campanha para retornar ao cargo, a presidente afastada tem feito viagens pelo país para participar de eventos contra o impeachment. Na semana passada, viajou para Belo Horizonte e, nesta semana, também foi para o Rio de Janeiro.
Além de restringir seus voos com aviões da FAB, o parecer garante à petista residir até a votação final do impeachment no Palácio da Alvorada e lhe assegura a remuneração integral de presidente, de R$ 30,9 mil. O valor é acima do que prevê a chamada Lei do Impeachment, que certifica o pagamento de metade do vencimento.
O documento ainda prevê que ela tem direito, como suporte durante seu afastamento, a cinco veículos terrestres, onze seguranças e uma ambulância.
DEFESA
Dilma também questionou a redução do prazo de sua defesa no processo do impeachment, decidido pela comissão especial no Senado na quinta (2). Segundo a presidente afastada, há "tentativa de impedir que se exerça o direito de defesa".
"Esse direito de defesa é um espaço de disputa política. Ser democrata é garantir o direito de defesa. Ora, se eles não são capazes de garantir o direito de defesa, não são democratas, são golpistas", disse.
Nesta sexta, o ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardoso anunciou que recorreu da medida no STF.
A petista comentou, ainda, a delação de Nestor Cerveró. De acordo com o jornal "O Globo", despesas pessoas da presidente afastada foram pagas por propinas da Petrobras, como gastos com o cabeleireiro Celso Kamura.
"Eles ligam o cabelo com Pasadena. Acontece que Pasadena foi em 2006, eu não conhecia o Celso Kamura. Fui conhecer quatro anos depois [na campanha eleitoral de 2010]. Não passa nem pelo meu sonho que eu seria candidata à presidência da República", afirmou.
"Depois que acabou a campanha eu contratei [Celso]. Eu tenho os comprovantes que eu paguei a passagem e o serviço de cabelo", disse.
PROTESTO
O ato que a petista participou em Porto Alegre começou com uma apresentação do cantor Nei Lisboa. O artista cantou o refrão "Dilma já vai voltar/Dilma, fácil de ver/Dilma e Fora Temer/ Dilma fácil de amar".
Antes, Lisboa dedicou a música a Dilma: "Com muita honra, minha presidenta". Durante o breve show, a petista mandava beijos para militantes da plateia. Ao final, ela abraçou o cantor.
"Creio que ele [Nei Lisboa] nos emocionou com a música '1968' e me honrou citando meu nome. Nunca meu nome foi tão bonito", disse a presidente afastada no início de sua fala.
Dilma ainda falou sobre os cortes sociais do governo Temer e disse que os ministros do governo interino foram escolhidos e indicados por Eduardo Cunha (PMDB), afastado de seu mandato de deputado federal e da presidência da Câmara.
Ela chegou à capital gaúcha na noite de quinta-feira (2). Na manhã desta sexta, pedalou na orla do rio Guaíba, cartão-postal da cidade, como de costume. 

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