Crise na segurança do Espírito Santo é alerta para o país
A onda de violência na Grande Vitória deve
servir de laboratório para autoridades estaduais e federais, de modo a
impedir que o movimento se espalhe
O Globo
O caos e o medo que se espalharam pelas ruas de Vitória, no
Espírito Santo, desde a madrugada de sábado, quando policiais militares
em greve se retiraram das ruas, dando início a uma das maiores crises de
segurança na história do estado, são um alerta para todo o país. Sem o
policiamento ostensivo, logradouros públicos se tornaram terra de
ninguém, transformando-se em terreno fértil para saques a
estabelecimentos comerciais, arrastões, assaltos a pedestres e
tiroteios, sem falar nos homicídios, que, até a tarde de ontem, já
passavam de 75, segundo o Sindicato dos Policiais Civis. A onda de
violência se refletiu diretamente na rotina da cidade: escolas,
universidades e postos de saúde fecharam, ônibus pararam de circular, e o
pânico se alastrou.
Chama a atenção que a crise de segurança aconteça num estado apontado
como exemplo de equilíbrio nas contas públicas — diferentemente do que
ocorre com outras unidades da federação, como Rio de Janeiro — onde
policiais recebem salários com atraso —, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais, que pleiteiam ajuda federal para sair da crise. Entre outros
pontos, os grevistas reivindicam reajuste salarial, auxílio alimentação,
adicional por periculosidade e insalubridade, além de melhores
condições de trabalho, o que inclui a melhoria da frota.
Por tudo isso, a situação na Grande Vitória deve servir de
laboratório para autoridades estaduais e federais, de modo a impedir que
o movimento se espalhe para outras regiões.
De imediato, como a crise local afeta também a segurança nacional, é
preciso ter um protocolo de como agir em casos como esses. De fato, o
ministro da Defesa, Raul Jungmann, viajou para o Espírito Santo para
acompanhar in loco os desdobramentos da crise. Além disso, autorizou o
envio de 200 homens da Força Nacional e do Exército — estes últimos já
estão patrulhando as ruas desde a tarde de segunda-feira. No entanto,
essa presença ostensiva ainda não foi suficiente para controlar a
situação e dar tranquilidade à população.
Numa outra frente, a Justiça decretou a ilegalidade da greve,
determinou que os PMs retornem ao trabalho e estabeleceu multa de R$ 100
mil em caso de descumprimento.
Mas autoridades precisam ir além. É necessário identificar com
rapidez os responsáveis pela baderna nas ruas e puni-los, para que atos
semelhantes sejam desestimulados.
Outra conclusão que se pode tirar dos violentos episódios que sacodem
as ruas de Vitória é que, embora a segurança pública seja
responsabilidade constitucional dos estados, cada vez mais se impõe a
presença da União nessa área, integrando-se com autoridades locais. Não
só para reunir dados que permitam mapear os problemas, mas também
elaborar planos de contingência para situações como a que está ocorrendo
agora na Grande Vitória.
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