Aprender a aprender
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Mais relevante do que a nova queda no desemprego, desta
vez para o nível recorde de 4,3% da população ativa, é a informação de
que a participação dos trabalhadores na indústria em 2013 caiu para
15,8%. Dez anos antes, eram 17,6%. (Nesse segmento estão incluídos
também os empregados na indústria extrativa, distribuição de
eletricidade, água e gás.)
Isso poderia ser tomado como mais uma indicação de
desindustrialização. É mais consequência do forte crescimento do setor
de serviços, que hoje pesa quase 70% no PIB. Em 2003, o subsetor de
serviços prestados às empresas (mais aluguéis, atividades imobiliárias e
intermediação financeira) empregava 13,4% da mão de obra. Hoje já são
16,2%.
O principal recado passado por essas estatísticas é o de que a
indústria de transformação e também os sindicatos dos trabalhadores da
área estão perdendo a capacidade de pressão, na proporção em que o setor
de serviços vai absorvendo cada vez mais a força de trabalho: "A Volks
vai dispensar 4 mil antes ocupados com a linha de montagem da Kombi?
Ora, não é uma tragédia. O resto da economia absorverá essa gente...".
Além disso, o mais baixo índice de desocupação da série histórica do
IBGE reafirma o diagnóstico do Banco Central de que o mercado de
trabalho continua atuando como importante fator de aumento de custos
para o setor produtivo e, nessas condições, de foco de inflação.
Economistas se perguntam o que pode ser feito para aumentar a
produtividade do trabalho. As soluções definitivas são de longo prazo:
implicam melhoria no nível da educação e do treinamento.
Mas há um fator cujo resultado vem sendo pouco avaliado, que é o
emprego crescente de Tecnologia da Informação, com sua enorme bateria de
recursos, que começa no chip, passa pelos grandes sistemas operacionais
e alcança hoje a impressão em terceira dimensão (3D).
A simples transmissão de informações instantâneas dispensa recursos
de todos os níveis: instalações, máquinas, almoxarifados, estoques,
capital de giro e, inclusive, mão de obra. Mas são recursos que encurtam
os prazos, reduzem os erros e facilitam o planejamento.
Com mais Tecnologia da Informação à sua disposição, a mão de obra,
mesmo a não especializada, se torna mais eficiente e, portanto, mais
produtiva. O caixa do supermercado ou o auxiliar de funilaria podem ser
hoje muito mais eficientes do que trabalhadores de sua idade há apenas
dez anos.
Na última terça-feira, em artigo no Estadão, o especialista em
Economia do Trabalho José Pastore advertiu para impressionantes mudanças
no setor de logística que começam a surgir com o emprego intensivo de
drones (pequenos aviões teledirigidos) na distribuição. Em Israel,
leituras automáticas a distância de consumo de água e eletricidade são
feitas há anos por meio de drones.
É claro, o aumento da produtividade da mão de obra depende
substancialmente da qualidade da educação e do ensino. No entanto, essas
novidades sugerem que, mais do que simplesmente enfiar informações na
cabeça das pessoas, o maior desafio consiste em levar a população a
aprender a aprender.
Nenhum comentário:
Postar um comentário