Defesas atuais dificultam repetir colapsos do passado
José Paulo Kupfer - O Estado de S.Paulo
Sempre que os mercados
de câmbio entram em períodos de turbulência, especialmente quando as
chacoalhadas afetam economias emergentes, a lembrança das crises
cambiais do passado recente ajuda a alimentar um clima de medo. Mas,
desta vez, talvez seja inapropriado considerar que a volatilidade mais
acentuada do momento nas cotações do dólar possa desandar em crises
cambiais.
Apesar das instabilidades na Argentina, do choque de juros na Turquia
e da elevação das taxas na Índia e na África do Sul, a situação atual
não parece propícia a um dominó de quebras na economia global. Ainda que
a fuga de recursos de mercados emergentes para os Estados Unidos já
seja uma realidade incontestável, não se pode querer comparar os atuais
movimentos aos colapsos cambiais da segunda metade dos anos 90.
Desde que, entre 1995 e 1998, uma sucessão de fugas de capital levou à
lona as economias do México, de alguns dos então chamados "Tigres
Asiáticos" e, finalmente, a Rússia, a maior parte dos países adotou
regimes de câmbio flutuante, um mecanismo de ajuste mais rápido e mais
eficaz contra desequilíbrios entre oferta e demanda de moeda.
Além disso, diferentemente daqueles tempos, são poucas as economias
em que a relação déficit externo/PIB supera 5% e, pelo menos nos maiores
emergentes, o volume de reservas cambiais sustenta dívidas externas
proporcionalmente menores. Ações mais prontas de bancos centrais, que
parecem ter aprendido com as crises anteriores, também colaboram para
formar, nos dias de hoje, um quadro diferente e mais benigno.
No caso brasileiro, o que mais se pode esperar é uma repetição do
ocorrido entre maio e agosto do ano passado, quando o Banco Central
criou um esquema de compras programadas de dólares, mantido até agora.
Momentos de alta nas cotações da moeda americana, ação direta do Banco
Central no sentido de esfriar a pressão cambial e, possivelmente, novas
altas das taxas de juros devem ser colocados no radar.
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