Turbulência tem afetado com menos intensidade as moedas de países como Colômbia, Peru, México e Polônia
Para Brasil, risco é que uma desvalorização adicional do real produza uma aceleração da inflação
MARIANA CARNEIRO - FSP
Os recentes cortes de estímulos nos EUA, prenúncio da recuperação da
economia americana, afetam os países emergentes de modo distinto.
MARIANA CARNEIRO - FSP
Desde maio do ano passado, quando Ben Bernanke, presidente do Fed (banco central dos EUA), indicou que os incentivos estavam se tornando desnecessários e poderiam ser desativados, as moedas de México, Peru e Colômbia se desvalorizaram bem menos do que o real.
Enquanto a moeda brasileira perdeu 16% ante o dólar, o peso colombiano desvalorizou-se 7,7%, e o mexicano, 7,6%. O novo soles peruano perdeu 6%. Há países cujas moedas se valorizaram, como o zloty polonês (+5,4%).
Em que pese deter uma reserva internacional de quase US$ 376 bilhões, o Brasil tem sido considerado um dos países frágeis entre emergentes, com deficit tanto nas finanças do governo (equivalente a 2,95% do PIB) quanto nas contas externas (3,66% do PIB).
O quadro está longe do drama da Argentina, cujas reservas estão abaixo de US$ 30 bilhões, mas demonstra exposição à mudança do cenário global.
"A depreciação da moeda não é necessariamente um problema", afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e colunista da Folha. "As moedas flutuam e, em tese, ajudam a isolar os países de problemas externos. Há, porém, os que podem viver com isso e outros não."
A desvalorização da moeda é um problema, diz ele, quando o país tem um endividamento elevado em moeda estrangeira, o setor público é excessivamente endividado ou quando a inflação já está elevada. O Brasil se encaixa no terceiro caso.
O risco é que uma desvalorização adicional do real produza uma aceleração da inflação num momento em que o custo de vida no país já aumenta cerca de 6% ao ano.
Isso tende a levar o Banco Central a subir mais os juros, o que afetaria o já reduzido crescimento da economia.
O Brasil já elevou a taxa Selic em 3,25 ponto percentual, para 10,5%. Analistas não descartam novas altas.
A alta dos juros, pelos países emergentes, funciona também para manter sua competitividade na disputa por capitais globais.
Os mais frágeis da lista --Turquia e Índia-- já fizeram isso. Ontem África do Sul subiu os juros pela primeira vez em cerca de seis anos.
Numa atitude aparentemente limite, o premiê turco, Tayyip Erdogan, disse ontem ao jornal "Yeni Safak" que deve anunciar um pacote econômico "fora do comum" nos próximos dias.
A decisão do Fed de ontem, entretanto, passou ao largo da turbulência nos emergentes. Bernanke encerra sua gestão nesta semana e passa o comando do Fed a Janet Yellen.
Segundo Schwartsman, ele sai com o crédito de ter identificado a gravidade da crise nos EUA e agido rapidamente. Mas carregará a controvérsia de ter injetado tantos recursos na economia. Mesmo com os cortes, os EUA ainda estão despejando US$ 65 bilhões por mês no mercado.
"Na minha opinião, os incentivos ajudaram na recuperação dos EUA. Mas há economistas, como Larry Summers [ex-secretário do Tesouro dos EUA], que duvidam da contribuição dos estímulos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário