quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Emergentes sofrem de maneira distinta
Turbulência tem afetado com menos intensidade as moedas de países como Colômbia, Peru, México e Polônia
Para Brasil, risco é que uma desvalorização adicional do real produza uma aceleração da inflação 
MARIANA CARNEIRO - FSP
Os recentes cortes de estímulos nos EUA, prenúncio da recuperação da economia americana, afetam os países emergentes de modo distinto.
Desde maio do ano passado, quando Ben Bernanke, presidente do Fed (banco central dos EUA), indicou que os incentivos estavam se tornando desnecessários e poderiam ser desativados, as moedas de México, Peru e Colômbia se desvalorizaram bem menos do que o real.
Enquanto a moeda brasileira perdeu 16% ante o dólar, o peso colombiano desvalorizou-se 7,7%, e o mexicano, 7,6%. O novo soles peruano perdeu 6%. Há países cujas moedas se valorizaram, como o zloty polonês (+5,4%).
Em que pese deter uma reserva internacional de quase US$ 376 bilhões, o Brasil tem sido considerado um dos países frágeis entre emergentes, com deficit tanto nas finanças do governo (equivalente a 2,95% do PIB) quanto nas contas externas (3,66% do PIB).
O quadro está longe do drama da Argentina, cujas reservas estão abaixo de US$ 30 bilhões, mas demonstra exposição à mudança do cenário global.
"A depreciação da moeda não é necessariamente um problema", afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e colunista da Folha. "As moedas flutuam e, em tese, ajudam a isolar os países de problemas externos. Há, porém, os que podem viver com isso e outros não."
A desvalorização da moeda é um problema, diz ele, quando o país tem um endividamento elevado em moeda estrangeira, o setor público é excessivamente endividado ou quando a inflação já está elevada. O Brasil se encaixa no terceiro caso.
O risco é que uma desvalorização adicional do real produza uma aceleração da inflação num momento em que o custo de vida no país já aumenta cerca de 6% ao ano.
Isso tende a levar o Banco Central a subir mais os juros, o que afetaria o já reduzido crescimento da economia.
O Brasil já elevou a taxa Selic em 3,25 ponto percentual, para 10,5%. Analistas não descartam novas altas.
A alta dos juros, pelos países emergentes, funciona também para manter sua competitividade na disputa por capitais globais.
Os mais frágeis da lista --Turquia e Índia-- já fizeram isso. Ontem África do Sul subiu os juros pela primeira vez em cerca de seis anos.
Numa atitude aparentemente limite, o premiê turco, Tayyip Erdogan, disse ontem ao jornal "Yeni Safak" que deve anunciar um pacote econômico "fora do comum" nos próximos dias.
A decisão do Fed de ontem, entretanto, passou ao largo da turbulência nos emergentes. Bernanke encerra sua gestão nesta semana e passa o comando do Fed a Janet Yellen.
Segundo Schwartsman, ele sai com o crédito de ter identificado a gravidade da crise nos EUA e agido rapidamente. Mas carregará a controvérsia de ter injetado tantos recursos na economia. Mesmo com os cortes, os EUA ainda estão despejando US$ 65 bilhões por mês no mercado.
"Na minha opinião, os incentivos ajudaram na recuperação dos EUA. Mas há economistas, como Larry Summers [ex-secretário do Tesouro dos EUA], que duvidam da contribuição dos estímulos."

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