Reinaldo Azevedo - VEJA
A
popularidade do presidente dos EUA, Barack Obama, nunca foi tão baixa.
Nesta terça, no chamado discurso do “Estado da União”, anunciou que será
um ano de ação e, como se está vendendo mundo afora, prometeu agir sem o
aval do Congresso caso este não concorde com as suas propostas.
É mesmo, é? Obama agora virou ditador?
Acho que
não. Ora, ele vai agir sem o aval quando isso for possível. O presidente
dos EUA dispõe das chamadas “Ordens Executivas”, que são bem parecidas
com as Medidas Provisórias no Brasil. Obama não será o primeiro
presidente a recorrer a elas, mas sabe que isso implica desgaste. Até
porque, ainda que seja demorado, à medida que ele fizer uma incursão
numa determinada área, a depender do caso, o Congresso pode decidir
votar uma lei específica sobre o tema.
Há
eleições legislativas em novembro. Os republicanos devem conservar a
maioria na Câmara, e se especula que podem conquistá-la também no
Senado, o que reservaria o pior dos mundos para os dois anos finais do
segundo mandato de Obama.
Não sei,
não. Um discurso, assim, meio em tom de ameaça… Será que funciona nos
EUA? Tendo a achar que não. Até porque, pensando pura e simplesmente na
lógica do jogo, a ser essa a disposição de Obama, os republicanos podem
empurrá-lo mesmo para um governo de perfil autocrático — a autocracia
possível nos EUA, o que reforçaria justamente as características nas
quais insiste a direita republicana.
Presidentes
americanos, à diferença dos brasileiros, não dispõem da faculdade de
propor projetos de lei, por exemplo, nem podem vetar parcialmente uma
determinada matéria aprovada pelo Congresso — este, sim, muito poderoso.
O contraponto são as ordens executivas. O problema é que, a depender da
matéria, o que se compra é uma guerra política. Parece que a ameaça de
Obama só faz com que cada um dos lados insista na estratégia já vigente:
o presidente continuará a acusar os republicanos de tentar impedi-lo de
governar; e os republicanos continuarão a acusá-lo de tentações
ditatoriais.
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