sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

EUA crescem e preocupam emergentes
Dado preliminar do PIB de 2013 reforça apostas de que país 'roubará' investimentos dos mercados em desenvolvimento
Presidente do banco central da Índia cobra cooperação externa dos países ricos com os emergentes 
CAROLINA MATOS/ANDERSON FIGO - FSP
O crescimento dos EUA em 2013, divulgado ontem, foi mais um fator para o clima de crise que paira sobre os países emergentes.
A expansão de 1,9% do PIB no ano passado --dados preliminares--, que ficou de acordo com as estimativas, reforçou a percepção de que os estímulos à economia dos EUA sofrerão novos cortes até terminar no fim deste ano.
Considerando apenas o segundo semestre, o crescimento foi de 3,7% --o maior para o período desde 2003 (5,8%).
A informação favoreceu as Bolsas de Nova York --o índice Dow Jones terminou o dia em alta de 0,70%, e o S&P 500, de 1,13% --, mas não os mercados emergentes.
Com menor injeção de recursos na economia americana --o incentivo foi reduzido mais uma vez anteontem--, diminui o dinheiro disponível para investimentos em outros países.
Além disso, com a retomada, os EUA voltam a ser mais atraentes aos investidores em detrimento de mercados considerados de maior risco.
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 0,66%, para 47.244 pontos --menor nível em seis meses.
O preço do dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve um alívio depois de sete sessões seguidas de alta, fechando em baixa de 0,94%, a R$ 2,412, mas ainda sobe 2,16% no ano.
Das 24 moedas emergentes mais negociadas, 13 encerraram os negócios em queda ontem na comparação com o dólar, e, em 2014 até agora, todas caem.
"COOPERAÇÃO"
Nesse cenário, o presidente do banco central da Índia, Raghuram Rajan, cobrou cooperação dos países ricos com os em desenvolvimento, destacando que esses mercados ajudaram a tirar o mundo da crise de 2008.
Ontem, os governos da Índia e da Rússia disseram que vão continuar atuando para manter a estabilidade das suas economias.
A Índia não detalhou as ações e a Rússia informou que vai interferir mais no câmbio para conter a queda do rublo ante o dólar. Neste ano, a baixa é de 5,57%.
Índia, Turquia e África do Sul elevaram suas taxas de juros nesta semana para tentar conter a saída em massa de recursos estrangeiros.
Para economistas consultados pela Folha, as ações dos países emergentes são tardias e paliativas.
Mas André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos afirma que, quanto ao Brasil, "não há motivo para pânico e a reação dos mercados tem sido exagerada".


No Brasil, governo avalia crise como "transitória" 
SHEILA D'AMORIM/NATUZA NERY - FSP
Apesar do alerta com o estresse financeiro dos últimos dias, que abalou a confiança dos investidores nas economias emergentes como o Brasil, a equipe econômica acredita que os movimentos dos mercados refletem muito mais uma "volatilidade passageira" do que "uma crise".
A avaliação de interlocutores do governo é que, por enquanto, a instabilidade está sendo sustentada por uma percepção de que poderia haver uma reversão rápida no crescimento da China, o que poderia ter impacto no desempenho econômico do resto do mundo.
Porém a aposta desses interlocutores é que essa desaceleração mais acentuada da economia chinesa não virá.
Para a equipe econômica, o sistema de financiamento de empresas na China, que sofreu com um recente calote, não será um "novo Lehman Brothers" --um dos maiores bancos dos EUA que quebrou e desencadeou a crise financeira global de 2008, afundando a economia americana e boa parte do mundo.
Nos bastidores, argumenta-se ainda que foi extremamente positiva, e sem surpresas, a decisão do banco central dos Estados Unidos de reduzir de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões a injeção mensal de dinheiro na economia americana.
O discurso oficial insiste na tese de que o Brasil está bem preparado para as mudanças no cenário global.
O argumento é o de que as reservas internacionais no patamar de US$ 375 bilhões dão munição ao BC para conter um maior estresse no mercado cambial, e a dívida de curto prazo é bem menor do que no passado.
O risco de que a volatilidade se alongue muito, o que poderia afetar o crescimento mundial, com repercussões no nível de atividade da economia brasileira, é considerado "muito pequeno".
Interlocutores da área econômica afirmam que, numa eventual crise, os emergentes sofrerão impactos diferentes entre si e terão respostas diversas a esses impactos.
Por ora, as previsões no Ministério da Fazenda para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) seguem imóveis: aproximadamente 2,5% se o pior acontecer. Ou seja: a volatilidade se prolongar.
Integrantes do Executivo não apostam ainda em uma alta mais acelerada da Selic, como tem ocorrido entre emergentes. A avaliação é que o Brasil já estava nesse caminho antes mesmo do recente estresse.

Nenhum comentário: