Rodrigo Constantino - VEJA
A sucessão de malfeitos é inacreditável,
mas isso não impediu que até bem pouco tempo atrás alguns proeminentes
economistas brasileiros os indicassem como exemplo a ser seguido. No
front doméstico, houve elevação da inflação, deterioração da
infraestrutura, enfraquecimento das instituições e queda dos indicadores
de bem-estar social.
Ao mesmo tempo em que as condições de
2003 eram extremamente difíceis, havia uma grande oportunidade para
colocar o país nos trilhos. Teve início o ciclo de alta das commodities
puxado pela China, que muito beneficiou os países produtores. A balança
comercial saiu de uma situação de forte déficit.
As condições para a estabilidade estavam
dadas. Bastava uma política de austeridade fiscal, combate à inflação e
câmbio flutuante. No entanto, o governo enveredou-se por um caminho
errado. O câmbio foi novamente usado como âncora para combater a
inflação. A política fiscal cedeu ao populismo, com gastos crescentes. A
inflação foi encarada como mal menor. As taxas de juros se mantiveram
muito baixas, artificialmente.
Com o tempo, outras distorções foram
sendo introduzidas na economia. Os preços administrados foram fortemente
subsidiados, com destaque para a energia elétrica. O resultado, como
não poderia deixar de ser, foi a queda dos investimentos. O governo
passou também a adotar uma postura de confronto com os empresários.
As arbitrariedades não param por aí. O
instituto nacional de pesquisas foi loteado e passou a falsificar
estatísticas. Resultado: ninguém confia mais nas estatísticas oficiais.
Não se sabe ao certo o tamanho da inflação ou quanto cresce a
economia. O Banco Central também está sendo usado para fechar as contas,
em uma típica operação de impressão de moeda para financiar a dívida
pública. Causa espanto como a inflação não acelerou para níveis ainda
mais altos. Isso se deu provavelmente por causa da âncora cambial.
O texto acima são trechos retirados da coluna do economista da JGP Fernando Rocha, publicado
no Valor nesta quinta. De quem ele está falando? Parece claramente que
fala de nosso Brasil, certo? Errado. Está relatando a desgraça que se
abateu sobre nossa vizinha Argentina, cujo populismo do casal Kirchner
afundou sua economia no caos.
Rocha conclui seu alerta: “A sucessão de
eventos parece um pesadelo, mas tudo isso poderia ter sido evitado. A
Argentina é o exemplo de como o populismo político, aliado à má condução
da economia, pode levar ao retrocesso um país cheio de potencialidades,
rico em recursos naturais e com um povo relativamente educado. Que nos
sirva de lição.”
Resta saber: servirá?
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