Como uma genuína austeridade gera crescimento econômico
Peter St. Onge - IMB
O
termo "austeridade" continua sendo utilizado na Europa. E a Alemanha continua sendo criticada por
promover essa visão. Afinal, a
austeridade pode fazer uma economia crescer?
Em
primeiro lugar, é necessário deixar claro alguns conceitos. A palavra "austeridade" normalmente é
utilizada para descrever duas coisas totalmente opostas e contraditórias:
reduzir os gastos do governo ou elevar impostos.
Por
que essas duas medidas são opostas?
Porque reduzir gastos do governo significa que menos recursos escassos
da economia serão apropriados pelo governo; significa que haverá mais recursos
disponíveis para pessoas e empresas.
Quando
o governo gasta, ele está consumindo bens que, de outra forma, seriam
utilizados pela população ou mesmo por empreendedores para fins mais úteis e
mais produtivos. Bens que foram poupados para serem consumidos no futuro
acabam sendo apropriados pelo governo, que os utilizará sempre de forma mais irracional
que o mercado, que sempre se preocupa com o sistema de lucros e
prejuízos. Portanto, os gastos do governo exaurem a poupança (por
''poupança'', entenda-se ''bens que não foram consumidos no presente para serem
utilizados em atividades futuras'').
Logo,
uma redução nos gastos do governo permite que haja mais recursos disponíveis na
economia.
Já
uma elevação de impostos significa o contrário: mais recursos da economia —
principalmente o capital de pessoas e empresas, que seriam utilizados para
consumo e investimento — serão apropriados pelo governo.
E esse é justamente o cerne da questão: deveríamos dar mais ou
menos recursos para o governo?
Como
na fábula em que o
escorpião dá uma ferroada no sapo, keynesianos sempre inventam razões para
explicar por que gastos do governo são bons para todos. Um de seus principais argumentos é o de que é
"impossível alcançar a prosperidade cortando".
Como todas as propagandas, essa afirmação é enganosa — austeridade não
é sobre "cortar"; é sobre transferir. Mais especificamente, retirar o controle de
recursos produtivos de burocratas e transferi-los para indivíduos e empresas.
Vamos
analisar os argumentos keynesianos. Segundo
eles, os gastos do governo são bons para todos — o que significa que a
austeridade baseada no corte de gastos é ruim — porque esses gastos
governamentais criam um "efeito
multiplicador". Sendo assim, cada $1
gasto pelo governo cria, digamos, $2 de valor.
Isso
de fato seria ótimo — e está na mesma categoria dos unicórnios, do
moto-perpétuo e do sorvete grátis para sempre. Tal raciocínio implica que o colapso da União
Soviética permanece sendo um mistério econômico, uma vez que o sistema
soviético deveria estar repleto desse multiplicador produtivo.
Para
refutar essa ideia de multiplicador, nem é necessário entrar em detalhes
técnicos. Aliás, podemos inclusive supor
que de fato exista tal multiplicador.
Basta apenas dizer que qualquer multiplicador que porventura possa
existir é necessariamente cancelado pelo "multiplicador negativo", uma vez que
os recursos necessariamente tiveram de vir de algum lugar. Assim, se você dá $1 para o governo, você
necessariamente ficou com $1 a menos, o que significa que você agora terá menos
$1 para gastar no restaurante. Ambas as
unidades monetárias possuem um "multiplicador" em direções opostas. Elas se cancelam.
Tchau,
sorvete grátis.
Porém,
tudo ainda piora: ha fortes motivos para crer na existência de um multiplicador
negativo. Ou seja, o governo confisca via impostos $1 e
o transforma, digamos, em $0,80. Ou até
mesmo em $0,05. Por quê? Porque o governo é extremamente eficaz em
desperdiçar recursos.
Apenas
pense na economia real — em suas "microfundações", como dizem os
teóricos. A produção não é um fenômeno
que cai do céu. Ao contrário, a produção
é feita de recursos — fábricas, matérias-primas, trabalhadores,
empreendedores, concreto e aço. Esses
fatores são combinados de modo a gerar bens de consumo ou bens de capital. Ou eles podem simplesmente ser poupados para
serem utilizados no futuro. Isso
significa que há apenas 3 ações que você pode fazer com um recurso produtivo:
consumi-lo, investi-lo ou poupá-lo para uso posterior.
Simultaneamente,
há apenas três categorias de pessoas para fazer alguma dessas ações (consumir,
investir ou poupar): indivíduos consumidores, indivíduos empreendedores ou
indivíduos políticos/burocratas.
Portanto,
todo o debate sobre se austeridade é bom ou ruim é simplesmente um debate sobre
se os governos são melhores gerenciadores de recursos. Só isso.
Os governos farão investimentos mais sensatos e mais produtivos? Os governos irão poupar recursos de maneira
mais prudente que indivíduos e empresas?
A
menos que você tenha acabado de chegar de Marte, você já sabe a resposta:
governos são inacreditavelmente ineficientes e esbanjadores. É impossível que "investimentos" do governo
sejam eficazes (ver detalhes aqui, aqui e aqui) e é irreal
imaginar o governo como um "poupador prudente".
Sendo
assim, se o governo é um péssimo gerenciador de recursos, conclui-se que cada
recurso que conseguimos impedir que seja apropriado pelo governo nos torna mais
ricos. Tendo menos recursos, o governo
fará menos guerras, dará menos subsídios a empresas, e financiará menos grupos
de interesse. Em vez disso, esses
recursos serão utilizados por indivíduos em investimentos mais produtivos, mais
prudentes e mais sensatos. E será assim
porque essas pessoas estarão utilizando seu
próprio dinheiro, e não um dinheiro que foi confiscado de terceiros.
Essa
definição de austeridade — os recursos devem ficar com indivíduos e empresas
em vez de serem entregues ao governo — implica que a austeridade fará crescer
a economia, e não que irá encolhê-la. No
entanto, se a "austeridade" se basear meramente em aumento de impostos, como
está ocorrendo na Europa, então de fato não está havendo austeridade
nenhuma. Ao contrário, está havendo o
oposto de austeridade.
Cortar
os gastos do governo, permitindo que indivíduos e empresas tenham mais recursos
à sua disposição, é o caminho mais sensato para a prosperidade.
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