Alfredo Meza - El País
Palácio Presidencial da Venezuela/ANV/Xinhua
2.set.2014
- O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, participa de pronunciamento
em cadeia nacional de rádio e televisão, no Palácio Miraflores, em
Caracas
O presidente da Venezuela, Nicolás
Maduro, acusou Washington de provocar a queda dos preços do petróleo. É
uma alegação que transcende a rejeição habitual do chavismo diante da
conduta imperial dos EUA para se ancorar em argumentos geopolíticos. As
companhias de petróleo americanas, explicou o governante, estão
utilizando "um método selvagem" para extrair petróleo de xisto, "com um
custo impagável para o planeta, pelo desespero de ter o controle
energético".
A oferta excedente prejudica o governo venezuelano
porque Maduro, assim como seu antecessor, Hugo Chávez, apostou todas as
suas fichas na estratégia de manter elevado o preço internacional de seu
principal produto de exportação para financiar seu projeto político
estatal.Em 15 anos pouco se fez para aumentar a produção de petróleo – que não passa dos 3 milhões de barris diários que já eram produzidos em 1998, antes da "revolução bolivariana" – e atribuíram-se à Petróleos de Venezuela (PDVSA) responsabilidades diferentes de seu negócio. A principal empresa da Venezuela, que contribui com 96% das receitas fiscais, é também a pequena caixa da Grande Missão Moradia Venezuela, o programa maciço de construção de habitações para os atingidos pelas cruéis inundações de 2009 e 2010, e de todo o gasto social do governo.
Com o aparente fim da época de ouro dos preços altos – a cesta venezuelana (o preço médio do barril) fechou na semana passada em US$ 75,90 (62,30 euros) –, também chegaram mudanças na estratégia geopolítica venezuelana. Segundo os analistas, em uma aparente demonstração de raciocínio, Caracas já começou a cortar as remessas à Petrocaribe, a aliança energética fundada por Chávez em 2005 para vender petróleo a prazo e com juros baixos ou trocá-lo por bens que não são produzidos no país. Os dados mais recentes indicam que as exportações para países signatários desse e de outros acordos se reduziram em 106 mil barris durante o segundo trimestre de 2014.
Se esse corte afeta ou não a tutela que Caracas exerce sobre as ilhas do Caribe oriental e alguns países da América Central nos fóruns hemisféricos é um assunto que está para ver. A analista internacional Elsa Cardozo acredita que sim: "Esse golpe será muito maior que os anteriores porque hoje a diplomacia depende em medida muito maior das receitas do petróleo".
Maduro não enfrenta um cenário tão catastrófico quanto no passado, mas é preocupante.
Ele tem o que Cardozo chama de força do credor para continuar exercendo sua influência. Em um artigo publicado em "El Nacional", o economista Leopoldo Martínez calculou que no marco do acordo da Petrocaribe, República Dominicana, Jamaica e Bahamas devem ao todo mais de US$ 21 bilhões. São os principais devedores de uma área que contraiu compromissos com a Venezuela de mais US$ 25 bilhões.
A firma Barclays calcula que para cada dólar que diminui a cotação do barril Caracas deixa de receber em seus cofres US$ 728 milhões. Em um ano, segundo estimativas do Bank of America, poderia deixar de contar com US$ 10 bilhões. A outra opção para cumprir seus compromissos internos seria recorrer aos mercados internacionais, mas o governo descartou essa possibilidade devido aos custos crescentes do endividamento pela deterioração na percepção do risco creditício. "Não vamos pedir crédito nessas condições que a banca mundial capitalista quer impor", disse Maduro. "Não vamos fazê-lo. Temos outras fontes, felizmente."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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